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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

As mudanças são necessárias, muitas vezes inevitáveis


Fábio Trancolin


Na viagem do tempo, volto a um ano em que houve muitas mudanças, e alteraram roteiros, comportamentos e pensamentos, foram mudanças que atravessaram rios e fronteiras.  As mudanças são necessárias, muitas vezes inevitáveis, as mudanças são tão inevitáveis quanto as lembranças e, por isso, retorno ao ano de 1981. Depois de tantos anos morando na parte baixa da cidade, lugar que me trouxe muitas alegrias e boas lembranças. No início daquele ano, mudamos para a Rua Augusta Bastos a casa ficava próxima ao Colégio do Sol (ainda vou contar a história desse colégio). Pra falar a verdade, senti muito essa mudança, saí de perto dos bons amigos, não que a cidade fosse tão grande e as distâncias intransponíveis, não, não era isso, mas fiquei longe do ponto que me deixava muito feliz.


No ano anterior, eu tinha abandonado a escola, algo que me deixou muito triste, uma frase pode destruir alguém, e alguém me disse uma frase que estragou o meu ano letivo (desigualdade social). E, em 81, fui matriculado no colégio que deveria ter ido um ano antes, o Oscar Ribeiro da Cunha. Meus amigos estavam estudando na parte da manhã, eles estavam na 6ª série, eu ainda tinha que concluir a 5ª, então tive que me contentar em estudar no período vespertino, algo que me deixou um tanto quanto contrariado, pois alguém estava de manhã, e eu não iria compartilhar da tua companhia, ‘O melhor lugar do mundo é a boa companhia, ou a sua companhia’. O pai comprou todos os materiais escolares daquele ano (comprou não, trocou por serviços, que não deixa de ser uma compra...) a Papelaria Montreal foi o pai que fez toda a parte de prateleiras, e houve a permuta, maravilha, tudo da melhor qualidade e quantidade. 


Algumas coisas que marcaram o mundo naquele ano já tinham acontecido, o presidente da superpotência sofreu um atentado, e o Papa, também, tentaram matar Ronald Reagan e João Paulo II. Eles não morreram, mas, um dos ídolos da minha infância, sim, Amâncio Mazzaropi, o jeca mais famoso do Brasil voltou à Pátria Espiritual naquele ano, eu adorava os filmes dele. Pelé tinha sido aclamado o atleta do século, não pelo que falava e sim pelo que jogava... Roupa Nova lançava o primeiro LP. E a bomba dos “milicos” tinha feito estrago no atentado do Riocentro. Mas, agora entra a parte da mudança. No meio do ano, os meus pais decidiram que deveríamos mudar para capital paulista. E, em casa, estava decidido, vamos mudar... Tudo foi vendido, até o Dodge Dart 1974, amarelo ouro, foi passado nos cobres, senti muito essa venda. E mudamos... 

Rua Êneas de Barros - Colégio Professor José Campos Camargo
Chegamos à terra da garoa no final do mês de julho, frio, muito frio... Eu, a mãe, e o Marcello, o pai e o Jairinho ficaram por certo tempo no Planalto Central...  Eu tinha 12 anos, tudo eram novidades, diferente e sem amigos, apenas os primos, mas, menino logo se ambienta. No dia em que cheguei à tia Neide, ela disse, ele vai ficar lá em casa (foi uma das melhores coisas), eu fui para a casa dela que ficava na Rua Enéas de Barros, as primas da mesma idade a Deborah e a Claudia logo me apresentaram praticamente toda a rua... A tia fez a matricula no Colégio Professor José Campos Camargo, horário completamente atípico pra quem estava acostumado em Rio Verde, em Sampa as aulas começavam 15:20 e terminavam às 19:20, não se usava o uniforme tradicional, calça cáqui e camisa branca com bolso bordado, era apenas um avental branco. No Oscar, eu tinha 12 matérias no ‘Camarguinho’ eram apenas seis, mas que valiam por 24, e os materiais não foram aproveitados... Agora imagina dois ‘capiauzinhos’ vindo do interior do país e chegar numa sala de aula de uma metrópole... Os colegas perguntavam se os índios andavam pelados nas ruas da minha cidade e se víamos onças por perto, essa era a imagem que pintavam do Brasil Central. Pra finalizar essa parte eu não me adaptei ao sistema imposto pela escola e reprovei... Meu terceiro colégio e segunda 5ª série que ia para o vinagre... 

Parque do Piqueri
Passando para parte boa, eram os tempos das descobertas, das mudanças de comportamento... Ali na ‘Enéas’ tive a primeira namorada a Elisabete, morena cor de jambo e belo sorriso. Os bons tempos das feiras de sábado e as noites nas calçadas. Ali também fiz bons amigos, Paulinho, Pedrinho, Ricardo, Rogério, Raul e o Keller. Fiquei um tempo na casa da tia, quando o pai chegou fomos morar na Rua Embiruçu (como dizia a Claudia, era uma rua que sobe e desce e o número nunca aparece), mas pouco ficava lá o meu mundinho era na Enéas...

Parque do Piqueri 1981

Um fato que marcou aquele ano foi o casamento da adorável e inesquecível prima Cosete. Ela casou no dia 21 de novembro, na Igreja de São Carlos no Tatuapé, 30 anos se passaram e eu nunca mais fui a um casamento tão maravilhoso quanto aquele, foi a primeira vez que comi caviar e calcei um tênis Topper. Naquela noite, um amigo antigo do meu pai, que eu só conheci de ouvir falar e tive a oportunidade de conhecer naquela noite, ele ficou muito feliz em me conhecer, foi a primeira e última vez que vi, me presenteou com uma bela nota de Cr$ 500 para que eu fosse visitá-lo, ele tinha bebido um tanto quanto além da conta, e não era para menos, fora servido ’Whisky Buchanan Special Reserve’. Na porta da igreja, estacionado um Del Rey azul 0 km que conduziria os noivos para lua de mel. Tempos depois a Cosete e o Osmar me proporcionaram uma bela imagem, foram eles que me levaram para ver o mar... “Foi assim, como ver o mar. Foi a primeira vez que eu vi o mar. Onda azul, todo azul do mar. Daria pra beber todo azul do mar. Foi quando mergulhei no azul do mar. “ Escrevo essa crônica na noite de 15 de novembro, aniversário dela, essa história simplesmente foi para relembrar a Cosete, nesse ano fez 20 anos que ela retornou ao Plano Maior. No dia em que ela partiu, escrevi na minha agenda “Está faltando uma peça no quebra cabeça, perde a graça, no quadro falta algo que não completa...” Acabou aquele ano e no início de 82 retornei para Rio Verde... 


   



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