Fábio
Trancolin
A arte da madeira |
A arte de trabalhar a madeira é muito antiga, essa arte é uma profissão
ancestral, José o pai do Mestre Jesus tinha o oficio de marceneiro. A marcenaria é
o trabalho de transformar a madeira em objeto útil ou de decoração. Esse
profissional deve possuir o dom da criatividade e saber desenhar, além de ter
um vasto conhecimento do uso de ferramentas. O lado artesanal da marcenaria ao longo do
tempo foi perdendo o espaço, os chamados móveis projetados feito em MDF (Médium
Density Fiberboard) que traduzido ao pé da letra quer dizer (Media Densidade Fibra de
madeira), ganhou espaço e dominou o mercado e também as lojas de
eletrodomésticos no 20 vezes sem juros fez com que as marcenarias perdessem espaço.
Onde hoje esta
localizada o Colégio Oscar Ribeiro era a marcenaria do Ginásio, minha infância
foi ali... Cresci nesse mundo de serragem misturada com verniz, serra circular, a
plaina e a tupia, a furadeira e no torno a forma arredondava. Serra de fita
fatiava, cola branca, ‘formica’, compensado, martelo martelava no barulho constante,
formão, os esquadros. Chave de fenda, pregos 10x10, 15x21... Taquear com
serrote... Fresa e a broca, lixa fina, lixa grossa de ferro e madeira... A
‘boneca’ deslizava na ‘goma laca’, vigota, caibro, prancha. Xadrez preto e
vermelho misturado à tonalidade. Remendava serras de fita, improvisava e
inventava, e reutilizava. Apertava tudo no ‘sargento’ (só quem esteve nesse
universo saberá o que é um sargento)...
O barulho da circular, o som estridente no engasgo da serra no gomo da
madeira ‘segura ai’, empurra outro na ponta amparava. Na Tupia desce e sobe,
mede e desfia, regula, marca de novo. Na furadeira, aperta regula a altura no
vai e vem à broca perfura, tira vira, e de novo outro furo, a marca do lápis no
esquadro do risco na passa. Põe o lápis vermelho na orelha, um pede emprestado
o metro, de um e de dois metros de bambu quebra fácil cuidado na vai quebrar,
esse é novo... O torno peça quadrada é apertada e ela começa a girar, a goiva
desbasta junto com o formão, aprofunda fino e grosso conforme a necessidade, e
as formas se fazem...
Esses nomes fizeram parte da minha infância, Cerejeira (ela era nobre,
adorava o cheiro dela), Mogno, Cedro, Jatobá, Sucupira, Jacarandá, Cedrinho, Angico,
Imbuia, Cambará, Peroba, Garapa, e Marfim, e os vários Angelins, tinha aquelas dos
cheiros ruins, nada se comparava a Canela-bosta, o nome já dizia tudo... Os Ipês
roxo, amarelo e rosa... Quem não ouviu falar de Guatambu...? Ouvia o pai dizer
que adorava trabalhar com Caviúna... E outras tantas ali foram transformadas em
arte. O pai foi marceneiro de primeira, entalhava, torneava e inventava... Meu
irmão mais velho (Jairinho) seguiu o mesmo ofício.
Quem esteve nesse universo da transformação da madeira não esquece o
cheiro. Dos montes de serragens sendo recolhidos pelas lavadeiras, e o cheiro
do verniz e o perfume de algumas madeiras que invadiam o ambiente. As bancadas
e os cavaletes... O guarda roupa, a cama de solteiro e a de casal (porteira e
torneada) a mesa com quatro cadeiras, e a sapateira, algo que não se ouve mais,
cantoneira... No canto de alguém ficou...