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quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Preservar a memória é valorizar a história: um encontro com meu amigo de outrora.


 


Já fazia algum tempo que planejava essa visita. Nesta quinta-feira pela manhã, finalmente bati à porta do meu amigo de longa data, Dr. Vicente Guerra. Era para ser apenas um “oi”, daqueles encontros rápidos em meio à rotina corrida, mas acabou virando horas de boa conversa, dessas que nos fazem esquecer do relógio. Como diz a máxima: há momentos em que não perdemos tempo, e sim a noção dele.

Aos 90 anos, Vicente mantém a lucidez admirável de uma mente privilegiada. Nossa amizade atravessa quase meio século, e reencontrá-lo foi como abrir um livro repleto de histórias — páginas vivas da memória de Rio Verde.

Natural de Minas Gerais, ele conheceu a cidade ainda em 1953 e, em 1965, escolheu-a para viver ao lado da esposa, Dona Neuza, com quem construiu família e criou os filhos: Flávia, Adriana, Danielle, Fabiana, Vicente Filho e Marcelo.

Entre recordações, percorremos a Rio Verde dos anos 1970 — uma cidade pequena, de ruas curtas e limites ainda acanhados, mas pulsando com sonhos de crescimento. Amante dos esportes, Vicente foi um dos incentivadores para que o município abraçasse novas modalidades. Até então, predominava o futebol; vôlei, basquete e natação ainda não faziam parte da rotina da juventude local. Foi por meio de sua atuação que essas práticas começaram a ser implantadas na cidade.

Atuando também no Lions Clube e junto ao 2º BPM, ajudou a idealizar os inesquecíveis Jogos Abertos, quando colégios como Marins Borges, João Veloso do Carmo (Gigantão), Colégio Agrícola, Frederico Jaime, Colégio do Sol e Aplicação se enfrentavam em quadras lotadas. Era um tempo em que a Polícia Militar trazia árbitros da capital e fornecia bolas, redes, troféus e medalhas. Uma época que deixou saudade em toda uma geração. Ao fundo da memória, ainda se ouvem os gritos da torcida nas quadras disputadas.

Nossa conversa também nos levou à Doutrina Espírita, tema que tanto me inspira. Vicente recordou amigos que colaboraram com a difusão da caridade na cidade e sua própria atuação solidária, além da trajetória como médico cardiologista. Relembrei, inclusive, um episódio pessoal: em 1979, quando quebrei o braço, foi ele quem me atendeu no Hospital Santa Terezinha.

O tempo passou sem que percebêssemos. O relógio avançou, mas não importava. Porque não se perde tempo quando se está diante de alguém que nos é caro; perde-se apenas a noção dele.

A visita mostrou que preservar a memória é valorizar a história. Naquela manhã, o tempo passou despercebido — como se fosse possível resgatar a essência de uma época que marcou gerações. Ao me despedir, ficou a certeza de que essas conversas não podem ser adiadas. São encontros que alimentam a memória, fortalecem os laços e nos lembram de que contar histórias — e ouvir quem tem tanto a compartilhar — é uma das formas mais bonitas de preservar a vida.






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