Fábio Trancolin
Nos
domingos à tarde, as famílias em Rio Verde tinham um hábito do qual eu fiz
parte várias vezes, ir tomar banho no córrego. Naqueles tempos, isso era comum,
no córrego do Abóbora, Pirapitinga, Monte Alegre, Montividiu e, naquela época,
ele já era temido, o Rio Verdinho... E foram vários os córregos da infância,
conheci muitos, no ‘Ribeirão do Meio’ havia muitos pontos, ele nos oferecia
várias possibilidades de lugares. Lá íamos nós na carroceria de caminhão para
as beirada de rio...
O
mais procurado com certeza era o Ribeirão
do Meio, na estrada que vai para Aparecida do Rio Doce, assim que passava a
ponte do córrego, vira-se à esquerda e lá estava um belo lugar para se passar
um dia. Muito e muitos domingos fomos lá. Quantas costelas de ripas foram assadas nos buracos que eram feitos de
baixo das árvores que circundavam o lugar. Estive ali com a turma do colégio.
Ficávamos chateados quando lá chegávamos e tinham outras pessoas, geralmente, a
turma que levava as mulheres de má índole... Isso aconteceu poucas vezes. O
lugar era mais família.
Também,
havia aqueles que a molecada procurava, não eram tão longe e íamos de
bicicletas, ou mesmo na caminhada. Tínhamos o “córrego do trabalho” na BR-060
logo depois das Furnas, o da Laje um pouco mais à frente. O Córrego Galinha que
naquela época não era na descida na rodoviária, pois ela não existia, dava uma
boa caminhada para lá chegar. Ele era preservado e ali frequentávamos. Lá “pra
bandas” do Matadouro, tinha o córrego do Darlot e pra lá também íamos, havia
uns belos pés de goiabas. E várias eram as lagoas para aqueles lados. E, o lago
do Clube Campestre, também, por nós era frequentado.
Hoje,
as porteiras e as cercas fecharam as possibilidades de avançar em seus limites,
não se frequenta tantos as suas beiradas e margens, o cantar de um ribeirão na
curva das pedras não se vê, e não se ouve mais, e não se atravessa mais as
pinguelas... Hoje, os ranchos e as ilhas
privadas é que tem o atrativo. Só quem assou uma costela na margem de um rio,
sabe do que falo. Sente o cheiro e se delicia com a lembrança do sabor, e
esquenta o “esqueleto” num gole de “Chora Rita”, “Velho Barreiro”, “Jamel” e a
boa de engenho.
A
cantoria na carroceria de caminhão não se ouve mais, os trovadores de outrora
calaram e ficaram apenas na memória. Quantas vezes, na volta, a chuva nos
pegava no meio do caminho e quando não tinha lona, deixava a água escorrer pelo
corpo e ensopar até a alma, e a cachaça esquentava o frio que a chuva deixava.
O cheiro do cerrado banhado pelas lágrimas da natureza deixava o aroma que da
lembrança não sai.