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segunda-feira, 23 de junho de 2014

Os córregos da minha infância


Fábio Trancolin

Nos domingos à tarde, as famílias em Rio Verde tinham um hábito do qual eu fiz parte várias vezes, ir tomar banho no córrego. Naqueles tempos, isso era comum, no córrego do Abóbora, Pirapitinga, Monte Alegre, Montividiu e, naquela época, ele já era temido, o Rio Verdinho... E foram vários os córregos da infância, conheci muitos, no ‘Ribeirão do Meio’ havia muitos pontos, ele nos oferecia várias possibilidades de lugares. Lá íamos nós na carroceria de caminhão para as beirada de rio... 


O mais procurado com certeza era o Ribeirão do Meio, na estrada que vai para Aparecida do Rio Doce, assim que passava a ponte do córrego, vira-se à esquerda e lá estava um belo lugar para se passar um dia. Muito e muitos domingos fomos lá. Quantas costelas de ripas foram assadas nos buracos que eram feitos de baixo das árvores que circundavam o lugar. Estive ali com a turma do colégio. Ficávamos chateados quando lá chegávamos e tinham outras pessoas, geralmente, a turma que levava as mulheres de má índole... Isso aconteceu poucas vezes. O lugar era mais família. 


Também, havia aqueles que a molecada procurava, não eram tão longe e íamos de bicicletas, ou mesmo na caminhada. Tínhamos o “córrego do trabalho” na BR-060 logo depois das Furnas, o da Laje um pouco mais à frente. O Córrego Galinha que naquela época não era na descida na rodoviária, pois ela não existia, dava uma boa caminhada para lá chegar. Ele era preservado e ali frequentávamos. Lá “pra bandas” do Matadouro, tinha o córrego do Darlot e pra lá também íamos, havia uns belos pés de goiabas. E várias eram as lagoas para aqueles lados. E, o lago do Clube Campestre, também, por nós era frequentado. 


Hoje, as porteiras e as cercas fecharam as possibilidades de avançar em seus limites, não se frequenta tantos as suas beiradas e margens, o cantar de um ribeirão na curva das pedras não se vê, e não se ouve mais, e não se atravessa mais as pinguelas...  Hoje, os ranchos e as ilhas privadas é que tem o atrativo. Só quem assou uma costela na margem de um rio, sabe do que falo. Sente o cheiro e se delicia com a lembrança do sabor, e esquenta o “esqueleto” num gole de “Chora Rita”, “Velho Barreiro”, “Jamel” e a boa de engenho. 


A cantoria na carroceria de caminhão não se ouve mais, os trovadores de outrora calaram e ficaram apenas na memória. Quantas vezes, na volta, a chuva nos pegava no meio do caminho e quando não tinha lona, deixava a água escorrer pelo corpo e ensopar até a alma, e a cachaça esquentava o frio que a chuva deixava. O cheiro do cerrado banhado pelas lágrimas da natureza deixava o aroma que da lembrança não sai.      



  



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