As cidades são organismos vivos, em constante
transformação. Elas se expandem, mudam de feições e adaptam-se às novas demandas
sociais e econômicas, moldadas por fatores como o crescimento populacional e a
migração. A chegada de novas pessoas modifica a composição da população, amplia
a diversidade cultural e exige mais moradia, serviços e infraestrutura.
Minha percepção sobre distanciamento, limites e
espaços urbanos vem de longe — dos tempos em que comecei a circular sozinho, ou
com amigos de infância, por volta da metade da década de 1970. Naquela Rio
Verde, os limites não iam muito além das poucas quadras que conhecíamos, e a
cidade parecia caber inteira nos nossos passos.
Em 1987, deixei o Planalto Central e fui para São
Paulo, minha cidade natal. Foram quase 12 anos longe. Quando voltei, não
encontrei a mesma Rio Verde que havia deixado. Ela já havia rompido fronteiras,
abertos para o país. Eu me lembrava da chegada dos sulistas, no início dos anos
1980, mas, naquela época, a cidade ainda não vivia uma grande expansão
imobiliária.
Recordo-me de ter assistido, já de volta no início
dos anos 2000, a um programa de TV que tentou mostrar o “melhor” da cidade, mas
que talvez tenha causado mais impacto negativo do que positivo. Há coisas que,
às vezes, é melhor guardar — não expor planos ou sucessos antes da hora. Nestes
25 anos desde o meu retorno, o crescimento foi avassalador. A expressão “aqui
era tudo mato” ganhou novo sentido. Fazendas viraram bairros, condomínios
fechados se multiplicaram — e, aqui, diga-se, existe um fascínio por eles.
A busca incessante pelo lucro, muitas vezes,
ultrapassa os limites do bom senso, supervaloriza espaços e exclui boa parte da
população, beneficiando apenas alguns. Quando eu morava em São Paulo e vinha
passar férias aqui — ao todo, foram quatro vezes — meus amigos me diziam que eu
vivia num lugar cheio de opções, oportunidades e diversões, enquanto aqui “não
havia nada”. Eu respondia que havia, sim, algo que não se encontrava fora
daqui: amizade, natureza, simplicidade e proximidade. O tempo passou. Hoje, a
cidade tem o que eles queriam: mais movimento, mais gente, ônibus cheios e…
distanciamento. Os relacionamentos rarearam, cruzo com pessoas que não conheço,
e já não sei quem é meu vizinho. E, para completar, vive-se um clima de “por
favor, não venha à minha casa”. Isso, sim, tem de sobra.
Não há como negar: o desenvolvimento avassalador
chegou. O progresso se instalou e o futuro já mora aqui. O crescimento corre
como rio caudaloso, impossível de deter. O progresso lança raízes profundas,
como árvore que cresce em direção ao horizonte. A cada ano, quase 10 mil
pessoas chegam, como novos ramos que se somam ao tronco vigoroso da cidade —
quase uma Montividiu inteira que renasce anualmente em seu seio. Maior centro
urbano do Sudoeste goiano, sua sombra protetora alcança 31 municípios e toca a
vida de quase 1 milhão de habitantes.
Não sou daqui, mas foi aqui
que minhas raízes encontraram morada. Rio Verde… terra que me acolheu como se
sempre fosse minha. E quando me perguntam de onde sou, respondo sem pensar: sou
uma pizza de pequi.
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Foto: Pedro Antônio Tosta - "Dom Pedro" |