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segunda-feira, 31 de março de 2014

Os tombos na infância


Fábio Trancolin

Voltando no tempo da imaginação, numa máquina inventada pelo “Professor Pardal”, e como numa página de gibi, aterrisso numa manhã de outono dos anos da bela infância... Na minha memória, as lembranças estão sempre borbulhando e convidando a voltar nos bons tempos da liberdade dos portões abertos, sempre escancarados à espera dos amigos... Sempre pronto para aprontar alguma, não conseguia sossegar e ficar parado, era movido a estripulias, e menino arteiro é criativo sempre inventa. 


Nas noites das ruas sem asfalto, da iluminação fraca do poste de madeira, na dança do fogo do “Bombril”’ na roda em chama iluminava o cabelo da menina, colocava bombinha debaixo da latinha só pra vê-la subir... Como ela ia alto... No pique-esconde, “pega a bandeira”’, “pega ladrão”... “Balança você, balança caixão...” Nos tempos de apertar campainhas e desligar relógio era farra na correria e alegria. Não era maldade, digamos que era uma felicidade na brincadeira ingênua. O tempo passou e a “maldade” cresceu e se transformou...

Quando eu morei no casarão branco de portas e janelas de madeira vermelha... Nos quintais de variedades frutíferas, manga, caju, goiaba (branca e vermelha) e jabuticabas, eram oito pés das “bitelas” pretas, quando os pés carregavam a molecada juntava e, numa dessas manhãs, eu e os amigos estávamos no alto dos galhos no plic, ploc, eu só lembro-me de ver uma enorme, tentar alcançar e mais nada lembrar... Os amigos (Mario, Cleber, Chininha, Murilo e o Jairinho) contam, que despenquei do alto da jabuticabeira e do jeito que caí, fiquei... Eles entram em desespero, não tinha ninguém em casa, me carregaram (sabe lá de que jeito) e me colocaram no sofá... Quando despertei meia hora depois do sono profundo, todos ao meu lado com cara de assustado. A mãe me abanava e esfregava álcool nos braços. O susto foi grande, passei o dia com uma “baita” dor de cabeça, e um tanto quanto tonto... 

Outro susto proporcionado por outra queda de árvore foi numa manhã de domingo. A molecada como sempre se reunia na quadra do Tiro de Guerra, e ao lado da quadra tinha um grande pé de amora, e quase sempre estava carregado. Lá estávamos nós na colheita das enormes e suculentas ‘roxas’. Tinha um monte de menino “trepado”, eram muitos, quando um dos soldados disse que o sargento tinha proibido e era pra todos descerem, assustou a todos, o tal do ‘reco’ é um cara chato, e começou com as ameaças, e disse o sargento vem vindo, pode correr... Os que estavam mais acima começaram a gritar, desce, anda, corre... E numa dessa de tentar acelerar, desci direto e caí em cima do braço, que literalmente dividiu o “rádio”, não chegou a ficar exposto, mas dava para perceber a gravidade... Pegaram-me com cuidado, tinha pelo menos uns três segurando o braço, que assustava quem olhava para fratura... Chegando lá em casa, lá vem o pai nervoso, “mas não é possível, o que você aprontou dessa vez?...” Só respondi caí... 

Fui levado para o Hospital Evangélico, chegando lá não me atenderam. Na porta o Valdemar da sapataria nos colocou dentro do corcel II, e nos levou para o Santa Terezinha. Quem me atendeu o foi o Doutor Vicente Guerra, eu só ouvia, não falava, mas escutava, “talvez vai ter que puxar para colocar no lugar, e se acontecer vai doer...” Mas não foi preciso. Nunca tinha quebrado nada, aquela foi a primeira vez (tiveram outras depois), voltei para casa com o braço “encanado”, um monte de amigos à espera. No outro dia, tive que voltar para o hospital, teve que trocar o gesso, o braço inchou e apertou... Ai doeu... Na escola, o gesso fez sucesso, todos queriam escrever. A fratura não me afetou nos estudos, pois eu quebrei o esquerdo, a escrita é destra. O mês era o outubro, mês das crianças, a escola nos levou para brincar no Módulo esportivo. Então eu senti ter quebrado o braço... A professora Dona Lena estava preocupada comigo, ficou de olho e a coordenadora a Dona Lenilda, também, não joguei futebol (apitei o jogo), não brinquei de corrida do saco, nem na prova da corrida da colher, tudo para o “quebrado” estava proibido, só podia comer as guloseimas ofertadas, o resto eu só observei... Pensa num menino triste. E ainda esqueci o lenço que servia de tipoia, a mãe ficou uma “arara”, o lenço era dela e, muito bonito por sinal. 

O período previsto para a imobilização era de 30 dias, e num sábado à tarde, 27 dias após a queda, o pai mergulhou o gesso no tanque e tirou, queria porque queria jogar no domingo de manhã, não joguei, o braço afinou e ficou frágil, e para não sofrer outro acidente tive que esperar... Outros acidentes de menor proporção aconteceram, e tudo entrou para história e, assim, eu vou contando...





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