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segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Ainda se ouve o tique-taque das máquinas de escrever


Fábio Trancolin



Fiz parte da geração em que aprender datilografia era quase que obrigatório, arranjar emprego em escritórios nos anos 80, a pergunta básica era “tem curso de datilografia?”. Era fundamental para obter empregos e, de grande valia, para ser aprovado em concursos públicos. Eu fiz o meu em 1986, na Escola de Datilografia Goiás, que ficava na Rua Major Oscar Campos esquina com a Itagiba Gonzaga Jaime, o proprietário era o Nilton Proto. De longe se ouvia o tique-taque estalado das máquinas de escrever, as barulhentas Remington e Olivetti, hoje pouco se usa, estão praticamente encostadas e abandonadas, perderam o espaço para informatização.

Imagens ilustrativas
Durante cinco meses de segunda a sexta, eu frequentei o curso, eu fazia na parte da manhã, durante uma hora eu era aprendiz, chegava um pouco antes do horário para ficar de olho nas melhores máquinas, e cada um tinha a tua “pastinha” arquivada no armário, ali eram guardados os exercícios que aos poucos iam sendo superados depois de muitos serem praticados e, ao fim de cada exercício, tínhamos aprovação cronometrada pela professora, a minha foi a Maria Aparecida, pedíamos “marca ai”. Se aprovado, poderia seguir para o próximo, se não passasse pelo crivo, tinha que treinar mais para depois solicitar outra avaliação. Naqueles tempos, tinham escolas que tapavam as teclas com esparadrapo, e as monitoras rigorosas exigiam, “não olhem para o teclado, olhem para o manual”... Na escola que fiz, o regime era mais brando. As escolas de datilografia deixaram de existir já faz um bom tempo, muitos “cata milho” se profissionalizaram. Hoje o teclado do computador facilita muito.  

Imagens ilustrativas
Meu horário era de manhã, mas aparecia por lá à tarde, gostava do lugar e das pessoas que lá frequentavam. Entre elas, tinha a Júnia, uma loirinha encantadora. Muitas vezes, eu marquei o tempo para que ela pudesse solicitar a cronometragem da avaliação, a Cida me permitia isso, tinha o respaldo da monitora. E eu quase todos os dias lá estava, no horário da loirinha de rostinho angelical. E, na parte da tarde, a escola era invadida pelo saboroso e delicioso aroma da Kitanda Caseira que ficava em frente, os casadinhos e biscoitinhos e outras tantas delícias que ali eram produzidos pela família do Eduardo de Castro, o cheiro nos convidavam e quase todos os dias tinha lanchinho. Às vezes, eu acompanhava a Júnia até a casa dela, só acompanhava... Nos bons tempos do bate-papo, face a face, nada de online, as tentativas eram ao vivo. O curso acabou, me formei e fui diplomado, ainda guardo como recordação. O papel branco amarelado com detalhes em verde e grafado pelas mãos hábeis do bom amigo artista das letras Huprecio Albano de Matos, e esse pequeno papel está guardado no fundo de uma gaveta, mas guardado com carinho e cheio de boas lembranças. Mas, ainda se ouve tique-taque estalado das máquinas de escrever na memória...






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