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domingo, 3 de janeiro de 2016

1976... Feliz ano velho!


Fábio Trancolin


Para começar essa história relembro alguns fatos que marcaram a época a ser citada, eu adoro histórias, fatos, lembranças, e, é claro, recordar. O ano em questão é 1976. Naqueles tempos eu o via como mais um ano, entra ano e sai ano. Para um garoto de sete anos, tudo era tranquilo na ordem da sequência que a vida conduz. Na visão da doutrina a qual eu sigo, diz que o processo reencarnacionista estará consolidado aos sete anos. Então o ano começou eu estava consolidado no proposto para ao qual eu vim. 

Morávamos na Rua Afonso Ferreira, quase esquina com a Augusta Bastos. Tempos bons, não via maldade, problemas ou falta de qualquer coisa. Tudo nos era ofertado na medida que o pai podia, sabe que era muito, mesmo sendo pouco. Televisão nos divertia, fascinava e ‘prendia’. Os desenhos Hanna-Barbera nos encantava. Algumas novelas merecem ser citadas, elas fizeram sucesso naquele ano, e são inesquecíveis: Saramandaia, O Casarão, Estúpido Cupido e a Escrava Isaura. As músicas daquele ano, que hoje ainda estão na Play List, Meu mundo e nada mais, Guilherme Arantes; Nuvem passageira, Hermes de Aquino; Sobradinho, Sá & Guarabira, Pavão misterioso, Ednardo, Roberto cantava “Os botões da blusa que você usava, e meio confusa desabotoava”, Raul dizia que nasceu há dez mil anos atrás, Rod Stewart navegava na bela ‘Sailing’, Elis cantava “É você que ama o passado e que não vê... Que o novo sempre vem... Na linda canção, ‘Como nossos pais...’ Nesse ano nasceu uma das maiores bandas de rock, o U2. Em 76, Juscelino o presidente da construção foi embora. A musa Ângela Diniz também partiu. Não posso deixar de citar o título paulista do Alviverde Imponente, que depois desse, amargaria uma fila de dezesseis anos de seca. 


Depois de ter citado esses acontecimentos, aqui começa a minha história, venho falar de um fato que aconteceu naquele ano, foi um dia após eu completar oito anos, era 7 de setembro. Dava início as obras da Associação Procáritas, a edificação fora doada pelo Anjo bom, a Dona Marieta. Os confrades da Doutrina Espirita reuniram e deram início ao que viria ser o Sanatório Espirita Dona Marieta, nessa reunião estavam presentes, Paulo Campos, Allan Kardec Ferreira, José Costa Martins, Orcalino Ferreira, Antônio Martins, Humberto Ferreira, Alípio Gouveia e Antônio Martins, sendo o “Seu Antônio” o primeiro Diretor da instituição, a frente dela ficou por quase 30 anos, só deixando o trabalho que por tantos anos com amor fizera, quando voltou para o Plano Maior. E ali os amigos do Plano Invisível, auxiliaram por quase 40 anos uma equipe dedicada que amparou os irmãos com distúrbios e transtornos psicológicos, mentais e espirituais.


A palavra sanatório na sua etimologia vem do latim, sanare.  É o lugar onde são internadas as pessoas que precisam de tratamentos para serem "saradas", vem de sanar. É conhecido popularmente como um local para identificar o lugar onde são sanadas as enfermidades mentais. A alguns anos o nome de sanatório caiu em desuso, sendo assim, depois de tantos anos o lugar amigo passa a ser chamado de CLÍNICA ESPÍRITA CAMINHO DA LUZ. E no dia 28 de dezembro 2015, as portas fecharam, para não mais abrirem. Terminou o trabalho, a casa infelizmente não dispõe de recursos financeiros, para manter as normas exigidas. Ali eram auxiliados os necessitados da cidade e também da redondeza, que buscavam amparo. Durante esses anos, inúmeros foram as famílias que buscaram socorro, quantos desesperadas, sempre quem procuraram as portas, ali sempre teve o auxílio, uma palavra de carinho e nunca ninguém voltou sem ser socorrido.

Seu Antônio
Quando menino por ali passava e via os pacientes nas janelas pedindo cigarros, ou apenas um OI. Outros um tanto exaltados, gritavam, pediam para irem embora. Na cabeça sempre vinha, que para auxiliar aquelas pessoas, alguém com muita paciência era necessário. E sempre teve ali essas pessoas, elas venceram os desafios com fé, coragem e determinação.

Dona Marieta
Terminou o auxílio, o cheirinho delicioso que vinha da cozinha, que ficava ali nos fundos da rua Rafael Nascimento, o cheiro sempre convidativo, esse aroma invadia as narinas, também não vai ter mais... Os trabalhadores da última hora partiram, os pacientes que tinham famílias, devolvidos foram, a meia dúzia que sem morada ali estavam estabelecidos, amparados por mãos amigas estão. A família Martins que dedicou a vida a instituição de olhos marejados, acreditam que a parte que o Pai Maior lhe pediu foi feita. No Plano Espiritual os que contribuíram para edificação, oram e pedem vibração, vibração que nunca faltou a casa de amparo, que tanto fez por aqueles que pelas provações da mente, da obsessão tiveram que passar... Não sabemos o que o futuro nos reserva, mas o passado não esqueceremos, todo o bem que a CASA fez no tempo em que as portas abertas estiveram... Sabe, 76 foi um ano bom... Feliz ano velho!