Páginas

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Futebol na rua


Fábio Trancolin
Uma das maiores alegrias da infância, era uma bola. Indiferente do modelo ou tamanho, plástico, couro, número 2,3 ou 4... “Dente de leite”, plástico fino ou grosso, “Capotão” ou de salão... o formidável era a esfera dos sonhos. O lugar não interessava, o importante era o espaço. Uma turma, uma bola, a brincadeira escorria, só terminava quando a luz natural se punha.

Acredito que não teve uma quadra na minha época da infância, que eu não tenha disputado uma partida. Íamos longe para um jogo de futebol, do piso áspero da quadra da escola Raio de Luz, aos tacos lisos da AABB, da imensa quadra do módulo esportivo a pequena quadra da escola de enfermagem. As escolas abriam seus portões para o acesso da molecada. Porém, nenhuma me trouxe tanta satisfação, paixão, quanto a do Tiro de Guerra, ali foram dias inteiros de um gol ao outro. Dente quebrado, joelhos esfolados e algumas contusões, mas a felicidade de ali estar... Nada pode comparar... Não posso esquecer da quadra do Colégio do “Astro Rei’, ali foram partidas memoráveis nos interclasses, no 2 ou 10, ou nas aulas de educação física.

Quanta saudade das inesquecíveis partidas de rua... Duas pedras, dois tijolos ou garrafas, camisas emboladas, chinelos, os livros da escola, conta três passos, assim era o espaço de um gol. Par ou ímpar, escolhe esse, escolhe aquele, quem sobrou espera, faz o time de fora, entra depois, todos jogam, todos esperam a sua vez, sem camisa, com camisa... O jogo normalmente vira 5 e termina 10. Pode durar até a mãe do dono da bola chamar ou até escurecer... De kichute, de conga ou descalço isso tanto faz... Para, para deixa o carro passar... Quem chutar pra longe vai buscar...a partida continua... Tinha carrinho pela frente ou por trás, falta só se sair sangue...  “Chuta a bola filho da p...” “A vai tomar no seu c” ...  “Gordo mole...” “Neguim safado, larga essa bola, toca...” “Viado do caralh..” ... Naquela época isso não era bullying. Segura, empurra, a paz reina, a partida continua... Quando estava escurecendo e um time estivesse ganhando de 10 a 2, sempre tinha alguém que gritava, “quem fizer ganha...” Éramos todos amigos, ninguém se ofendia... Ninguém contava pra mãe... No final, joelho e cotovelo ralado, tampão do dedo dilacerado... Em casa tem mertiolate, vai arder... Sopra, sopra, sopra...                 





segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Metamorfose


Fábio Trancolin




No quintal da minha casa um pequeno casulo apareceu na roseira, fiquei observando, olhando para aquele pequeno alvéolo. Veio na mente as fases da metamorfose, etapas que nós também passamos. A crisálida tem um período de um pouco mais de uma semana, o nosso é bem mais longo. A palavra metamorfose, vem do grego metamorphosis, os prefixos "meta" significa mudar e "morfón" significa forma.  O termo metamorfose passa a ideia de modificação, ou seja, transformação de uma forma em outra.

O ser humano com a sua infância maravilhosa, sem preocupação, não sabe nem o que a banda toca, alguns imaginam que os pais não têm problemas e são ricos... Ouvindo uma atriz certa vez, ela disse que até os 12 anos, ela imaginava que era muito rica, pois nunca lhe faltou nada, a frustração veio quando a realidade foi revelada... Quando chega os vinte e poucos anos, nós achamos que somos capazes de tudo e podemos fazer o que quisermos, somos super-heróis e temos grande confiança no futuro. 

O tempo passa, e passa o tempo, e a frase só quero saber dos meus 20 e poucos anos, já não vale mais e não faz sentido... Quando vem a fase do ‘enta’ aí então você aguenta... Para algumas pessoas vem a fase das decepções, a insatisfação com a carreira mal escolhida, relacionamentos desfeitos... Estão indo para chegar aonde...?  Mas, muitos veem essa fase como uma das melhores (vejo assim) ... Aproveite cada etapa e viva... Viva bem!!! “Se hoje eu sou estrela, amanhã já se apagou... Se hoje eu te odeio, amanhã lhe tenho amor... “




quarta-feira, 27 de julho de 2016

A coleção que eu deveria ter colecionado`


Fábio Trancolin

Para quem ama livros (eu), não tem como não lembrar da coleção Vaga-Lume, ela conta com mais de 80 títulos.  Acredito que muitos iguais a eu, tem uma ligação afetiva com a série de livros, que era muito usada nas escolas de todo o país nas décadas de 70 e 80. A coleção transformou em leitores os adultos de hoje. Naquela época os livros despertaram o gosto pela leitura de muitos jovens (eu sou um exemplo disso, você provavelmente também é). A série Vaga-Lume foi um grande (acredito que ainda é) sucesso, sendo uma das principais responsáveis pela formação de dezenas de milhares de leitores espalhado pelo país afora. O meu primeiro livro da coleção foi ‘O caso da borboleta Atíria’ (Lúcia Machado de Almeida).


Eu fazia na época a 5ª série (1981), no Colégio Prof. José de Campos Camargo, em São Paulo. A professora de Português Maria Elza, pediu que lêssemos o livro. Eu comprei o meu numa livraria e papelaria que tinha na Av. Amador Bueno da Veiga, em frente ao Colégio Barão de Ramalho. Essa é a sinopse do livro: (Um crime acontece no mundo dos insetos. A noiva do Príncipe Grilo foi misteriosamente assassinada. Os mesmos criminosos sequestram Atíria. Quem seriam eles e qual o motivo do crime?)  Tínhamos que ler, e no final do livro, vinha um questionário para que pudéssemos responder, ou seja, não tinha como responder, se não lêssemos o livro. A entrega do questionário respondido era a prova.  Outro título que a Maria Elza pediu para ler, foi “Cem noites Tapuias”. Tive a oportunidade de ler outros títulos, ‘Coração de Onça, ‘O Rapto do Garoto de Ouro’, ‘Sozinha no Mundo’, ‘Tonico’ e ‘A Ilha Perdida’ ...


Algumas curiosidades da coleção Vaga-Lume: Lançados de uma só vez, os primeiros títulos foram: A Ilha Perdida (Maria José Dupré); Cabra das Rocas (Homero Homem); Coração de Onça (Ofélia e Narbal Fontes) e Éramos Seis (Maria José Dupré). Os autores mais vendidos foram Maria José Dupré (A Ilha Perdida e Éramos Seis) e Lúcia Machado de Almeida (O Escaravelho do Diabo, O Caso da Borboleta Atíria, entre outros). Sendo que A ilha perdida é o título mais vendido, já ultrapassou a marca de 2,2 milhões de exemplares. O Escaravelho do Diabo, que foi lançado em 1972 e está na sua 27ª Edição, esse ano virou filme.
O autor mais publicado pela série foi o paulista Edmundo Donato, mais conhecido como (Marcos Rey), com 15 livros. Entre os seus livros estão ‘O Rapto do Garoto de Ouro’, ‘Um Cadáver Ouve Rádio’, ‘O Mistério do Cinco Estrelas’, ‘Sozinha no Mundo’ e ‘Dinheiro do Céu’. Livros como ‘Cem Noites Tapuias’, ‘Coração de Onça’ e ‘O Gigante de Botas’ foram escritos não por uma pessoa, mas duas: o casal Narbal de Marsillac Fontes e Ofélia de Avelar Barros Fontes. Coração de Onça é o meu favorito. A coleção Vaga-Lume ultrapassa os 8 milhões de exemplares vendidos.



Quando estava escrevendo essa crônica, procurei nas redes sociais a professora Maria Elza, através da minha prima Claudia Cristina à encontrei. Na última postagem dela estava escrito: “Dia do transplante - 15 de março (terça-feira). Que Deus Pai, todo poderoso, Senhor do Universo, ilumine os médicos, o doador, me guarde, me proteja e me cure. Amém!” ... Infelizmente não foi bem sucedida a cirurgia, a professora partiu... A lembrança que trago na memória e da bela morena, com um livro na mão, sentada na ponta da mesa, contando histórias e com um lindo e largo sorriso no rosto... Eu agradeço que você tenha feito parte da minha história e de alguma forma ter contribuído para o meu gosto pela literatura... Que eu encontre a ilha perdida, que eu tenha a coragem do coração de onça, que eu possa ser o menino de asas e desvendar o mistério dos morros dourados... 


quinta-feira, 5 de maio de 2016

Era uma vez uma árvore


Fábio Trancolin

Era uma vez uma árvore muito bonita, ela era majestosa, imponente e esplendorosa. De muito longe quem olhasse em sua direção os seus galhos avistava. Como era linda a árvore da minha infância, da infância do meu pai e da infância de outros tantos. O pai conta a história que nos tempos longe da infância de moleque feliz, por lá andava em companhia do meu avô, os galhos das árvores recolhidos alimentavam o fogo do fogão a lenha que noite e dia ardia...

                        Foto: Fábio Trancolin
Como era linda a árvore que no outono de rosa pintava o céu, o chão e de longe se via... Os Beija-flores beijavam as flores e a festa faziam. Mais de um século passou, e ela em pé ficou... Muitas coisas ela do alto observou. No outono ela floria... Seu porte, suas flores de alegria a todos enchiam... Certa época do ano, as flores caiam, ela secava, seus galhos pelados ficavam, parecia que a morte lhe abateu, porém a cada ano ela floresceu. O tempo foi passando, os dias, anos, décadas... Ela lá, olhando ao redor, a cidade chegou aos teus pés, a floresta que lá havia, em cafezal transformou, os pés de café arrancados foram, as casas no lugar ficaram...  Um dia, porém ela tombou... Caiu, alguém por maldade o tronco lhe feriu... Triste, atitude do ser dito racional... A cor floral, acabou, virou recorte de jornal.

                                  Foto: Fábio Trancolin
Não muito longe de onde a rainha reinava, outra de menor porte, faz a alegria geral, pois ela resiste já algumas décadas, encanta e floresce... E tal qual a outra, viu, e vai ver muitas outras coisas... As floradas logo depois do carnaval, os beija-flores virão sugar o néctar... E onde um dia a gigante habitou, nasce uma pequena muda, que algum dia, se tornará a beleza do local... Espero ver, mas sei que será difícil, pois do porte da majestosa nos seus quase 50 metros, talvez não veja... 

                                      Foto: Fábio Trancolin



domingo, 3 de janeiro de 2016

1976... Feliz ano velho!


Fábio Trancolin


Para começar essa história relembro alguns fatos que marcaram a época a ser citada, eu adoro histórias, fatos, lembranças, e, é claro, recordar. O ano em questão é 1976. Naqueles tempos eu o via como mais um ano, entra ano e sai ano. Para um garoto de sete anos, tudo era tranquilo na ordem da sequência que a vida conduz. Na visão da doutrina a qual eu sigo, diz que o processo reencarnacionista estará consolidado aos sete anos. Então o ano começou eu estava consolidado no proposto para ao qual eu vim. 

Morávamos na Rua Afonso Ferreira, quase esquina com a Augusta Bastos. Tempos bons, não via maldade, problemas ou falta de qualquer coisa. Tudo nos era ofertado na medida que o pai podia, sabe que era muito, mesmo sendo pouco. Televisão nos divertia, fascinava e ‘prendia’. Os desenhos Hanna-Barbera nos encantava. Algumas novelas merecem ser citadas, elas fizeram sucesso naquele ano, e são inesquecíveis: Saramandaia, O Casarão, Estúpido Cupido e a Escrava Isaura. As músicas daquele ano, que hoje ainda estão na Play List, Meu mundo e nada mais, Guilherme Arantes; Nuvem passageira, Hermes de Aquino; Sobradinho, Sá & Guarabira, Pavão misterioso, Ednardo, Roberto cantava “Os botões da blusa que você usava, e meio confusa desabotoava”, Raul dizia que nasceu há dez mil anos atrás, Rod Stewart navegava na bela ‘Sailing’, Elis cantava “É você que ama o passado e que não vê... Que o novo sempre vem... Na linda canção, ‘Como nossos pais...’ Nesse ano nasceu uma das maiores bandas de rock, o U2. Em 76, Juscelino o presidente da construção foi embora. A musa Ângela Diniz também partiu. Não posso deixar de citar o título paulista do Alviverde Imponente, que depois desse, amargaria uma fila de dezesseis anos de seca. 


Depois de ter citado esses acontecimentos, aqui começa a minha história, venho falar de um fato que aconteceu naquele ano, foi um dia após eu completar oito anos, era 7 de setembro. Dava início as obras da Associação Procáritas, a edificação fora doada pelo Anjo bom, a Dona Marieta. Os confrades da Doutrina Espirita reuniram e deram início ao que viria ser o Sanatório Espirita Dona Marieta, nessa reunião estavam presentes, Paulo Campos, Allan Kardec Ferreira, José Costa Martins, Orcalino Ferreira, Antônio Martins, Humberto Ferreira, Alípio Gouveia e Antônio Martins, sendo o “Seu Antônio” o primeiro Diretor da instituição, a frente dela ficou por quase 30 anos, só deixando o trabalho que por tantos anos com amor fizera, quando voltou para o Plano Maior. E ali os amigos do Plano Invisível, auxiliaram por quase 40 anos uma equipe dedicada que amparou os irmãos com distúrbios e transtornos psicológicos, mentais e espirituais.


A palavra sanatório na sua etimologia vem do latim, sanare.  É o lugar onde são internadas as pessoas que precisam de tratamentos para serem "saradas", vem de sanar. É conhecido popularmente como um local para identificar o lugar onde são sanadas as enfermidades mentais. A alguns anos o nome de sanatório caiu em desuso, sendo assim, depois de tantos anos o lugar amigo passa a ser chamado de CLÍNICA ESPÍRITA CAMINHO DA LUZ. E no dia 28 de dezembro 2015, as portas fecharam, para não mais abrirem. Terminou o trabalho, a casa infelizmente não dispõe de recursos financeiros, para manter as normas exigidas. Ali eram auxiliados os necessitados da cidade e também da redondeza, que buscavam amparo. Durante esses anos, inúmeros foram as famílias que buscaram socorro, quantos desesperadas, sempre quem procuraram as portas, ali sempre teve o auxílio, uma palavra de carinho e nunca ninguém voltou sem ser socorrido.

Seu Antônio
Quando menino por ali passava e via os pacientes nas janelas pedindo cigarros, ou apenas um OI. Outros um tanto exaltados, gritavam, pediam para irem embora. Na cabeça sempre vinha, que para auxiliar aquelas pessoas, alguém com muita paciência era necessário. E sempre teve ali essas pessoas, elas venceram os desafios com fé, coragem e determinação.

Dona Marieta
Terminou o auxílio, o cheirinho delicioso que vinha da cozinha, que ficava ali nos fundos da rua Rafael Nascimento, o cheiro sempre convidativo, esse aroma invadia as narinas, também não vai ter mais... Os trabalhadores da última hora partiram, os pacientes que tinham famílias, devolvidos foram, a meia dúzia que sem morada ali estavam estabelecidos, amparados por mãos amigas estão. A família Martins que dedicou a vida a instituição de olhos marejados, acreditam que a parte que o Pai Maior lhe pediu foi feita. No Plano Espiritual os que contribuíram para edificação, oram e pedem vibração, vibração que nunca faltou a casa de amparo, que tanto fez por aqueles que pelas provações da mente, da obsessão tiveram que passar... Não sabemos o que o futuro nos reserva, mas o passado não esqueceremos, todo o bem que a CASA fez no tempo em que as portas abertas estiveram... Sabe, 76 foi um ano bom... Feliz ano velho!