Fábio Trancolin
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Nos bons tempos do futebol jogado em qualquer
lugar, quadra, campinho, ou seja, lá onde for... Nos campeonatos de
intercalasses, bairro contra bairro e, também, os times de final de semana que
eram escolhidos no par ou ímpar. Na minha infância, tinha muito disso. E, num
desses times, fui chamado para fazer parte, quem montou foi o Hélio Rosa e,
também, fazia parte o Cairo, Eliomar, Júlio. O Hélio tinha algumas camisas do
Vasco da Gama e, por esse motivo, o time foi chamado de “Vasquinho do Jardim
América”. Então com esse “esquadrão” fomos participar do campeonato organizado
pela “Escola Raio de Luz”. Quem organizou foi o professor Altiture, a escola era para alunos especiais, e essa prática era uma forma de terapia. Também, fizeram parte daquele campeonato o time da “Sapataria Silva” que tinha dois fora de série, os irmãos Tom e Preto, o time da AABB que era dirigido pelo treinador Pierre (ele era um amante do esporte amador), o Clube Campestre treinado pelo professor Bosco.
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O regulamento previa que até 13 anos poderia
jogar na linha, quem tivesse mais, só no gol. O ano era 1982 eu iria completar
quatorze em setembro, então pela lógica eu estaria iberando para jogar na
linha. Porém a “Liga” não aceitou e eu teria que me contentar de jogar no gol,
eu era um bom goleiro, mas queria mesmo era fazer gols, e não levar... Então, o
Pierre e o Professor afirmaram que eu não tinha a idade que eu falava. O Pierre
em tom de “chacota” disse: “Se você provar o que está dizendo eu te pago 5.000
mil” (Essa grana nos ajudaria a comprar um jogo de camisas que nós estávamos de
olho lá na Casa Lacerda) fiquei “maluco”, pois tinha como provar que eu falava
a verdade, e iria ganhar aquela grana... Corri feito um “doido” em casa para
pegar o registro, e voltei todo satisfeito com ele nas mãos, quando entreguei e
ele viu o ano e comprovava a minha idade, só que no meu registro tem um
detalhe, eu nasci em 68, mas o pai me registrou em 70, e isso fez a
diferença... Pois ele disse que o meu registro estava errado, eu poderia não
ter a idade que dizia... Fiquei “puto”, disse, se o pai fosse mentir a minha
idade ele teria tirado dois anos e não colocado a idade correta, mas não teve
jeito, ele não pagou a aposta e não ganhamos a grana (muita sacanagem da parte
dele, para ele não era nada esse valor, mas pra gente faria a diferença). Mas o
que me deixou chateado, foi que no time do Campestre tinha dois que eram mais
velhos do que eu, e jogaram na linha, o professor,
carinhosamente, o tratava com todo esmero, pra falar a verdade “bajulava”
mesmo, o “Bruninho” e o “Flavinho”, na nossa análise a diferença de tratamento
era simples, os dois eram “filhinhos de papai”... Fomos vítimas de preconceito
social.
O torneio começou, a maioria dos jogos era na
quadra da escola, que chamávamos de “Ralo
de luz”, o cimento era “cascudo” e conforme a queda o estrago era grande,
tenho uma cicatriz na perna direita que ganhei lá. Mas tiveram jogos no Clube
Campestre. E, também, na quadra da AABB e, outra vez ali, sentimos certo “toque”
de humilhação, antes do jogo, foi-nos avisado que não seria aceito ninguém de “Kichute”
na quadra, pois ela era de taco e nós iriamos arranhar o piso, “só entra se tiver
de tênis, o ‘Kichutão’ aqui não”, esbravejou o Pierre. Demos um jeito e ninguém
arranhou a casa do mandante. E estávamos na quadra esperando a entrada do
adversário, quando sai o time do vestiário todo de azul, com uniforme que seria
estreado naquele dia, todos eles de tênis Topper e Rainha, tudo novo. Nossas
camisas desbotadas e algumas com remendos, jogamos e fomos massacrados pelo
rival, não bastava só a humilhação social, teve a do placar elástico. Perdemos
quase todos os jogos, mas do Raio de luz não, deles, nós ganhamos. E, de certa
forma, vencemos todos os jogos, pois o time de camisas rasgadas foi lá e
enfrentou o preconceito e os meninos da escola também, com toda a deficiência
mostraram o seu valor. Espero que os garotos de camisas azuis, também, tenham
aprendido alguma coisa.