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sexta-feira, 18 de julho de 2025

Ainda estou esperando na porta





Nos meus ouvidos, hoje, surgiu uma canção do Fábio Jr.: “Muito cacique pra pouco índio, muito papo e pouco som, pessoas querendo ser o que não são…” De repente, parecia que aquela letra falava mais do hoje do que do ontem. Sim… cacique demais. E eu pensei: sim… cacique demais. Som? Tem muito. Alto, agressivo, mas sem melodia. Barulho, ruído, ecos de gente que fala demais e sente de menos. Música mesmo… está raro.

E as pessoas? Estão fora do tom. Superficiais. Só pele e capa. Capas bonitas, caras, mas frágeis… capas que escondem e omitem detalhes que ninguém mais sabe cuidar. Vidas rasas, conversas rasas, sorrisos de superfície. Capas que ocultam cansaços, dores, vazios. Capas que disfarçam uma essência que, talvez, já nem saibam onde guardar. Como diz um amigo: “Galinha que anda com pato morre afogada.” É isso… quem se perde de si mesmo acaba engolido pelo mundo raso.

Cadê a essência? Restou apenas um aroma vago, um olor que se dissipa rápido demais… E rápido demais também estão indo alguns amigos. Tenho me despedido de gente boa cedo demais. Um a um, silenciosos, deixando suas xícaras de café pela metade e seus sorrisos emoldurados na memória de um porta retrato. Tá… eu sei… não se discute com o Plano Maior. Tudo segue a ordem silenciosa do universo. No verso e na prosa da vida, sigo contando histórias. Porque contar também é um jeito de não deixar partir.

Lembro de manhãs que nos faziam felizes sem que percebêssemos. Lembro de entardeceres cheios de gente, cheios de vida. Lembro do sorriso de alguém que acendia o dia. E sigo… caminho, ouço vozes — algumas reais, outras minhas — no diálogo silencioso comigo mesmo. Tenho me perguntado tanto… e tenho respondido pouco. O que está acontecendo? Hoje, as mesas estão cheias de louças e vazias de presenças. Gente conectada a telas, mas ausente no olhar. Caminho, ouço vozes que já não estão aqui e, num diálogo mudo comigo mesmo, pergunto: o que aconteceu com o mundo?

Eu ainda estou esperando na porta… esperando alguém voltar. Lembro das noites com a vitrola chiando baixinho, da churrasqueira improvisada no quintal — um buraco na terra, lenha queimando devagar enquanto as conversas se alongavam. Air Supply embalava a madrugada no motorádio: “I can wait forever…” Eu posso esperar para sempre…, mas sempre, eu sei, não é todo dia. Ainda estou esperando na porta.

 






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