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quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Os Meninos da Rua Paulo: Um Clássico da Literatura Infantojuvenil


 “Era um dia quente de março, as janelas estavam escancaradas e, nas asas da fresca brisa primaveril, a música penetrou na aula. - Os Meninos da Rua Paulo.”




Entre os muitos livros que tenho na minha estante, há um que brilha com um charme especial: "Os Meninos da Rua Paulo", um clássico da literatura infantojuvenil húngara escrito por Ferenc Molnár. Minha primeira leitura dessa obra foi em 1981, quando eu tinha apenas 12 anos, e desde então, fui imediatamente cativado pela história. Em pouco tempo, senti que fazia parte daquela turma de meninos, vivendo suas aventuras e enfrentando desafios. Eu também sonhei em montar o meu “grund”.

O livro aborda temas que nunca saem de moda, como lealdade, coragem, amizade e rivalidade. Molnár retrata de forma incrível a conexão das crianças com seu “grund”, como chamam seu espaço especial. Essa palavra, que em alemão significa "terreno", representa a essência da infância — um lugar onde regras são criadas, amizades são formadas e ideais são defendidos com paixão. O “grund” da Rua Paulo era chão e representava para ‘nós’ as savanas americanas, afirmava o autor.

No capítulo II do livro, ele descreve o que é o "grund": “O grund... ó vós, belos e sadios estudantes da planície, aos quais basta dar um passo para vos encontrardes na estepe imensa, sob a admirável redoma azul que se chama firmamento, vós cujos olhos estão acostumados às grandes distâncias, aos longes, vós que não viveis apertados entre edifícios altos, nem podeis imaginar o que é para os guris de Budapeste um terreno baldio, um “grund”. É a sua planície, a sua estepe, o seu reino; é o infinito, é a liberdade. Um pedacinho de terra, limitado a um dos lados por uma cerca meio desmoronada, enquanto pelos demais lados altos muros de edifícios o rodeiam. O "grund" da Rua Paulo também já se encontra ocupado por um triste edifício de quatro andares, cheio de moradores, nenhum dos quais sabe, talvez, que aquele pedacinho de terra significou a mocidade para alguns pobres estudantes de Budapeste.”

Lançado em 1907, a história gira em torno de um grupo de amigos que se reúnem no terreno para brincar, e muitos deles também fazem parte da Sociedade do Betume. Eles me lembram dos clubes secretos que formávamos na infância, cheios de regras e companheirismo. Durante as aulas, esses amigos se unem para proteger seu terreno contra uma gangue rival que deseja invadir e tomar conta do espaço. A narrativa se passa em Budapeste, em março de 1889, em um bairro chamado Józsefváros, onde a luta por um terreno vazio se transforma em uma poderosa metáfora sobre a infância e a amizade, especialmente em um tempo em que espaços livres se tornavam cada vez mais escassos.

O líder dos meninos da Rua Paulo é João Boka, e entre seus amigos estão Geréb, Csele, Csónakos, Kolnay, Barabás, Weisz, Richter, Kende, Leszik e Nemecsek, o menor do grupo. Ernesto Nemecsek, o único soldado raso na sociedade, sente um orgulho imenso por pertencer ao grupo, apesar de sua posição inferior. Ao longo da história, ele demonstra lealdade e coragem, conquistando o respeito dos amigos. Os meninos levam suas regras a sério; as leis que criaram devem ser seguidas rigorosamente, e eles estão dispostos a defender sua coragem e honra a qualquer custo.

Os meninos enfrentam a gangue dos camisas vermelhas, liderada por Francisco Áts, junto com os irmãos Pásztor, Szebenics e Wendauer, que tentam tomar o espaço dos meninos da Rua Paulo. A batalha vai além do físico, refletindo a luta interna que cada um deles enfrenta para se afirmar e proteger o que é seu. O “grund” se transforma em um símbolo de resistência, um espaço onde a infância é defendida com unhas e dentes, e onde cada vitória é uma celebração da amizade.

Apesar de ter sido escrita em um país isolado do mundo ocidental, principalmente devido ao seu idioma, “Os Meninos da Rua Paulo” se tornou uma das mais conhecidas obras da literatura infantojuvenil mundial. Alguns estudiosos acreditam que Molnár utilizou suas próprias memórias para compor o livro, referindo-se em dois momentos aos meninos da Rua Paulo como “nós”. Ele expressa com maestria a relação das crianças com o "grund", que é descrito ao longo do texto como sua “pátria” e “império”.



"Os Meninos da Rua Paulo" é um encantador livro de memórias. A moral que essas crianças transmitem é algo que nenhum adulto poderia ensinar. Essa obra transcende fronteiras culturais e temporais, tornando-se um clássico universal. Sua mensagem autêntica e profunda é um legado para as gerações futuras, lembrando-nos de que, mesmo diante de desafios, as lições que essas crianças compartilham são inigualáveis.

 

                     Escultura dos Meninos da Rua Paulo – Budapeste – Hungria



Os Meninos da Rua Paulo - Título Original: A Pál-Utcai Fiuk 

Autor: Ferenc Molnár (1878-1952)  

Tradução direta do húngaro por Paulo Rónai 

Revista por Aurélio Buarque de Holanda




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