Fábio
Trancolin
A
lembrança dos sabores dos tempos de criança lembrou-me de mais um o doce o “quebra-queixo.
“ O doce é típico do nordeste, conta a história que após um dia na lavoura de
açúcar, os negros reuniam em senzalas e esse doce era fabricado pelas mucamas e
é do tempo do Brasil escravo, ele é feito basicamente de coco e açúcar ele fica
puxa-puxa e durante a mastigação o quebra-queixo apresenta-se bem duro e, por
isso tem-se a sensação de que o queixo vai quebrar-se: daí o nome. Em quase
toda a cidade, se encontra o vendedor e seu tabuleiro.
E,
em Rio Verde, não poderia ficar sem esse representante da culinária e tradição
nordestina. Quando eu era garoto, via quando ele vinha vindo com o tabuleiro na
cabeça e gritando “olha o quebra queixooooo...”. Na Avenida Presidente Vargas,
ele subia e descia, na exposição agropecuária ele não faltava, o tabuleiro na
cabeça e o suporte nas mãos, ele escolhia um lugar e ali ficava, a espátula,
ele manejava e no papel colocava, e como diz o Júlio do cocoricó “Puxa,
puxa que puxa!”.
E, hoje, depois de tanto tempo, ainda encontro com ele pelas ruas da
cidade e com o tabuleiro na cabeça. E o homem do quebra-queixo se chama
Lourenço, é filho da cidade Rio Tinto no Estado da Paraíba, e ainda ele esta
andando pelas ruas de Rio Verde, lá se vão 36 anos. E como diz Dorival Caymmi, “no
tabuleiro da baiana tem vatapá, caruru, mungunzá, tem umbu pra ioiô”. No
tabuleiro do Lourenço tem lembrança, tem saudades, tem vontade de voltar no
tempo e ser criança. E no puxa que puxa, puxa o cheiro do coco caramelizado que
do pensamento não sai. O melado que nos dedos e nos dentes ficava grudado, na
memória ele tem lugar guardado.