Fábio Trancolin
Várias
brincadeiras marcaram a infância, quantas nos traz boas recordações... Mas tem
uma que era muito legal, de um radicalismo top, a “corrida maluca”, os nossos
possantes carrinhos de rolamentos. Pesquisando sobre a famosa brincadeira, não
se sabe muito sobre ela, ao que tudo indica os primeiros exemplares foram
construídos em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte no final
da década de 1960 e começo da década de 1970, primeiras cidades a terem ruas
asfaltadas e topografia íngreme.
Os
projetos eram criados por nós mesmos, éramos os projetistas, mecânicos e
pilotos. Tínhamos uns desenhos arrojados, outros eram padrões, o corpo de
madeira com dois rolamentos no eixo traseiro, alguns tinham apenas um na
frente, outros vinham com dois no eixo dianteiro, geralmente o rolamento da
frente era maior, cada um fazia o seu modelo, tinha aquele que tinha freio de
mão, com um chinelo velho ao lado, outros nem isso tinha, era no pezão mesmo...
Tinham
aqueles que colocavam aerofólio e assim por diante.
Hoje tudo que se vai fazer, a segurança em primeiro lugar, porém
naquela época, isso não passava pela cabeça da molecada, era puro radicalismo,
ninguém usava capacete, joelheira ou cotoveleira. Ninguém estava preocupado com
os joelhos, cotovelos e dedões esfolados, os arranhões viriam naturalmente,
fazia parte da brincadeira. Não ligávamos, não nos preocupávamos, no final da
tarde, chegávamos em casa, escalavrados, a mãe passava água com sabão, às vezes
tinha mercúrio, porém, quase sempre era o temido mertiolate (aquilo ardia pra
caramba) e ficava tudo certo, todo mundo sobrevivia.
O nosso circuito era próximo ao Tiro de Guerra, o asfalto chegou ali no
final da década de 70, mais precisamente em 78. Foi dada a largada, a descida da rua Ricardo Campos, passava
pela delegacia, a curva à direita na cadeia velha, entrada do “S” na casa de
pedra, o retão da 12 de outubro, passava pelo pé de jenipapo, vem a curva da
vitória no Tiro de Guerra... Quantos esfolados e dedos amassados... Hoje a
lembrança traz um Gran Prix, as arquibancadas estão lotadas dos amigos que
ficaram no passado, e de alguma forma lá estiveram torcendo, e participando do Grande
Prêmio, as bandeiradas que foram dadas nos remete a um passado cheio de
aventuras e contos. Acelera, o carrinho desce na velocidade extrema... Acelera,
o coração bate forte lembrando os bons tempos em que podíamos fazer
isso...