Fábio Trancolin
As fotos antigas amarelaram,
elas estão penduradas na parede… ou no porta-retrato envelhecido, no 3x4 do documento,
ou em uma gaveta ficou esquecida, alguns não lembramos quem são… quais são as
suas histórias, outros fazemos questão de não esquecer… As memórias estão
gravadas nas fotos, as lembranças estão impressas no postal… Olhando fotos
antigas rimos, choramos, boas recordações, recordações guardadas e
compartilhadas, declarações feitas no verso com prosa e verso… naquele momento
de ciúmes, revolta e incompreensão, o retrato foi rasgado, depois colado com
durex e arrependimento ficou… colado no retrato 3x4… foto guardada dentro de um
livro, o cabelo mudou, o sorriso, não…“Um simples retrato, tipo três por quatro
na minha carteira…”
De piquenique num riacho
de águas cristalinas, pescaria num ribeirão de correnteza gelada, tomando
aguardente pra esquentar o frio da madrugada fora de estação. Da turma da 4ª série,
todos juntinhos na sala e na saída do portão, a menina bonita, ainda trago na
lembrança, claro, nunca saiu do coração… Turma do futebol, do quintal, do trabalho...
Da viagem em excursão…da chegada, da partida, a ida e vinda… de lugares que eu
nunca voltei, e talvez não voltarei… de lembranças que eu quero esquecer, de
alguém que eu faço questão de jamais esquecer… da tua risada gostosa na ceia de
natal, da foto que não tirei na praia, aquela que não tiramos, quando pela
primeira vez eu vi o mar, “fui dono do mar azul, de todo azul do mar… foi
assim, como ver o mar… foi a primeira vez que eu vi o mar…o retrato ficou apenas
na imaginação…
A foto da árvore que hoje
é tombada, nem é mais lembrada, virou lenha… do fogão a lenha em noite fria, no
“rabo” do fogão… em bar de um lugar distante que tocava a música romântica que
mexia com o coração... do cachorro, do gato, do teu bicho de estimação… Aquela
na fazenda de umas férias que ficaram gravadas, eternizadas nas histórias
sempre contadas com muita emoção, quantas recordações... Sim, são lembranças,
que trago na memória, guardadas e são contadas como histórias, para não
esquecer quem somos, de onde viemos, o que fizemos, contamos e guardamos… O
preto e branco amarelado…Foto de lambe-lambe, olha o passarinho… 12, 24 e 36…
Revelação, negativo… expectativa no envelope entregue em balcão…digital, click
que click, arquiva, não tem revelação… “O
retrato que eu te dei, se ainda tens não sei… mas, se tiver, devolva-me…” Um
dia seremos apenas um retrato na estante de alguém, depois, nem isso…