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segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

O leiteiro na porta gritava - ‘Oiaaa o leeeiiitte’


Fábio Trancolin


Com o passar do tempo vai se perdendo a tradição. E uma dessas tradições era a entrega de leite nas garrafas, durante as madrugadas, isso acontecia lá pelos meados do século XX. O leiteiro entregava seus produtos nas carrocinhas, charretes puxadas por cavalos. Geralmente esses profissionais eram formados por pequenos produtores rurais, ou mesmo aqueles que terceirizavam, eles iniciavam o seu trabalho ao romper da aurora. O produto vinha acondicionado em latões com capacidade para 20 ou mais litros. Isso era comum nas grandes cidades nas décadas de 50/60. No interior a profissão estendeu por um tempo maior.


No inicio da década de 70 na minha casa o leiteiro vinha até a porta, o senhor Lourival Parreira entregou muitos litros na minha casa. Isso era tradição nas ruas da pequena Rio Verde. O leiteiro aparecia e aquele grito tradicional ‘oiaaa o leeeiiittte’... Minutos depois apareciam as mulheres ou as crianças no portão, munidas de uma vasilha de alumínio – uma panela ou um caldeirão – onde era depositado o líquido e já era levado ao fogão, para ser fervido. Nesse momento as vizinhas aproveitavam o momento para interagir e atualizar as novidades. 
                                                                                                 Foto: Lela Vieira

Outro leiteiro que fez parte da rotina do nosso dia a dia foi o seu João Borges, quando nos fomos morar na Rua Ricardo Campos, ele tornou-se o nosso leiteiro oficial, e por um bom tempo todos os dias, ele fez a entrega do rico liquido na nossa humilde residência. Hoje ainda o encontro pelas ruas da cidade na sua rotina constante, pedalando a bicicleta cargueira com os latões amarrados, e lá vai ele, gritando à famosa e tradicional frase ‘oiaaa o leeeiiittte’. São mais de 40 anos na entrega diária. 


Em 1999 quando retornei de São Paulo o meu filho então com quatro meses, tomava leite Nan, caro as latinhas adquiridas nas farmácias e supermercados. E o meu vizinho amigo antigo dos tempos de Colégio do Sol, fazia freguesia do leite que ele trazia da roça. A mãe falou para a minha esposa, ‘pode dar o leite pra ele, criei os meus assim, e nunca fez mal’, pois a Silvia tinha receio de fazer mamadeira com leite entregue na porta, mas foi convencida que aquilo não faria mal algum, e por mais de 14 anos o amigo Laudemar de segunda a sábado gritou na porta de casa, ‘oiaaa o leeeiiittte’... A entrega parou, mas todos os dias pelos menos dois saquinhos de leite Real e adquirido e fervido na minha casa, é o que mais se aproxima do gosto da roça... Leite de caixinha nem pensar... 



  


segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Quando que o ‘aerocar’ vai chegar?


Fábio Trancolin


Nos anos 70, assistíamos um monte de desenhos legais. Eu gostava de vários, mas um me chamava à atenção ‘Os Jetsons’, a família futurista, que era composta por George, Jane e os filhos Judy e Elroy, e é claro tinha um cachorro, o Astro. O ano era 75, e a série tinha sido criada nos Estados Unidos em 1962. E a ideia era que tudo isso aconteceria em 2062, carros voando, as máquinas fariam tudo, era só aperta um botão, e o sanduiche estava pronto, tudo pratico e rápido. Sem esforço as esteiras rolantes te levavam daqui pra lá, o telefone seria no vídeo.


No final da década de 80 no clássico ‘Back to the Future II (De volta para o futuro II) de Robert Zemeckis, em uma viagem no DeLorean, Martin McFly e Doctor Brown desembarcam em 2015, os carros voam e tudo é high tech. Analisando tudo isso vê que muitas coisas aconteceram, não como idealizaram Hannah & Barbera e Robert Zemeckis. Em alguns detalhes a vida imitou a arte, as videoconferências que acontecia entre George e o patrão acontecem hoje pelo mundo, naquele momento era algo inatingível, só existia no mundo imaginário de Hannah & Barbera... O ‘Aerocar’ ainda não chegou, será que até 2062 ele estará por ai...? Projetos e mais projetos estão nos computadores de Engenheiros espalhados pelo mundo.

Marty Mcfly acelerou 30 anos. Ele visitou 2015, esta próxima à data que o capacitor de fluxo o levou.  Os carros também voavam as casas respondiam ao simples toque e reconhecia voz do dono, as máquinas totalmente inteligentes muitas coisas não são como pensou Zemeckis, outras estão muito perto do que ele imaginou e umas tantas são realidades... E como será a Rio Verde de 2045... Estará próxima da cidade nas alturas dos Jetsons ou da Hill Valley de Mcfly em 2015.


A vida que passa acelerada e flui pelos vão dos dedos e escorregam nas areias da ampulheta, não na ampulheta dos egípcios, mas na contagem no cronômetro que hoje parece que está mais acelerado que na época da bela infância. A percepção é que hoje o dia tem 16 horas. Tudo tão virtual, a geração de cabeça baixa, que são atropeladas e atropelam os outros, o teclado que tecla e tecla, e a sua vida sendo teclada... Observada, e invadida, a privacidade é desnudada... Tudo ficou ao alcance da bisbilhotice, pensadores da vida alheia...


Rio Verde tem 166 anos, há 40 anos quando ele fez 126, a cidade estava estacionada e o número de habitantes não chegava a 50 mil, muito pouco se via, ou não se percebia, bairros demoravam a sair do papel, o asfalto não chegava e a poeira reinava, o cerrado circundava. Porém, era um tempo de satisfação da aproximação entre os amigos, vizinhos e a comunidade, todos se conheciam e se cumprimentavam, e é claro se respeitavam... Nos últimos dez anos a aceleração pela qual passou, assusta quem fica distante ou não vê ou não percebe, e quando se da conta, passou, mudou e se transformou.


Vão erguendo prédios aos montes... Vão transformando o cenário e a visão, para onde você olha esta ‘brotando’ uma edificação. A mudança vem acelerada, varrendo tudo, derrubando ou transformado. Hoje a cidade passou de 200 mil habitantes, e nas conversas que temos com os entendidos de números e estatísticas, alguns dizem que Rio Verde em 10 anos dobra de tamanho, outros falam em 300 mil, como será...? Como vai ser a Rio Verde com 500 mil habitantes, será necessário criar o ‘aerocar’, pois do jeito que segue a questão trânsito, só voando... Saúde, habitação e exploração imobiliária, como fazer, ou o que fazer? Desmatamento com a serras metálicas vão tombando tudo, não esta na hora de começar o reflorestamento? A Cantareira serve de exemplo em São Paulo, secou. O Nordeste há anos convive com o problema seca, e a transposição não chega, e vai demorar para chegar... E como fica a desertificação em alguns pontos? Não vejo projetos para fazer bosques, cuidar de alguns pontos, a cidade cresce e no meio não tem uma área de proteção ambiental, apenas prédios; só as imobiliárias ganham... Todos deveriam se beneficiar. 


Que a cidade vai crescer e acelerar isso são fatos, e fato, é que os problemas também vão crescer, mas que possamos aprender com os erros dos outros, e nos preparar para o futuro, precisamos arborizar, cuidar da água e das árvores, elaborar um plano diretor, que atenda aos interesses da população, e não o da classe política de determinados grupos, por isso uma Câmara bem constituída fará a diferença. E não pode deixar acontecer os erros do passado, e como dizia a música ‘minha dor é perceber, que apesar de termos feito tudo... Tudo o que fizemos, nós ainda somos os mesmos... ’A Princesinha cresceu, ainda não casou, pois lhe falta um príncipe encantado, ela aguarda que ele venha e possam viver no feliz para sempre... Mas acredito que ela seja outra personagem da história infantil, e o Lobo Mau roubou a sua cestinha e a violentou... Espero que ela possa ser a como Alice que depois de um pesadelo sairá do sonho e seguirá o caminho certo, pois acreditamos numa cidade das maravilhas...