Nos meus ouvidos, hoje, surgiu uma canção do
Fábio Jr.: “Muito cacique pra pouco índio, muito papo e pouco som, pessoas
querendo ser o que não são…” De repente, parecia que aquela letra falava mais
do hoje do que do ontem. Sim… cacique demais. E eu pensei: sim… cacique demais. Som? Tem muito. Alto, agressivo, mas sem
melodia. Barulho, ruído, ecos de gente que fala demais e sente de menos. Música
mesmo… está raro.
E as pessoas? Estão fora do tom. Superficiais. Só
pele e capa. Capas bonitas, caras, mas frágeis… capas que escondem e omitem
detalhes que ninguém mais sabe cuidar. Vidas rasas, conversas rasas, sorrisos
de superfície. Capas que ocultam cansaços, dores, vazios. Capas que disfarçam
uma essência que, talvez, já nem saibam onde guardar. Como diz um amigo:
“Galinha que anda com pato morre afogada.” É isso… quem se perde de si mesmo
acaba engolido pelo mundo raso.
Cadê a essência? Restou apenas um aroma vago, um
olor que se dissipa rápido demais… E rápido demais também estão indo alguns amigos. Tenho me despedido de gente
boa cedo demais. Um a um, silenciosos, deixando suas xícaras de café pela
metade e seus sorrisos emoldurados na memória de um porta retrato. Tá… eu sei…
não se discute com o Plano Maior. Tudo segue a ordem silenciosa do universo. No
verso e na prosa da vida, sigo contando histórias. Porque contar também é um
jeito de não deixar partir.
Lembro de manhãs que nos faziam felizes sem que
percebêssemos. Lembro de entardeceres cheios de gente, cheios de vida. Lembro
do sorriso de alguém que acendia o dia. E sigo… caminho, ouço vozes — algumas
reais, outras minhas — no diálogo silencioso comigo mesmo. Tenho me perguntado
tanto… e tenho respondido pouco. O que está acontecendo? Hoje, as mesas estão
cheias de louças e vazias de presenças. Gente conectada a telas, mas ausente no
olhar. Caminho, ouço vozes que já não estão aqui e, num diálogo mudo comigo
mesmo, pergunto: o que aconteceu com o mundo?
Eu ainda estou esperando na porta… esperando
alguém voltar. Lembro das noites com a vitrola chiando baixinho, da
churrasqueira improvisada no quintal — um buraco na terra, lenha queimando
devagar enquanto as conversas se alongavam. Air Supply embalava a madrugada no
motorádio: “I can wait forever…” Eu posso esperar para sempre…, mas sempre, eu
sei, não é todo dia. Ainda estou esperando na porta.
