Fábio
Trancolin
Muitas
vezes fui no “Depósito do João Uberaba” comprar feijão, sabão e outras coisas
mais, lá se encontrava quase tudo. Era uma mistura de vários cheiros,
querosene, cimento e café. O Seu João sentado na mesa do canto, sempre com a
cara fechada, era desse jeito que eu sempre o via. Dos funcionários, lembro-me
do “japonês”, e o “Campeão” um rapaz atencioso que sempre nos atendia com um
sorriso no rosto e cordialmente. Algumas histórias contam a respeito do apelido
de “Campeão”, uns dizem que ninguém conseguia descarregar um caminhão de
cimento tão rápido quanto ele, outros afirmam sobre a rapidez nos cálculos. E,
foram várias vezes que ele me atendeu. Certa vez, eu escorreguei no piso
encerado com querosene e serragem e bati com queixo no latão de 200 litros em
que ficava o feijão, não chegou a cortar, mas doeu muito. Ele ficou preocupado
com o acontecido. O João nem viu o acontecido...
O
tempo passou e esse rapaz, abriu o próprio negócio, na esquina da Rua Costa
Gomes com a Rua Joaquim Vaz do Nascimento. Ali ele começou a vender no pequeno
depósito batatas e outras especiarias e, com a Kombi, saía pela redondeza nas
entregas. O ano era 1984. Nascia ali o Comercial Campeão. Passando um pouco,
ele muda para o meio do quarteirão na Joaquim Vaz, agora eram duas portas o
espaço era um pouco maior e os “secos e
molhados” aumentavam a variedade nas prateleiras. Aqueles cheiros
tradicionais característicos desses armazéns nos transportam ao cheiro de
infância, quando as crianças acompanhadas dos pais entravam nos
estabelecimentos, pois sabíamos que ganharíamos algo no final. Bala de goma,
bala Neusa, e a ‘terrível Soft’ que era uma delícia, uva, limão, morango e
laranja... Roda baleiro, roda baleiro... O odor de fumo de corda e das cordas,
vara de pescar e o cheiro de querosene que invade as narinas da lembrança.
Assim,
era o comercial, o atendimento diferenciado e sempre preferencial. E no estilo
do jogo ‘Banco imobiliário’, ele foi comprando um pedacinho aqui, o lado foi
sendo absorvido e a estrutura do empreendimento cresceu. Mudei de cidade e, nas
vezes, que aqui estive, passei por lá. Quando voltei, ele não era apenas um
armazém e, sim, um supermercado. O cheiro havia mudado, mas o ambiente te
aconchegava. Ele foi crescendo, aumentando, mas, o carinho do idealizador
sempre foi o mesmo, sempre foi enorme. O sorriso e o aperto de mão nunca
mudaram. Só quem o conhece, entende essa energia positiva que é gerada, e de
onde vem todo esse sentimento e a bondade, sempre colocou o ensinamento do
Mestre à frente de tudo. Cada tijolinho assentado e um novo funcionário
registrado, a energia só aumenta. Os lados alargaram, e foi adquirida a frente,
e o empreendimento a outros bairros chegou.
Fui
trabalhar na Gráfica do IAM – Instituto de Assistência ao Menor, do qual o
Campeão era um dos bons (quem sabe o melhor) clientes, muitas coisas, e algumas
ideias juntos tivemos. Nesse período, o nome mudou, saía o “Comercial” e
passava ser “Campeão Supermercado”. Sempre fiz questão de comprar ali. E onde
eu trabalhei, eles foram meus parceiros, eu que implantei o crachá de ponto,
quando trabalhava na Imagem Comunicação, pesquisas e todas as campanhas de
natal, dia das mães e outras mais das quais participei, na minha lista ele era
o principal cliente.
E a
nossa parceria fortaleceu ainda mais, quando vim fazer parte do quadro de
funcionários da empresa. Grata satisfação fazer parte dessa família. E, por
dois anos, ali estive. O meu primeiro texto que foi publicado era uma
referência a um dos seus projetos “Campeão socioambiental”, o segundo, também
falava dele. “Um pequeno espaço que nos primeiros anos de vida era apenas 95
m², e contava com dois funcionários... “, e um deles ainda presta serviço por
lá, o querido Senhor Corrêa com mais de 80 anos. Tantos outros tiveram a
oportunidade de alguma forma participar desse crescimento, muitos há vários
anos ali estão, começaram como aprendiz, e hoje exercem funções de destaque
dentro da empresa. E, 30 anos depois, o pequeno cômodo cresceu, e cresceu
muito, expandiu... Muitos ali eu chamo de irmãos, e entre eles está o “rapaz
atencioso e que sempre nos atendia com um sorriso no rosto e cordialmente...”.