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sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Um sonho de simplicidade





Então, de repente, no meio dessa desarrumação feroz da vida urbana, dá na gente um sonho de simplicidade. Será um sonho vão? Por que fumar tantos cigarros? Eles não me dão prazer algum: É uma necessidade que inventei. Por que  beber tanto uísque, por que procurar uma voz de mulher na penumbra ou amigos no bar para dizer coisas vãs, brilhar um pouco, saber intrigas? 
                         
A vida bem que poderia ser mais simples. Precisamos de uma casa, comida, uma simples mulher, que mais? Que se possa andar limpo e não ter fome, nem sede, nem frio. Para que beber tanta coisa gelada? Antes eu tomava água fresca da talha, e a água era boa... Que restaurante ou boate me deu o prazer que tive na choupana daquele velho caboclo do Acre? A gente tinha ido pescar no rio à noite... Quando ficamos bem cansados, meio molhados, com frio, subíamos o barranco, no meio do mato, e chegamos à palhoça de um velho seringueiro. Ele acendeu o fogo, nos esquentamos um pouco junto à fogueira. Depois me deitei numa grande rede branca. Foi um carinho ao longo de todos os meus cansados músculos.

Depois, ele me deu um pouco de peixe e meia caneca de cachaça. Que prazer em comer aquele peixe; que calor ao tomar aquela cachaça e ficar algum tempo a conversar, entre grilos e vozes distantes de animais noturnos...Todo mundo, com certeza, de repente, tem um sonho assim. Mas é apenas um instante, pois o telefone toca e tiramos um lápis do bolso para tomar nota de um nome, um número...

Para que tomar nota? Não precisamos anotar nada. Precisamos apenas viver. Sem nome, nem números. Fortes, doces, distraídos, simples como os bois, as mangueiras e o ribeirão.  




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