Preservar os casarões antigos é preservar a nossa
história. Contudo, pouco resta do que havia. Essa é uma reflexão profunda sobre
o valor histórico, cultural e estético das edificações que permanecem na
memória coletiva. É possível contar nos dedos as que ainda estão de pé. A
preservação desses casarões é essencial para manter vivas as narrativas do
passado, fortalecer nossa conexão com a história e promover uma apreciação
consciente de nossa herança cultural.
Em Rio Verde, um dos casarões mais simbólicos é o
Palácio da Intendência. Este imponente edifício, que já serviu como cadeia
pública, foi palco de eventos históricos significativos, como a prisão do
ex-governador de Goiás, Pedro Ludovico Teixeira, durante a Revolução de 1930.
Tombado em 14 de junho de 1984 como Patrimônio Histórico e Cultural por meio da
Lei Municipal nº 1913/84, o palácio foi construído em meados de 1885 por
Antônio Furquim de Campos, Joaquim Rodrigues de Abreu e Mizael José de Castro,
na época da elevação do povoado de Nossa Senhora das Dores.
A estrutura original, feita de pau a pique com
reboco de estrume, escondia um alçapão que levava à cela de segurança máxima,
além de celas destinadas a pequenos delitos e uma cela feminina. O andar
superior, que servia como Fórum, ainda guarda memórias das sessões do Júri.
Essas paredes, que testemunharam tantos momentos históricos, são um convite à
reflexão sobre o que perdemos e o que ainda podemos preservar.
O Palácio da Intendência é, portanto, mais do que
um simples edifício; é um monumento à memória coletiva de Rio Verde. Ele nos
convida a olhar para o passado de forma crítica, a compreender as lições que a
história nos deixou e a lutar pelo que ainda pode ser salvo.
Na Praça Padre Mariano, esquina com a Rua Nilo
Peçanha, onde o tempo parece fluir de maneira diferente, um casarão se destaca
por sua presença majestosa. A casa de Ambrosina Cândida da Silveira Leão,
erguida por volta de 1895, é uma das últimas a conservar a arquitetura da
época. Durante a Revolução de 1930, abrigou figuras importantes como Pedro
Ludovico e o senador Martins Borges. A história do Brasil, marcada por
transformações e desafios, encontrou abrigo em seus cômodos.
O tombamento desse imóvel, oficializado pelo
Decreto nº 0133/2014, foi um passo essencial para garantir que o valor
histórico e cultural do local seja preservado para as futuras gerações. A casa
de Ambrosina é um símbolo de resistência. Em um mundo que avança a passos
largos, onde o novo muitas vezes se sobrepõe ao antigo, é fundamental que
preservemos esses espaços que nos conectam às nossas raízes.
Outro casarão imponente e repleto de histórias
está localizado na Rua São Sebastião. Ele pertenceu a Frederico Gonzaga Jayme,
conhecido como "Major" Frederico. No final do século XIX, ele
adquiriu a obra inacabada para fundar a Casa Jayme no térreo e estabelecer sua
residência no andar superior. Frederico Jayme foi intendente municipal por dois
mandatos, de 1903 a 1907 e de 1927 a 1930. Durante sua primeira gestão, foi
responsável pela construção do cemitério, que hoje leva o nome de São Miguel.
No entanto, o casarão histórico ainda não foi oficialmente tombado, e é
necessário discutir qual será o seu futuro.
O tombamento é um ato de reconhecimento do valor
cultural de um bem, transformando-o em patrimônio oficial e instituindo um
regime jurídico especial de propriedade, que leva em consideração sua função
social. Cada casarão preservado é um fragmento da nossa memória coletiva, um
lembrete do que fomos e do que podemos ser.
Assim, ao olharmos para esses casarões, somos
convidados a refletir sobre a importância de manter viva a história que eles
representam. Que possamos, portanto, valorizar e cuidar desses patrimônios,
pois eles são mais do que paredes e telhados; são testemunhas silenciosas de um
tempo que não deve ser esquecido.