Então, de repente, no meio dessa
desarrumação feroz da vida urbana, dá na gente um sonho de simplicidade. Será
um sonho vão? Por que fumar tantos cigarros? Eles não me dão prazer algum: É
uma necessidade que inventei. Por que beber tanto uísque, por que
procurar uma voz de mulher na penumbra ou amigos no bar para dizer coisas vãs,
brilhar um pouco, saber intrigas?
A vida bem que poderia ser mais
simples. Precisamos de uma casa, comida, uma
simples mulher, que mais? Que se possa andar limpo e não ter fome, nem sede,
nem frio. Para que beber tanta coisa gelada? Antes eu tomava água fresca da
talha, e a água era boa... Que restaurante ou boate me deu o prazer que
tive na choupana daquele velho caboclo do Acre? A gente tinha ido pescar no rio
à noite... Quando ficamos bem cansados, meio molhados, com frio, subíamos o
barranco, no meio do mato, e chegamos à palhoça de um velho seringueiro. Ele
acendeu o fogo, nos esquentamos um pouco junto à fogueira. Depois me deitei
numa grande rede branca. Foi um carinho ao longo de todos os meus cansados
músculos.
Depois, ele me deu um pouco de peixe e
meia caneca de cachaça. Que prazer em comer aquele peixe; que calor ao tomar
aquela cachaça e ficar algum tempo a conversar, entre grilos e vozes distantes
de animais noturnos...Todo mundo, com certeza, de repente, tem um sonho assim.
Mas é apenas um instante, pois o telefone toca e tiramos um lápis do bolso para
tomar nota de um nome, um número...
Para que tomar nota? Não precisamos
anotar nada. Precisamos apenas viver. Sem nome, nem números. Fortes, doces,
distraídos, simples como os bois, as mangueiras e o ribeirão.