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segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Ali havia um prédio...


 

Ali havia um prédio, um prédio havia ali... uma testemunha silenciosa do tempo que passou, quantas histórias pelos seus corredores foram contadas... Sua bela fachada contava um passado repleto de transformações, uma metamorfose que refletia os diferentes capítulos da cidade.


Inicialmente, o prédio se erguia como um hotel, recebendo viajantes e colecionando narrativas de encontros e despedidas. Em determinado capítulo de sua existência, o prédio se tornou a sede da prefeitura, testemunhando o fervor da política local e as decisões que moldaram a cidade. Sobreviveu à mudança para um local de ensino, abrigando o conhecimento e os sonhos da juventude. O edifício abrigou um colégio, onde gerações de estudantes moldaram seus destinos nos bancos escolares.


Contudo, o tempo não foi gentil com sua estrutura. Ele deveria ser tombado pelo patrimônio, porém, ele foi tombado pelas marretas e retroescavadeira... sua história virou entulho, quem conheceu a estrutura lembra com saudades, quem não viu, fica somente a imagem retratada em fotos antigas... Assim, sua história foi reduzida a escombros, uma memória que permanece viva apenas na mente daqueles que um dia andaram por seus espaços e calçadas. Quem teve a oportunidade de conhecer sua arquitetura imponente recorda com saudades as histórias que ali se desenrolaram.


Entre as lembranças que ecoam pelo tempo, destaca-se o ano de 1977. Naquelas escadas, os peemedebistas conduziram o prefeito Iron Nascimento à posse, marcando um capítulo político na história da cidade Nessa campanha, meu pai era correlegionário do candidato derrotado, Byron Araújo, e as lembranças desse período eleitoral ressoam como vestígios de um passado político que moldou a cidade, os embates entre a ARENA e o MDB, entraram para a história.


As recordações, lembranças e memórias desse prédio refletem um dilema mais amplo. Uma cidade que negligencia a preservação de seu passado corre o risco de esquecer a própria história. Há aqueles que argumenta, “quem vive do passado é museu”, que manter edifícios antigos de pé representa um ônus financeiro para o município, sem contribuir para o desenvolvimento urbano. Contudo, é indispensável frisar que a preservação não é apenas sobre estruturas físicas, mas sobre a identidade e a narrativa que conecta gerações. Aqueles que não preservam seu passado correm o risco de não ter uma história para contar, perdendo a riqueza que a memória oferece.


No entanto, a verdade é que preservar prédios antigos vai além de manter estruturas de pé; é uma declaração de compromisso com a narrativa que moldou o presente. Alegar que tal preservação é onerosa para o município é ignorar o valor cultural que esses monumentos representam.

O desenvolvimento urbano, muitas vezes, é visto como sinônimo de demolir o antigo em prol do novo. No entanto, é preciso questionar se esse progresso desenfreado não resulta em uma perda irreparável. Afinal, quem não preserva, não tem história, e uma cidade sem história é uma cidade sem alma, perdida em um presente temporário e desprovido de raízes. Ali havia um prédio, um prédio havia ali...






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