Páginas

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Foram muitas às vezes que eu votei!


Fábio Trancolin

Já se passaram três décadas da primeira votação em que tive a oportunidade de participar... foram oito eleições Municipais e outras oito Gerais. Era o feriado de 15 de novembro de 1988, uma terça-feira, morava na Rua Corin, minha seção era na Escola Galileu Menon, na Vila Ré, eleições municipais, votei para escolher o prefeito de São Paulo. Só não votei em 1986, porque fiz 18 anos em setembro, só poderia votar naquelas eleições, quem fizesse dezoito anos até agosto, sendo assim, não tive a chance de votar no Mauro Borges que era o candidato ao governo do Estado de Goiás, mas trabalhei muito naquela eleição. Eram outros tempos não tinha tanto ‘mimimi’... Fiz muito ‘grude’ para colar cartaz... Muitos comícios em carroceria de caminhão... Foram várias aventuras, passei por cada uma... boas lembranças de uma campanha que não ganhamos... 



Na segunda vez já tive a oportunidade de votar para presidente, algo que não acontecia desde 1960, foram 29 anos de eleições indiretas. Ela também foi em 15 de novembro, no dia da Proclamação da República... Vinte e dois candidatos, entre eles bons nomes, mas, voto é voto, às vezes as escolhas não agrada. Em 1990, passou a ser no dia 3 de outubro, quarta-feira. Porque 3 de outubro? Essa data coincide com o prazo estipulado pela Constituição de 1988 - ela determina que a eleição para presidente e governadores se realize noventa dias antes da sua posse, que é em primeiro de janeiro. Entre 3 de outubro e 1º de janeiro há exatamente 90 dias.


Em 90, para governo do Estado de São Paulo teve uma disputa difícil entre Covas, Maluf e Fleury, os dois últimos foram para o 2º Turno, pela primeira e última vez, anulei meu voto... em 92 as eleições pegaram fogo, o Fora Collor invadiu as ruas da cidade, os ‘caras pintadas’ pintaram as caras e as ruas... Antes das eleições dois fatos marcaram  aquela semana, no dia 29 de setembro, na terça-feira o impeachment de Collor, o Congresso Nacional aprovou por 441 votos favoráveis e apenas 38 contrários a saída do Fernando. Na sexta-feira o Massacre do Carandiru, no sábado ainda com o estrago pelo ocorrido um dia antes, aconteceu as eleições, Maluf derrotou Suplicy, que era o candidato da então prefeita Luiza Erundina do PT e Aloisio Nunes o vice govenador... A partir de 98 passou a ser a cada primeiro domingo de outubro, sendo assim, as eleições sempre aos domingos.  


Em 1993, votei no plebiscito, ele ocorreu em 21 de abril de 1993 para determinar a forma e o sistema de governo do país. Após a redemocratização do Brasil, uma emenda da nova Constituição determinava a realização de um plebiscito para se decidir se o país deveria ter uma forma de governo republicana ou monarquia, e se o sistema de governo seria presidencialista ou parlamentarista. A Monarquia teve 6.843.196 e a República 44.266.608, votei na República. Na outra opção, o Presidencialista teve 37.256.884, o Parlamentarista, 16.518.028, eu votei em quem perdeu.



Das oito eleições municipais, entre 88 e 96 escolhi o prefeito de São Paulo, desde 2000, escolho o de Rio Verde...   Nas eleições de 94 e 98 eu votei em um dos melhores políticos que já passaram por aqui, Mario Covas para o Governo de São Paulo, (essa é a minha opinião, sei também que é a de milhões de pessoas...) Covas nasceu em uma data importante para a Nação, o 21 de abril... Mario Covas foi eleito senador em 1986 com 7,7 milhões de votos, a maior votação de um candidato a cargo eletivo na história do Brasil (naquele momento), desencarnou em 2001. Em 2000, depois de um certo tempo longe de Rio Verde, estava de volta... prestei serviços na campanha, não deveria ter participado, mas acabei me envolvendo, não foi algo bom, isso acabou marcando, sofri perseguições por parte de quem venceu...  Em 2010 lá estava eu envolvido em campanha novamente (foi a última vez, não pretendo participar nunca mais, como o nunca mais é um tanto quanto forte, quiçá...) Nos embates das redes, de um lado “eles” do outro “nós”... mas quem são eles, quem somos nós... Assim, quem já escreveu na cédula, hoje tecla, quem sabe um dia votaremos de uma outra forma... talvez pelo simples olhar da íris... 





sexta-feira, 21 de setembro de 2018

As mongubas



Fábio Trancolin 



Houve um tempo em que elas dominavam as ruas e praças, o cheiro delas invadia os lares de portas e janelas abertas, não se cortavam tão facilmente, era um período em que elas nos protegiam do sol, faziam sombras nas calçadas e o asfalto não ficava tão quente... Lembro delas, eram várias, elas estavam em todos os pontos da cidade.


As grandes flores, amarelas e de pontas avermelhadas, lhe dão um toque de exotismo, além da função ornamental, como arborizar ruas urbanas. As árvores são o maior patrimônio ambiental que existe nas cidades, pois elas abrigam os pássaros, que espalham as sementes, que comem os insetos. Mas alguns insistem em simplesmente cortar, retirar, plantar que é bom... Vai se concretando, de tanto concretar, acaba-se concretando a mente. Caminhar com elas de um lado e de outro faz bem (ou fazia, não tem mais...)...   



Tínhamos tantas Mongubas pelas nossas ruas, a Monguba (Pachira aquática) é uma bela árvore tropical, também chamada de Monguba, Mungaba, Castanheira-da-água ou Mamorana, esses são alguns nomes atribuído a ela. É uma árvore de copa arredondada, nas cidades chega a medir de três a nove metros de altura. Nas florestas tropicais podemos encontrá-la em ambientes brejosos, ou à margem de rios e lagos, o nome científico “aquática” provém desta característica. As flores são muito bonitas e perfumadas, com longos estames de extremidade rosada e base amarela. Os frutos são grandes e compridos, semelhantes ao cacau. Ela é capaz de alcançar até 18 metros de altura.  As mongubas são árvores de excelente efeito decorativo, amplamente utilizadas na arborização urbana e rural.


As plantas jovens envasadas são excelentes para ambientes internos bem iluminados. Os países asiáticos são importantes produtores e exportadores da planta nesta forma. Ela é disposta nos ambientes de acordo com o feng shui e a ela é atribuída reputação de atrair dinheiro e prosperidade. É conhecida como money tree ou árvore-do-dinheiro. Geralmente, essas plantas são vendidas com três ou mais caules trançados para que formem apenas um tronco de aspecto decorativo. Ainda encontramos algumas pelas ruas de nossa cidade, ainda teremos a oportunidade de sentir o seu perfume no início das noites, mas isso não sei até quando...  





quinta-feira, 6 de setembro de 2018

1968: o ano que não terminou... De repente 50...



Fábio Trancolin

Esse é o título de um livro que está na minha estante: 1968: o ano que não terminou, o livro conta a história daquele ano que não terminou na visão do jornalista Zuenir Ventura, foi um ano de fatos conturbados no Brasil e no mundo, nesse ano que ele diz que não chegou ao fim, eu nasci... As minhas lembranças começam lá pelos meus três, quatro anos. Não são poucas... Trago muitas, parecem tão recentes, sendo que estão tão distantes, mas estão presentes. Os primeiros dez anos são mágicos, lúdicos e cheios de medos, fantasias e imaginações, tive muitas... Bola de meia, torrão de terra vermelha, dedos e joelhos esfolados. 


No mês de setembro de 1978 a velinha do bolo de aniversário que eu soprei, marcava uma década... começava ali os dois dígitos. Ano bom, tempo melhor ainda, o tempo da linda juventude... Preocupação, apenas com a lição, poucos cadernos, pouca obrigação. Céu azul anil, sem chuva liberdade e diversão. Galho, forquilha, fruta, e nos versos da música do Marcelo Barra, “periquito tá roendo o coco da guariroba, chuvinha de novembro amadurece a gabiroba, passarinho voa aos bandos em cima do pé de manga, no cerrado, é só sair e encher as mãos de pitanga...”Assim era a nossa vidinha... Era só sair, ir e vir, para onde quiser e como quiser. Portão aberto, janela escancarada, porta encostada na tramela, massa descansa na gamela. Nas ondas do rádio ouvia se os embalos de sábado à noite, Bee Gees com Night Fever e Stayin' Alive fervia nas discotecas (eu não fui, como gostaria de ter ido...) ... Fábio Junior eternizava Pai... Roberto cantava com , e pedia o café da manhã...  Observava aquele menino correndo... “eu vi o tempo, brincando ao redor do caminho daquele menino... Eu pus os meus pés no riacho, e, acho que nunca os tirei, o sol ainda brilha na estrada, e eu nunca passei...” Esse riacho secou, os meus pés secaram, a estrada nos rastros de areia o asfalto apagou... a fé continua em dias melhores, não como aqueles de tempo outrora, o café não é o mesmo, a torrefação acabou, o menino cresceu, esse menino sou eu... 

Veio 88, tempos outros, a infância se foi, a adolescência também... A inocência perdeu-se... A cidade era outra, mudara para a metrópole, a megalópole, a Sampa de nascimento e naquele momento era meu estabelecimento. Condução lotada, os amigos não eram os mesmos de confiança, ali um ou outro, a maioria eram apenas meus conhecidos... A distância, tudo longe, muito longe... Receio e um certo medo... ouvia os versos na música do Guilherme Arantes... “Só sobraram restos, que eu não esqueci, toda aquela paz que eu tinha... eu que tinha tudo, hoje estou mudo, estou mudado... À meia-noite, à meia luz. Pensando! Daria tudo, por um modo, de esquecer, eu queria tanto... estar no escuro do meu quarto...”. Você espera tanto a chegada dos dezoitos, você pensa que pode tudo e faz tudo, ele chega, quando você se dá conta ele se foi... começava ali os vintes e poucos anos, que passaram num piscar de olhos, quando eu olhei para trás, se foram, os cabelos longos encurtaram... Cazuza falava em ideologia, Renato fazia a pergunta que até hoje eu faço, “que país é esse?



De repente 30, assim chegou de repente sem avisar... 1998, um ano de transformação, Silvio Brito, disse eu disse a mesma coisa: “Ai meu pai agora eu sou pai que nem você é meu pai...” No setembro dos meus 30, nascia o Google... Certa vez ouvi alguém dizer, que o nascimento do Google foi mais importante do que o iluminismo... O tempo andou a passos largos, a visão de mundo era outra... 2000 chegou, na virada era esperado o bug do milênio, o colapso não aconteceu, o digito apenas mudou, ele apenas transformou... No ano 1000 acabaria, 1666, 1806 e 1910 eles esperavam o final, ele não veio... A vida seguiu, segue e seguirá...


Veio 2008, quarenta, agora aguenta, pois ele chegou... Ele é emblemático, pois, alguns dizem, nos 40 não queremos mais perder tempo com reclamações e problemas evitáveis, então, borá lá viver... chega 2008, que também acabaria na previsão, já era o sexto erro, passou outro deslize de estratégia do sistema furado... E, foi nesse ano que passei no vestibular, parece um tanto quanto atrasado, mas,  como tem o seu propósito, foi na hora certa... Quando veio o 2012, que também acabaria, o calendário finalizaria e assim ele terminaria... Ele não acabou, a formatura veio com o diploma de comunicação. 

Agora é 2018, de repente 50... “Quando entrar setembro e a boa nova andar nos campos...” Já ouvi a afirmação que é a idade da sabedoria, pois, esse é um momento para alcançar a clareza... Não são 50 tons de cinza, mas sim de uma bela aquarela... Não é pouca coisa, é meio século... Espero então que aqui, possa ser a metade da vida... pois, aqui cheguei chegando... De repente 50... 




sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Nossos carrinhos de rolamentos


Fábio Trancolin


Várias brincadeiras marcaram a infância, quantas nos traz boas recordações... Mas tem uma que era muito legal, de um radicalismo top, a “corrida maluca”, os nossos possantes carrinhos de rolamentos. Pesquisando sobre a famosa brincadeira, não se sabe muito sobre ela, ao que tudo indica os primeiros exemplares foram construídos em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte no final da década de 1960 e começo da década de 1970, primeiras cidades a terem ruas asfaltadas e topografia íngreme. 




Os projetos eram criados por nós mesmos, éramos os projetistas, mecânicos e pilotos. Tínhamos uns desenhos arrojados, outros eram padrões, o corpo de madeira com dois rolamentos no eixo traseiro, alguns tinham apenas um na frente, outros vinham com dois no eixo dianteiro, geralmente o rolamento da frente era maior, cada um fazia o seu modelo, tinha aquele que tinha freio de mão, com um chinelo velho ao lado, outros nem isso tinha, era no pezão mesmo... Tinham aqueles que colocavam aerofólio e assim por diante. 



Hoje tudo que se vai fazer, a segurança em primeiro lugar, porém naquela época, isso não passava pela cabeça da molecada, era puro radicalismo, ninguém usava capacete, joelheira ou cotoveleira. Ninguém estava preocupado com os joelhos, cotovelos e dedões esfolados, os arranhões viriam naturalmente, fazia parte da brincadeira. Não ligávamos, não nos preocupávamos, no final da tarde, chegávamos em casa, escalavrados, a mãe passava água com sabão, às vezes tinha mercúrio, porém, quase sempre era o temido mertiolate (aquilo ardia pra caramba) e ficava tudo certo, todo mundo sobrevivia. 



O nosso circuito era próximo ao Tiro de Guerra, o asfalto chegou ali no final da década de 70, mais precisamente em 78. Foi dada a largada, a descida da rua Ricardo Campos, passava pela delegacia, a curva à direita na cadeia velha, entrada do “S” na casa de pedra, o retão da 12 de outubro, passava pelo pé de jenipapo, vem a curva da vitória no Tiro de Guerra... Quantos esfolados e dedos amassados... Hoje a lembrança traz um Gran Prix, as arquibancadas estão lotadas dos amigos que ficaram no passado, e de alguma forma lá estiveram torcendo, e participando do Grande Prêmio, as bandeiradas que foram dadas nos remete a um passado cheio de aventuras e contos. Acelera, o carrinho desce na velocidade extrema... Acelera, o coração bate forte lembrando os bons tempos em que podíamos fazer isso...     



sábado, 10 de fevereiro de 2018

Um baile de carnaval


Fábio Trancolin

Era o início de 88, eu então com os meus 19 anos, morava na Vila Ré, mas não saia da rua Tobiaras na Vila Esperança... Logo, logo chegaria os vinte anos... Passou os 20 e poucos anos que o Fábio Junior falou... Passou, virou 40 e está chegando nos 50... Lá se foram 30 anos... Era carnaval, a turma decidiu que iríamos para o Esportivo da Penha... Nunca tinha ido pular carnaval em clube, mas a turma que curtia muito a festa da alegria, convenceu... Também era a tarde, não tinha perigo... Tá cheio de gatinhas, borá lá... Fomos... Eu o Marcello, Cris, Sérgio, Luisinho e o Claudio, não me lembro agora o nome de dois que moravam ao lado casa do Sérgio, eles também foram e levaram a irmã (uma linda loirinha)...


Chegamos no Esportivo que fica próximo à Marginal Tietê, local legal, alegre e movimentado, era novidade pular carnaval... Única proximidade com o samba que eu tive, foi uma vez que fui com a minha prima Claudia, na quadra da Nenê da Vila Matilde ver o ensaio da escola. O salão estava lotado, alegria, alegria e no trenzinho puxa que puxa eu ía no vagão da cintura da menina. Da cabeleira do Zezé, a mamãe eu quero, a jardineira passeava, assim ó abre alas que eu quero passar, e nós passávamos... Allah-lá-o, mas que calor, atravessamos o salão de um lado para outro...


O baile seguia, e assim se foi, a galera resolveu ir ao banheiro, estávamos lá, tinha uns bancos na entrada, lá veio o truculento do segurança, perguntando “cadê, cadê? ”... Cadê o que cara? “O pano, o pano? Escondeu aonde...” O maluco pensou que estávamos cheirando lança perfume, mas não estávamos, foi a fuzarca que fizemos que chamou a atenção... Tudo bem, assim não teve problema, voltamos para o salão...  O trenzinho continuava a rodar, passa aqui e ali... “Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu...” borá lá subir nesse trem... Carnaval, é carnaval, tudo pode, tudo vale... E as mãos bobas, rodavam no salão... De repente, alguém grita, “na bunda na minha irmã não...” Um dos amigos que estavam com a gente, aquele que trouxe a irmã, se envolveu numa confusão... A loirinha gritava, passaram a mão na minha bunda... O irmão dela começou a distribuir bofete, foi sopapo pra tudo que é lado, a briga generalizou, na mesma proporção que eu acertava, eu também levava... Na somatória ficou no empate... Não demorou, os seguranças logo vieram e separou quem começou a confusão, no caso o irmão da loirinha, ele foi convidado a ser retirar, o segurança também pegou o suposto causador do tumulto, o da mão boba... O baile não parou, a banda continuou a tocar, mesmo durante os tapas... E assim foi um baile de carnaval, o primeiro e último.  Nunca mais fui em outro...