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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Um estabelecimento chamado ‘Pregão’


Fábio Trancolin


Em São Paulo, no Bairro da Santa Cecília existe o comércio de móveis usados conhecido como “Lixão”, nesse local encontram peças raras e a beleza da decoração, o que para uns é velharia para outros é pura arte. Esse comércio é antigo e uma prática muito utilizada. Em 1978 o pai em parceria com um ‘amigo’ resolveram colocar o comércio de móveis usados em Rio Verde, e denominaram de Pregão (o pai foi o primeiro na cidade). Os moldes seria no mesmo da Santa Cecília, só que aqui não tinha muita arte, eram mais utensílios domésticos, que as pessoas por vários motivos descartavam e vendiam.

O Pregão foi instalado na Rua Costa Gomes, 617 (hoje é a Divipiso). E foi decidido que além de ter os móveis usados, também, teria móveis novos que o pai fazia, ele era exímio marceneiro fabricava as famosas salas de jantar, que a alta sociedade da época adorava e muitos colocaram em suas casas a beleza da arte da madeira, alguns ainda conservam em suas residências essas peças. O comércio foi aumentando e melhorando, tinha de tudo ali amontoado. E descartavam de tudo, o que para uns era empecilho, para outros era luxo. E tinha os que vendiam pela necessidade, muitos viam vender e desfazer de bens, às vezes, para comprar remédios, enterros, pagar as contas e até comer. Esse era um ponto que desagradava o pai, ver pessoas se desfazerem dos móveis para isso. 

                                                                                          Foto ilustrativa
A ‘loja’ prosperava, porém um dia o ‘sócio amigo da onça’ do pai, fugiu, escafedeu, desapareceu... Deram notícias de que ele tinha adquirido uma Brasília Zero Km, e simplesmente foi embora, o dinheiro da aquisição do carro, imagina de onde ele tirou... Assim o ‘pregão’ ficou no prego, e baixou as portas. Então o pai teve outra sociedade, abriu outro, dessa vez o endereço era na esquina da Augusta Bastos com a Laudemiro Bueno (hoje é a Papelaria Faria/Portinari). O pai cuidava da marcenaria e o sócio da tapeçaria, esse no tempo em que esteve aberto foi muito bem, porém por falta de tempo na dedicação do empreendimento, ele fechou mesmo sendo um sucesso, bons tempos aqueles.

O pai fez outra tentativa dessa vez em frente ao Colégio do Sol, na Rua Goiânia, o sócio foi um sobrinho, o Hélio, as entregas eram feitas numa carroça, porém o cavalo sumia umas duas vezes por semana, coincidência ou não, todas as vezes quem encontrava o ‘fujão’ era sempre o mesmo cigano, e tinha que dar uma recompensa para ele... A última tentativa foi com outro sobrinho o Hélcio, dessa vez foi no Bairro Popular, na Rua 19, hoje o espaço é utilizado pelo Supermercado Economia, que naquela época era apenas o Armazém do Seu João, era uma parte da cidade carente e esquecida no inicio da década de 80, era chamado de forma pejorativa de ‘Vilinha’, bairro distante e que sofria certa rejeição da parte central da cidade. Hoje, o Bairro Popular é independente valorizado e comércio forte.

No final da década de 70, meu pai idealizou e não prosperou, então ele preferiu só fabricar móveis para os pregões da região que começavam a propagar, nós vendíamos camas, mesas e cadeiras, e as cantoneiras (usava-se muito naqueles tempos para colocar o filtro, hoje nem sei se utiliza mais...) para Santa Helena e Quirinópolis, a marcenaria fabricava a semana toda e na sexta ou sábado eles viam buscar a produção da semana. Isso durou até 86.

                                                                         Foto ilustrativa: Torno Invicta
No início de 87, eu coloquei fim na marcenaria vendendo a última máquina, a derradeira peça a nos deixar foi o Torno Invicta. Tínhamos a Circular, a Furadeira, a Tupia e a Plaina, e todas elas foram vendidas para o Orlando. O torno era especial, ele muito nos ajudou, nos períodos difíceis ele sempre nos amparou. Quantas e quantas peças o meu irmão torneou, esse trabalho fez dinheiro que chegava em momentos complicados, e sempre tinha algo para o formão desbastar. Recordo-me no momento em que fechei negócio com o Orlando, entregando-lhe a máquina e recebendo Cr$ 30,000, quantia insignificante para o valor que ele tinha...  Ali finalizava a marcenaria que nos proporcionou estudos, alimentação e tudo mais... O cheiro da cerejeira, da peroba rosa, do jatobá, a serragem acumular, o verniz e da cola ‘fórmica’ invadia as narinas... O sonho de madeira acabou e o cheiro ficou na lembrança de menino que foi criado no meio da arte do entalho e do retoque da lustração. 



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