Fábio
Trancolin
Com
o passar do tempo vai se perdendo a tradição. E uma dessas tradições era a entrega
de leite nas garrafas, durante as madrugadas, isso acontecia lá pelos meados do século
XX. O leiteiro entregava seus produtos nas carrocinhas, charretes puxadas por
cavalos. Geralmente esses profissionais eram formados por pequenos produtores
rurais, ou mesmo aqueles que terceirizavam, eles iniciavam o seu trabalho ao
romper da aurora. O produto vinha acondicionado em latões com capacidade para
20 ou mais litros. Isso era comum nas grandes cidades nas décadas de 50/60. No
interior a profissão estendeu por um tempo maior.
No inicio da década de 70 na minha
casa o leiteiro vinha até a porta, o senhor Lourival Parreira entregou muitos
litros na minha casa. Isso era tradição nas ruas da pequena Rio Verde. O
leiteiro aparecia e aquele grito tradicional ‘oiaaa o leeeiiittte’... Minutos
depois apareciam as mulheres ou as crianças no portão, munidas de uma vasilha
de alumínio – uma panela ou um caldeirão – onde era depositado o líquido e já
era levado ao fogão, para ser fervido. Nesse momento as vizinhas aproveitavam o
momento para interagir e atualizar as novidades.
Foto: Lela Vieira |
Outro leiteiro que fez parte da rotina
do nosso dia a dia foi o seu João Borges, quando nos fomos morar na Rua Ricardo
Campos, ele tornou-se o nosso leiteiro oficial, e por um bom tempo todos os
dias, ele fez a entrega do rico liquido na nossa humilde residência. Hoje ainda
o encontro pelas ruas da cidade na sua rotina constante, pedalando a bicicleta
cargueira com os latões amarrados, e lá vai ele, gritando à famosa e
tradicional frase ‘oiaaa o leeeiiittte’. São mais de 40 anos na entrega diária.
Em 1999 quando retornei de São Paulo o
meu filho então com quatro meses, tomava leite Nan, caro as latinhas adquiridas
nas farmácias e supermercados. E o meu vizinho amigo antigo dos tempos de
Colégio do Sol, fazia freguesia do leite que ele trazia da roça. A mãe falou
para a minha esposa, ‘pode dar o leite pra ele, criei os meus assim, e nunca
fez mal’, pois a Silvia tinha receio de fazer mamadeira com leite entregue na
porta, mas foi convencida que aquilo não faria mal algum, e por mais de 14 anos
o amigo Laudemar de segunda a sábado gritou na porta de casa, ‘oiaaa o leeeiiittte’...
A entrega parou, mas todos os dias pelos menos dois saquinhos de leite Real e
adquirido e fervido na minha casa, é o que mais se aproxima do gosto da roça...
Leite de caixinha nem pensar...