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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Nossos carrinhos de rolamentos


Fábio Trancolin


Várias brincadeiras marcaram a infância, quantas nos traz boas recordações... Mas tem uma que era muito legal, de um radicalismo top, a “corrida maluca”, os nossos possantes carrinhos de rolamentos. Pesquisando sobre a famosa brincadeira, não se sabe muito sobre ela, ao que tudo indica os primeiros exemplares foram construídos em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte no final da década de 1960 e começo da década de 1970, primeiras cidades a terem ruas asfaltadas e topografia íngreme. 




Os projetos eram criados por nós mesmos, éramos os projetistas, mecânicos e pilotos. Tínhamos uns desenhos arrojados, outros eram padrões, o corpo de madeira com dois rolamentos no eixo traseiro, alguns tinham apenas um na frente, outros vinham com dois no eixo dianteiro, geralmente o rolamento da frente era maior, cada um fazia o seu modelo, tinha aquele que tinha freio de mão, com um chinelo velho ao lado, outros nem isso tinha, era no pezão mesmo... Tinham aqueles que colocavam aerofólio e assim por diante. 



Hoje tudo que se vai fazer, a segurança em primeiro lugar, porém naquela época, isso não passava pela cabeça da molecada, era puro radicalismo, ninguém usava capacete, joelheira ou cotoveleira. Ninguém estava preocupado com os joelhos, cotovelos e dedões esfolados, os arranhões viriam naturalmente, fazia parte da brincadeira. Não ligávamos, não nos preocupávamos, no final da tarde, chegávamos em casa, escalavrados, a mãe passava água com sabão, às vezes tinha mercúrio, porém, quase sempre era o temido mertiolate (aquilo ardia pra caramba) e ficava tudo certo, todo mundo sobrevivia. 



O nosso circuito era próximo ao Tiro de Guerra, o asfalto chegou ali no final da década de 70, mais precisamente em 78. Foi dada a largada, a descida da rua Ricardo Campos, passava pela delegacia, a curva à direita na cadeia velha, entrada do “S” na casa de pedra, o retão da 12 de outubro, passava pelo pé de jenipapo, vem a curva da vitória no Tiro de Guerra... Quantos esfolados e dedos amassados... Hoje a lembrança traz um Gran Prix, as arquibancadas estão lotadas dos amigos que ficaram no passado, e de alguma forma lá estiveram torcendo, e participando do Grande Prêmio, as bandeiradas que foram dadas nos remete a um passado cheio de aventuras e contos. Acelera, o carrinho desce na velocidade extrema... Acelera, o coração bate forte lembrando os bons tempos em que podíamos fazer isso...     



sábado, 10 de fevereiro de 2018

Um baile de carnaval


Fábio Trancolin

Era o início de 88, eu então com os meus 19 anos, morava na Vila Ré, mas não saia da rua Tobiaras na Vila Esperança... Logo, logo chegaria os vinte anos... Passou os 20 e poucos anos que o Fábio Junior falou... Passou, virou 40 e está chegando nos 50... Lá se foram 30 anos... Era carnaval, a turma decidiu que iríamos para o Esportivo da Penha... Nunca tinha ido pular carnaval em clube, mas a turma que curtia muito a festa da alegria, convenceu... Também era a tarde, não tinha perigo... Tá cheio de gatinhas, borá lá... Fomos... Eu o Marcello, Cris, Sérgio, Luisinho e o Claudio, não me lembro agora o nome de dois que moravam ao lado casa do Sérgio, eles também foram e levaram a irmã (uma linda loirinha)...


Chegamos no Esportivo que fica próximo à Marginal Tietê, local legal, alegre e movimentado, era novidade pular carnaval... Única proximidade com o samba que eu tive, foi uma vez que fui com a minha prima Claudia, na quadra da Nenê da Vila Matilde ver o ensaio da escola. O salão estava lotado, alegria, alegria e no trenzinho puxa que puxa eu ía no vagão da cintura da menina. Da cabeleira do Zezé, a mamãe eu quero, a jardineira passeava, assim ó abre alas que eu quero passar, e nós passávamos... Allah-lá-o, mas que calor, atravessamos o salão de um lado para outro...


O baile seguia, e assim se foi, a galera resolveu ir ao banheiro, estávamos lá, tinha uns bancos na entrada, lá veio o truculento do segurança, perguntando “cadê, cadê? ”... Cadê o que cara? “O pano, o pano? Escondeu aonde...” O maluco pensou que estávamos cheirando lança perfume, mas não estávamos, foi a fuzarca que fizemos que chamou a atenção... Tudo bem, assim não teve problema, voltamos para o salão...  O trenzinho continuava a rodar, passa aqui e ali... “Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu...” borá lá subir nesse trem... Carnaval, é carnaval, tudo pode, tudo vale... E as mãos bobas, rodavam no salão... De repente, alguém grita, “na bunda na minha irmã não...” Um dos amigos que estavam com a gente, aquele que trouxe a irmã, se envolveu numa confusão... A loirinha gritava, passaram a mão na minha bunda... O irmão dela começou a distribuir bofete, foi sopapo pra tudo que é lado, a briga generalizou, na mesma proporção que eu acertava, eu também levava... Na somatória ficou no empate... Não demorou, os seguranças logo vieram e separou quem começou a confusão, no caso o irmão da loirinha, ele foi convidado a ser retirar, o segurança também pegou o suposto causador do tumulto, o da mão boba... O baile não parou, a banda continuou a tocar, mesmo durante os tapas... E assim foi um baile de carnaval, o primeiro e último.  Nunca mais fui em outro...