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sexta-feira, 21 de setembro de 2018

As mongubas



Fábio Trancolin 



Houve um tempo em que elas dominavam as ruas e praças, o cheiro delas invadia os lares de portas e janelas abertas, não se cortavam tão facilmente, era um período em que elas nos protegiam do sol, faziam sombras nas calçadas e o asfalto não ficava tão quente... Lembro delas, eram várias, elas estavam em todos os pontos da cidade.


As grandes flores, amarelas e de pontas avermelhadas, lhe dão um toque de exotismo, além da função ornamental, como arborizar ruas urbanas. As árvores são o maior patrimônio ambiental que existe nas cidades, pois elas abrigam os pássaros, que espalham as sementes, que comem os insetos. Mas alguns insistem em simplesmente cortar, retirar, plantar que é bom... Vai se concretando, de tanto concretar, acaba-se concretando a mente. Caminhar com elas de um lado e de outro faz bem (ou fazia, não tem mais...)...   



Tínhamos tantas Mongubas pelas nossas ruas, a Monguba (Pachira aquática) é uma bela árvore tropical, também chamada de Monguba, Mungaba, Castanheira-da-água ou Mamorana, esses são alguns nomes atribuído a ela. É uma árvore de copa arredondada, nas cidades chega a medir de três a nove metros de altura. Nas florestas tropicais podemos encontrá-la em ambientes brejosos, ou à margem de rios e lagos, o nome científico “aquática” provém desta característica. As flores são muito bonitas e perfumadas, com longos estames de extremidade rosada e base amarela. Os frutos são grandes e compridos, semelhantes ao cacau. Ela é capaz de alcançar até 18 metros de altura.  As mongubas são árvores de excelente efeito decorativo, amplamente utilizadas na arborização urbana e rural.


As plantas jovens envasadas são excelentes para ambientes internos bem iluminados. Os países asiáticos são importantes produtores e exportadores da planta nesta forma. Ela é disposta nos ambientes de acordo com o feng shui e a ela é atribuída reputação de atrair dinheiro e prosperidade. É conhecida como money tree ou árvore-do-dinheiro. Geralmente, essas plantas são vendidas com três ou mais caules trançados para que formem apenas um tronco de aspecto decorativo. Ainda encontramos algumas pelas ruas de nossa cidade, ainda teremos a oportunidade de sentir o seu perfume no início das noites, mas isso não sei até quando...  





quinta-feira, 6 de setembro de 2018

1968: o ano que não terminou... De repente 50...



Fábio Trancolin

Esse é o título de um livro que está na minha estante: 1968: o ano que não terminou, o livro conta a história daquele ano que não terminou na visão do jornalista Zuenir Ventura, foi um ano de fatos conturbados no Brasil e no mundo, nesse ano que ele diz que não chegou ao fim, eu nasci... As minhas lembranças começam lá pelos meus três, quatro anos. Não são poucas... Trago muitas, parecem tão recentes, sendo que estão tão distantes, mas estão presentes. Os primeiros dez anos são mágicos, lúdicos e cheios de medos, fantasias e imaginações, tive muitas... Bola de meia, torrão de terra vermelha, dedos e joelhos esfolados. 


No mês de setembro de 1978 a velinha do bolo de aniversário que eu soprei, marcava uma década... começava ali os dois dígitos. Ano bom, tempo melhor ainda, o tempo da linda juventude... Preocupação, apenas com a lição, poucos cadernos, pouca obrigação. Céu azul anil, sem chuva liberdade e diversão. Galho, forquilha, fruta, e nos versos da música do Marcelo Barra, “periquito tá roendo o coco da guariroba, chuvinha de novembro amadurece a gabiroba, passarinho voa aos bandos em cima do pé de manga, no cerrado, é só sair e encher as mãos de pitanga...”Assim era a nossa vidinha... Era só sair, ir e vir, para onde quiser e como quiser. Portão aberto, janela escancarada, porta encostada na tramela, massa descansa na gamela. Nas ondas do rádio ouvia se os embalos de sábado à noite, Bee Gees com Night Fever e Stayin' Alive fervia nas discotecas (eu não fui, como gostaria de ter ido...) ... Fábio Junior eternizava Pai... Roberto cantava com , e pedia o café da manhã...  Observava aquele menino correndo... “eu vi o tempo, brincando ao redor do caminho daquele menino... Eu pus os meus pés no riacho, e, acho que nunca os tirei, o sol ainda brilha na estrada, e eu nunca passei...” Esse riacho secou, os meus pés secaram, a estrada nos rastros de areia o asfalto apagou... a fé continua em dias melhores, não como aqueles de tempo outrora, o café não é o mesmo, a torrefação acabou, o menino cresceu, esse menino sou eu... 

Veio 88, tempos outros, a infância se foi, a adolescência também... A inocência perdeu-se... A cidade era outra, mudara para a metrópole, a megalópole, a Sampa de nascimento e naquele momento era meu estabelecimento. Condução lotada, os amigos não eram os mesmos de confiança, ali um ou outro, a maioria eram apenas meus conhecidos... A distância, tudo longe, muito longe... Receio e um certo medo... ouvia os versos na música do Guilherme Arantes... “Só sobraram restos, que eu não esqueci, toda aquela paz que eu tinha... eu que tinha tudo, hoje estou mudo, estou mudado... À meia-noite, à meia luz. Pensando! Daria tudo, por um modo, de esquecer, eu queria tanto... estar no escuro do meu quarto...”. Você espera tanto a chegada dos dezoitos, você pensa que pode tudo e faz tudo, ele chega, quando você se dá conta ele se foi... começava ali os vintes e poucos anos, que passaram num piscar de olhos, quando eu olhei para trás, se foram, os cabelos longos encurtaram... Cazuza falava em ideologia, Renato fazia a pergunta que até hoje eu faço, “que país é esse?



De repente 30, assim chegou de repente sem avisar... 1998, um ano de transformação, Silvio Brito, disse eu disse a mesma coisa: “Ai meu pai agora eu sou pai que nem você é meu pai...” No setembro dos meus 30, nascia o Google... Certa vez ouvi alguém dizer, que o nascimento do Google foi mais importante do que o iluminismo... O tempo andou a passos largos, a visão de mundo era outra... 2000 chegou, na virada era esperado o bug do milênio, o colapso não aconteceu, o digito apenas mudou, ele apenas transformou... No ano 1000 acabaria, 1666, 1806 e 1910 eles esperavam o final, ele não veio... A vida seguiu, segue e seguirá...


Veio 2008, quarenta, agora aguenta, pois ele chegou... Ele é emblemático, pois, alguns dizem, nos 40 não queremos mais perder tempo com reclamações e problemas evitáveis, então, borá lá viver... chega 2008, que também acabaria na previsão, já era o sexto erro, passou outro deslize de estratégia do sistema furado... E, foi nesse ano que passei no vestibular, parece um tanto quanto atrasado, mas,  como tem o seu propósito, foi na hora certa... Quando veio o 2012, que também acabaria, o calendário finalizaria e assim ele terminaria... Ele não acabou, a formatura veio com o diploma de comunicação. 

Agora é 2018, de repente 50... “Quando entrar setembro e a boa nova andar nos campos...” Já ouvi a afirmação que é a idade da sabedoria, pois, esse é um momento para alcançar a clareza... Não são 50 tons de cinza, mas sim de uma bela aquarela... Não é pouca coisa, é meio século... Espero então que aqui, possa ser a metade da vida... pois, aqui cheguei chegando... De repente 50...