Fábio Trancolin
Nas minhas aventuras e
aprendizado, estudei em dois grupos escolares, e em cinco colégios, mas nenhum
marcou tanto quanto o velho e bom Colégio do Sol. Ali estive entre os anos de
82 a 86, mas, mesmo antes de ser matriculado nos seus arquivos, já frequentava
esse espaço que tanto marcou a minha infância e adolescência. A quadra foi sempre um ponto adorado pelos
alunos e outros apreciadores do futebol de salão, ali aglomeravam no “2 ou 10”
(quem jogou sabe o que significa isso).
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Arquivo: Natalia Campos |
O relógio do sol ainda lá
esta, hoje ele fica escondido atrás de placas publicitárias, no meu tempo de
menino parava ali e ficava espiando e tentado identificar as horas nos seus
ponteiros solar. Os pavilhões na cor
dourada ou mais para um tom amarelado que no final de tarde ficava mais bonito
no contraste com o Astro Rei. Hoje é azul, a cor antiga era mais bonita e
representativa. Os pés de eucaliptos que circundavam a quadra perfumavam o final
de tarde e as velhas imponentes seringueiras ainda estão de pé num abraço
antigo, recordam quantos “amasso”
foram dados na sua presença.
Nos meus tempos de quadra,
eu era chamado de “pé de anjo”,
quantas partidas ali foram disputadas com vários e tantos bons amigos. Discussões,
brigas, desentendimentos e palavrões... Algumas chegavam às vias de fatos,
outras ficavam no deixa disso. Eu participei das duas. Numa tarde estávamos
jogando na quadra e vendo um avião que fazia umas manobras arriscadas... E de
lá vimos quando a fumaça subiu na Vila Carolina, o avião caiu, fomos lá ver os
destroços, a imagem nunca esqueci.
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Quadrilha do Colégio do Sol - Arquivo Aloisio Nakayama |
Todos os dias no fim de
tarde, tinha educação física comandada pelo professor Gerson, os portões eram
abertos, não tinha como restringir a entrada, e nas tardes de segunda, quarta e
sexta os meninos de calção verde e a camisa com o sol no peito praticavam as
atividades, e nas terças, quintas e sábados era a vez das adoráveis meninas com
os shortinhos cor de rosa se alongarem para delírios dos alunos que insistiam
em ficar dependurados no murinho que circundava a quadra. Foram muitas beldades
que por ali passaram. Mas, vale enaltecer e ressaltar duas encantadoras
colegiais, as irmãs Synara e Mara Rúbia, o tempo passou, tenho as duas como
amigas e a beleza das loiras como o bom vinho só fez melhorar.
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Arquivo - Aloisio Nakayama |
Em 82, no período
vespertino, comecei a fazer parte da chamada nos diários dos professores. Fazia
a 5ª série, já era veterano, iniciava ali a minha terceira tentativa em sair do
primeiro ano do ginásio, não era incapacidade de aprendizado, já relatei o fato
numa outra crônica. Vinha de uma passagem pela capital paulista e voltava com
visual diferente e a moda da cidade grande. Eu fui o primeiro a usar a manga da
camisa da escola dobrada, inventava moda, usava camisa havaiana e pulseiras.
Não gostava do período da tarde, mas fazer o quê, não tinha que gostar, tinha
que estudar. Quando voltei de Sampa, as aulas já tinham começado, mas logo me
ambientei. Nelsão, Márcio, Welson e o Ronaldo (ele era deficiente, era um cara
totalmente maluco, ele fazia manobras na cadeira de rodas e outras peraltices
inimagináveis para quem não tinha acessibilidade em determinados locais,
gostava pra caramba dele!) esses eram os meus parceiros. As meninas Adriana,
Simone e a Cibele que eram o trio inseparável, Martinha, Fabíola, e a Gardênia.
Das professoras, recordo de várias, mas tinha um carinho especial e, até hoje
tenho pela professora Ivone (Português), Sílzia (História) Irene (Educação
Moral e Cívica)... Com a Evani (Matemática) logo de cara desentendimento que me
custou caro no final do ano, (0,5 fizeram falta). Nos intervalos, a molecada ia
para a quadra, a moda era um joguinho de bolinha de gude, o objetivo era colocá-la
nos buracos de escoamento da água, craque nessa prática era o João Barcelos e,
também, tinha a beleza da Gina Gleides que encantava a todos, ela fazia a 6ª
série.
Um fato que marcou aquele
ano foi a revolta dos alunos que estudavam à noite, foi a destruição de uma
parte do colégio. Tudo começou com a cobrança por parte da direção, durante
todo o ano foi cobrado, uma taxa dos alunos, eles diziam que era uma
colaboração, na turma do matutino e vespertino não houve oposição e a taxa foi
paga, porém a turma do noturno não teve essa adesão, quando chegou o período de
exame final, aqueles que não pagaram, foram impedidos de entrar. A massa
aglomerada no portão da Rua Luiz de Bastos, discursos e revolta, os que iam
saindo depois de fazer a prova, também, aderiram ao movimento, os revoltosos
começaram, “vamos quebrar” e, assim, deu início a queda do muro que circundava
o quarteirão, não ficou pedra sobre pedra. O “distúrbio” instalado, a “massa”
descontrolada, alguns partiram em busca do carro da diretora que nessa época
morava em um dos pavilhões do colégio. Não a encontraram, e a ira foi
descontada nos livros da biblioteca, nos instrumentos musicais da fanfarra que
foram literalmente destruídos, e nos materiais esportivos que foram roubados.
Vidros estilhaçados, portas quebradas, o caos instalado. No ano seguinte, pais
e mestres e, também, os alunos se uniram e reconstruíram o colégio, o muro deu
lugar a uma cerca, o professor Gerson solicitou, e na quadra um muro foi
erguido e com portão fechado só entrava quem era convidado. A cor desde então
ficou o azul, a primeira pintura foi feita pelos alunos.
Em 1983, eu dava início a
mais uma tentativa, a quarta para sair da 5ª série, dessa vez, no período
noturno, eram os maravilhosos tempos de porta de colégio, namoricos, lembro com
carinho da Jane e da Janeth, Maria Isabel... O período dos bons amigos, a lista
é grande e para não cometer injustiça com alguns, melhor nem citar. “Menina
veneno, e erva venosa” tocava com frequência nos toca-fitas dos carros no
portão, nós estávamos a dois passos do
paraíso. A época das festas juninas que eram disputadas entre os colégios
para ver quem fazia a melhor. Nesse ano, fui treinar basquete, horário pra lá
de estranho, nossa educação física era às seis da manhã, e nós chegávamos antes
das cinco para jogar o esporte da bola laranja. A aula era com o professor
Valdivino, e a turma que era composta pelos irmãos Batista, César, Gilberto e
Alberto, também, tinham o Gilmar, “Gasoso”
e o “Baiano”, e o meu irmão Jairinho, e ali antes que o sol aparecesse
jogávamos. Os refletores eram ligados pelo Alberto que entrava pelo vidro e,
assim, acendia a luz. Nenhum desses foi convocado para os jogos abertos daquele ano. O Gerson preferiu levar os da turma
dele. No ano seguinte, o meu irmão defendeu a equipe do uniforme “verde
bandeira”, e, por algum tempo, foi o dono da camisa nº 4, eu fui convocado, mas
por pirraça por não ter sido chamado
no ano anterior, não fui. Em 85, várias partidas eu disputei, muitos foram os
embates com a turma do Gigantão, mas, nesse ano, eu fui cortado, em 86, eu
machuquei e nunca mais joguei esse esporte que tanto adorava, parece piada, mas
fui um bom jogador de basquete mesmo tendo 1,67 cm.
Em 84, iniciava a 6ª
série, e nessa passei direto, me dediquei, não que nesse ano eu não tenha
aprontado, eu me esforcei, mas fiz das minhas. O Jairinho iniciava na
criatividade na arte da madeira e era um bom marceneiro, hoje é um dos melhores
que conheço, ele fazia miniaturas de camas para bonecas, eu presenteava as
meninas, muitas foram as que ganharam esse presente, sem contar as “fofoletes” que eu dava para as meninas.
Ano das inconsequências e imprudências nas garupas das mobyletes, junto ao Aroldo, Claudenir e Eduardão. (No dia em que o
Eduardo quebrou a perna em vários lugares, eu não estava na garupa dele, longa
recuperação do meu bom amigo...).
Quando veio 85, a
rebeldia tomou conta, ano que eu aprontei, era líder de classe, revoltado
contra o sistema, foi o ano dos atritos. Não deu outra, aquela sétima série foi
para o vinagre, reprovei em educação física, dá para acreditar nisso? É isso
aconteceu comigo. Naquela 7ª série, tinha uma turma legal, uma galera criativa,
Roberto e seus argumentos que tiravam os professores do sério, os artistas da
sala o Jairinho e o Johnson com as suas caricaturas que faziam sucesso. Giovane
e Ângela, Ana Lucia era a gata da sala. Dadá e o Nelson, o professor Osmar e
Agrest sempre parceiros da galera. Nesse ano, foi quando fomos para a Lagoa
Santa em excursão com a turma. Fato ruim aconteceu naquele ano, quando o nosso
colega de classe, o Waldemar que carinhosamente chamávamos de “Zebrinha”, foi
assassinado no Country Club quando comemorava o aniversário de 17 anos.
Nesse ano, eu namorava a
Tatiana a ‘gauchinha’ de olhos azuis que não foi fácil de conquistar, quantas
idas ao portão e só um Bye, então
tchau... Até que um dia fui pedir autorização para os pais dela para que
pudesse namorar a guria, aceito fui e por lá passei uns tempos tomando
chimarrão. Nessa época, aconteceu uma fofoca que quase fez estrago. Um dos
integrantes da turma do “Guá” (turma barra pesada da época) se engraçou com a
gauchinha, e alguém disse que eu iria acertar as contas com ele. Uma noite ao
chegar no colégio, eu entrei pelo portão da Rua Geraldo Jaime, alguns amigos
vieram me avisar que eles estavam a minha espera no portão principal e a briga
seria feia, o Aloisio armado de “Nunchaku” o Evandro armado com uma garrucha, e outros, também,
vieram dar apoio. Entraram dois integrantes da turma, para ver quem era o
desafeto que iria apanhar, um desses era o Hamilton, velho e bom amigo, quando
soube que era eu o alvo da turma, no mesmo momento disse, não tem briga, e
quero ver quem é que vai encostar a mão no Fabinho, esse é parceiro e meu
amigo. Não teve briga, dei foi sorte, pois o “trem” iria ficar feio pro nosso
lado... A paz reinou e virou piada...
Quando começou o ano de
86, imaginei que dessa vez eu iria mudar, e fazer as coisas de forma diferente,
iria me dedicar mais, era o ano que eu completaria 18 anos, mudei nada... Foi o
ano em que o Marcello (irmão caçula) também foi estudar no período noturno,
lembro que na secretaria houve comentário, “nossa,
mais um ‘Trancolin’, esse parece ser um bom aluno, tomara que não seja igual
aos outros, se não vai se perder igualzinho aos outros dois...“. E não é
que se perdeu... Eu e o Evandro aprontamos muito naquele ano, ele tinha um
Escort/85 que apelidamos de “Stalonne”, e
quantas farras foram feitas e imprudência cometidas... Nesse ano, eu fui
trabalhar em campanha política, degringolou tudo, muitas viagens, e mesmo
namorando com a Luzia eu não entrei na linha. Teve o problema da pneumonia em
decorrência das noitadas da campanha, e eu fiz uma besteira, abandonei o
colégio, a professora Nilma, me pediu tanto para não fazer isso, a Luziinha,
também, pediu muito, eu não as escutei e abandonei, ou seja, me ferrei. Eleição
perdida e o ano também...
Assim terminava o período
escolar no colégio do “Astro Rei”. Mas sempre que passo na porta parece que
ouço a galera do esporte batendo bola na quadra, muitos foram os amigos que ali
conquistei. Rafton, Primo, Marques, Cairo “perereca”, Jesuíno, Cleuber,
Lazinho, Eduardo, Nevilton e tantos outros... A turma da farra, Celestino, Manoel e
Selmo, Roberto, Nilton César e Zé Rodrigues, Cesinha, e o Jesus (Jesus
transformou guaraná em pinga)... Sem piada, mas até Jesus fazia farra. A fundo,
ouço o Aloisio Nakayama fazendo um solo
no tarol... O sol se põe, colégio permanece e as histórias acontecem...
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Aloisio Nakayama |