Dias atrás, recebi um vídeo que falava sobre
gentileza. Bastou apertar o play para que eu fosse levado, sem pressa, a um
outro tempo… aos dias da boa vizinhança, quando gentileza não era virtude rara,
mas um jeito simples de existir, os tempos de quintais grandes, cheirando a
café passado na hora e bolo saindo do forno, onde a boa vizinhança não era
discurso bonito, mas prática cotidiana.
E, sem perceber, fui
transportado no tempo… Eram tempos em que portões e corações estavam sempre
abertos, as portas viviam entreabertas e
as janelas, sempre com cortinas balançando ao vento. Os vizinhos se chamavam
pelo nome e entravam sem bater, trazendo junto um sorriso, uma prosa. Tempos de
verdadeiros parceiros e amigos, dos vizinhos que eram quase família. Dos
favores trocados sem perguntas, sem interesses — só pela alegria de ajudar. Uma
xícara de açúcar emprestada aqui, um punhado de café acolá… E havia sempre um
sorriso, de quem dava e de quem recebia.
Na roça, se alguém
matava um porco ou uma vaca, não demorava para que a fumaça da lenha
denunciasse o cozido no fogão a lenha e, pouco depois, surgisse alguém na cerca
com um embrulho de papel pardo: “Separei um pouco pra vocês.” Era assim… o que
se tinha, dividia-se. Porque ali, o sabor era maior quando partilhado. Eram
gestos simples, mas carregados de afeto, respeito e uma sabedoria silenciosa: o
que temos só tem valor quando é dividido.
A gentileza estava nas pequenas coisas — no
bom-dia sincero, no aperto de mão firme, no prato de comida deixado no portão de
quem precisava, no cheiro de pão quentinho deixado à porta de quem precisava,
no calor de um abraço apertado que não media tempo nem pressa. Era uma herança
sem escritura, passada de pai para filho, como a lição mais preciosa que alguém
poderia deixar: cuidar uns dos outros.
Hoje, talvez nos falte essa simplicidade que
tornava o cotidiano extraordinário. Talvez seja hora de resgatar o costume de
dividir, de olhar para o lado, de estender a mão sem perguntar por quê. Talvez
seja hora de abrir as janelas de novo, de deixar o aroma da gentileza invadir
cada esquina, cada casa, cada coração. Quem sabe seja hora de resgatar isso. De
lembrar que gentileza não é luxo nem exceção. Pequenos gestos, quando somados,
podem tornar o ordinário importante. Porque gentileza não custa nada…, mas muda
tudo.
Meu pai costumava dizer: “Nunca esqueça. Ajude na simplicidade. Seja num ato pequeno ou
grande, mas sem esperar nada em troca. Ajude apenas pelo fato de ajudar.”
Talvez essa seja a essência que o mundo anda precisando reencontrar. E talvez
seja exatamente isso que o mundo precise: mais gente disposta a transformar
pequenos gestos em grandes mudanças.