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quinta-feira, 10 de julho de 2025

Gentileza gera gentileza








Dias atrás, recebi um vídeo que falava sobre gentileza. Bastou apertar o play para que eu fosse levado, sem pressa, a um outro tempo… aos dias da boa vizinhança, quando gentileza não era virtude rara, mas um jeito simples de existir, os tempos de quintais grandes, cheirando a café passado na hora e bolo saindo do forno, onde a boa vizinhança não era discurso bonito, mas prática cotidiana.

E, sem perceber, fui transportado no tempo… Eram tempos em que portões e corações estavam sempre abertos,  as portas viviam entreabertas e as janelas, sempre com cortinas balançando ao vento. Os vizinhos se chamavam pelo nome e entravam sem bater, trazendo junto um sorriso, uma prosa. Tempos de verdadeiros parceiros e amigos, dos vizinhos que eram quase família. Dos favores trocados sem perguntas, sem interesses — só pela alegria de ajudar. Uma xícara de açúcar emprestada aqui, um punhado de café acolá… E havia sempre um sorriso, de quem dava e de quem recebia.

Na roça, se alguém matava um porco ou uma vaca, não demorava para que a fumaça da lenha denunciasse o cozido no fogão a lenha e, pouco depois, surgisse alguém na cerca com um embrulho de papel pardo: “Separei um pouco pra vocês.” Era assim… o que se tinha, dividia-se. Porque ali, o sabor era maior quando partilhado. Eram gestos simples, mas carregados de afeto, respeito e uma sabedoria silenciosa: o que temos só tem valor quando é dividido.

A gentileza estava nas pequenas coisas — no bom-dia sincero, no aperto de mão firme, no prato de comida deixado no portão de quem precisava, no cheiro de pão quentinho deixado à porta de quem precisava, no calor de um abraço apertado que não media tempo nem pressa. Era uma herança sem escritura, passada de pai para filho, como a lição mais preciosa que alguém poderia deixar: cuidar uns dos outros.

Hoje, talvez nos falte essa simplicidade que tornava o cotidiano extraordinário. Talvez seja hora de resgatar o costume de dividir, de olhar para o lado, de estender a mão sem perguntar por quê. Talvez seja hora de abrir as janelas de novo, de deixar o aroma da gentileza invadir cada esquina, cada casa, cada coração. Quem sabe seja hora de resgatar isso. De lembrar que gentileza não é luxo nem exceção. Pequenos gestos, quando somados, podem tornar o ordinário importante. Porque gentileza não custa nada…, mas muda tudo.

Meu pai costumava dizer: “Nunca esqueça. Ajude na simplicidade. Seja num ato pequeno ou grande, mas sem esperar nada em troca. Ajude apenas pelo fato de ajudar.” Talvez essa seja a essência que o mundo anda precisando reencontrar. E talvez seja exatamente isso que o mundo precise: mais gente disposta a transformar pequenos gestos em grandes mudanças.





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