Fábio Trancolin
Fiz parte da geração em que aprender datilografia era quase
que obrigatório, arranjar emprego em escritórios nos anos 80, a pergunta básica era “tem
curso de datilografia?”. Era fundamental para obter empregos e, de grande
valia, para ser aprovado em concursos públicos. Eu fiz o meu em 1986, na Escola
de Datilografia Goiás, que ficava na Rua Major Oscar Campos esquina com a
Itagiba Gonzaga Jaime, o proprietário era o Nilton Proto. De longe se ouvia o tique-taque
estalado das máquinas de escrever, as barulhentas Remington e Olivetti, hoje
pouco se usa, estão praticamente encostadas e abandonadas, perderam o espaço
para informatização.
Imagens ilustrativas |
Durante cinco meses de segunda a sexta, eu frequentei o
curso, eu fazia na parte da manhã, durante uma hora eu era aprendiz, chegava um
pouco antes do horário para ficar de olho nas melhores máquinas, e cada um
tinha a tua “pastinha” arquivada no armário, ali eram guardados os exercícios
que aos poucos iam sendo superados depois de muitos serem praticados e, ao fim
de cada exercício, tínhamos aprovação cronometrada pela professora, a minha foi
a Maria Aparecida, pedíamos “marca ai”. Se aprovado, poderia seguir para o
próximo, se não passasse pelo crivo, tinha que treinar mais para depois
solicitar outra avaliação. Naqueles tempos, tinham escolas que tapavam as
teclas com esparadrapo, e as monitoras rigorosas exigiam, “não olhem para o
teclado, olhem para o manual”... Na escola que fiz, o regime era mais brando.
As escolas de datilografia deixaram de existir já faz um bom tempo, muitos “cata
milho” se profissionalizaram. Hoje o teclado do computador facilita muito.
Imagens ilustrativas |
Meu horário era de manhã, mas aparecia por lá à tarde,
gostava do lugar e das pessoas que lá frequentavam. Entre elas, tinha a Júnia,
uma loirinha encantadora. Muitas vezes, eu marquei o tempo para que ela pudesse
solicitar a cronometragem da avaliação, a Cida me permitia isso, tinha o
respaldo da monitora. E eu quase todos os dias lá estava, no horário da
loirinha de rostinho angelical. E, na parte da tarde, a escola era invadida
pelo saboroso e delicioso aroma da Kitanda Caseira que ficava em frente, os
casadinhos e biscoitinhos e outras tantas delícias que ali eram produzidos pela
família do Eduardo de Castro, o cheiro nos convidavam e quase todos os dias
tinha lanchinho. Às vezes, eu acompanhava a Júnia até a casa dela, só
acompanhava... Nos bons tempos do bate-papo, face a face, nada de online, as tentativas eram ao vivo. O curso
acabou, me formei e fui diplomado, ainda guardo como recordação.
O papel branco amarelado com detalhes em verde e grafado pelas mãos hábeis do
bom amigo artista das letras Huprecio Albano de Matos, e esse pequeno papel
está guardado no fundo de uma gaveta, mas guardado com carinho e cheio de boas
lembranças. Mas, ainda se ouve tique-taque estalado das máquinas de escrever na
memória...