Já ouviu aquela expressão ‘parece que um caminhão passou por
cima?’ Não necessariamente por cima de alguém (quase passou), mas por cima de
algo... Então, no início do ano de 77, mais precisamente em fevereiro, isso
aconteceu na minha casa. Eu morava na esquina das Ruas Augusta Bastos com
Avelino Faria quando num final de tarde isso aconteceu, um caminhão invadiu a
nossa casa. Pela proporção do acidente era para ter sido uma tragédia, graças a
Deus foi só prejuízo material.
Voltando dois dias antes do acidente, era o mês de fevereiro, o
Senhor Antônio morreu, fomos para o velório e passamos a noite. Na manhã
seguinte, ele foi sepultado, no retorno para casa, o Senhor Manoel, irmão do
Seu Antônio não aguentou o baque de perder o irmão, e também fez a passagem
para o Plano Espiritual. Mais um velório, outra noite em claro. Voltamos para
casa, duas noites em claro, todos estavam acabados. Minha mãe perguntou para o
pai se ele iria dormir, ele disse que não, pois tinha serviço na marcenaria, o
meu Tio Claudio que nessa época morava lá em casa, também resolveu que iria
trabalhar, nesse caso já que vão todos, a mãe pediu para que o pai nos levasse
para a escola, nesse ano, eu e o Jairinho estudávamos no Percival Xavier
(Escola que funcionava no Colégio Martins Borges), e o Marcello estudava no “Passinhos dos Saber”, que também
utilizava sala de aula do Martins Borges, era o primeiro ano da escola da
professora Rita de Cássia. Então fomos todos. A mãe resolveu que iria lavar
roupa.
O dia decorria tranquilo, mais um daqueles dias quente de verão.
No meio da tarde, uma amiga, a Tereza, apareceu lá em casa, e enquanto a mãe
recolhia a roupa, ela ia dobrando e colocando em cima da cama. O nosso quarto
era o da esquina, ao lado estava o da mãe. Uma Camionete desce a Avelino, e ignorou a preferencial,
(naquela época a Augusta descia e
subia), e colidiu violentamente com o Mercedes 1113 que subia, o “brutu”’ perdeu a barra da direção e marcou
o rumo da casa azul. O cômodo da esquina, simplesmente, desapareceu, no próximo,
ele encontrou com o guarda-roupa de madeira maciça que serviu de instrumento para
fazer mais estrago ainda. A Tereza foi espremida e salva pela porta. No quintal,
ao ver o guarda-roupa aparecendo sendo empurrado pelo caminhão e derrubando a
parede e o muro, a mãe desmaiou.
O pai nos trouxe e ao virar na Presidente Vargas, dava pra ver o
tumulto, e apenas um pedaço da carroceria do caminhão para fora. Os policiais
tinham feito cordão de isolamento para proteger a cena do acidente e, também,
os pertences, pois se não bastasse o acidente, alguém ainda carregou algumas
coisas antes que a polícia chegasse o famoso saque de tragédia... Entramos e
vimos o estrago, brinquedos, roupas e livros no meio de tijolos e muita
poeira... Os vizinhos comentavam que o motorista do caminhão desceu
transtornado e armado, acreditando que tinha matado a família toda, ele gritava
que tinha matado todos, e iria matar o motorista do outro veículo. Foi contido,
pois ninguém havia morrido, o condutor da camionete fraturou algumas costelas.
A perícia foi feita, a dona da casa recebeu indenização pelo estrago, nós não,
não recebemos nada e tivemos que mudar da residência. Os móveis da sala e os
utensílios da cozinha não sofrearam danos, o guarda-roupa que foi atingido só
quebrou o pé, no quarto tinha um berço que estava na família já algum tempo,
serviu para os quatro irmãos, e fazia parte da família, era um berço de imbuia,
que tinha a marca dos meus primeiros dentes cravados nele, ele foi o primeiro a
ser abalroado e ficou totalmente destruído, o jipe verde do Cello, aquele que o
pai tinha comprado na Casa das Louças foi literalmente esmagado... Essa
história rendeu muito, duas noites de velório e um acidente de grande
proporção, e a família sã e salva. Somos e sempre fomos muito protegidos pelos
amigos do Plano Maior.