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quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Crônicas de uma cidade que cresceu - quando o mato se fez concreto: retratos de uma cidade em crescimento






As cidades são organismos vivos, em constante transformação. Elas se expandem, mudam de feições e adaptam-se às novas demandas sociais e econômicas, moldadas por fatores como o crescimento populacional e a migração. A chegada de novas pessoas modifica a composição da população, amplia a diversidade cultural e exige mais moradia, serviços e infraestrutura.

Minha percepção sobre distanciamento, limites e espaços urbanos vem de longe — dos tempos em que comecei a circular sozinho, ou com amigos de infância, por volta da metade da década de 1970. Naquela Rio Verde, os limites não iam muito além das poucas quadras que conhecíamos, e a cidade parecia caber inteira nos nossos passos.

Em 1987, deixei o Planalto Central e fui para São Paulo, minha cidade natal. Foram quase 12 anos longe. Quando voltei, não encontrei a mesma Rio Verde que havia deixado. Ela já havia rompido fronteiras, abertos para o país. Eu me lembrava da chegada dos sulistas, no início dos anos 1980, mas, naquela época, a cidade ainda não vivia uma grande expansão imobiliária.

Recordo-me de ter assistido, já de volta no início dos anos 2000, a um programa de TV que tentou mostrar o “melhor” da cidade, mas que talvez tenha causado mais impacto negativo do que positivo. Há coisas que, às vezes, é melhor guardar — não expor planos ou sucessos antes da hora. Nestes 25 anos desde o meu retorno, o crescimento foi avassalador. A expressão “aqui era tudo mato” ganhou novo sentido. Fazendas viraram bairros, condomínios fechados se multiplicaram — e, aqui, diga-se, existe um fascínio por eles.

A busca incessante pelo lucro, muitas vezes, ultrapassa os limites do bom senso, supervaloriza espaços e exclui boa parte da população, beneficiando apenas alguns. Quando eu morava em São Paulo e vinha passar férias aqui — ao todo, foram quatro vezes — meus amigos me diziam que eu vivia num lugar cheio de opções, oportunidades e diversões, enquanto aqui “não havia nada”. Eu respondia que havia, sim, algo que não se encontrava fora daqui: amizade, natureza, simplicidade e proximidade. O tempo passou. Hoje, a cidade tem o que eles queriam: mais movimento, mais gente, ônibus cheios e… distanciamento. Os relacionamentos rarearam, cruzo com pessoas que não conheço, e já não sei quem é meu vizinho. E, para completar, vive-se um clima de “por favor, não venha à minha casa”. Isso, sim, tem de sobra.

Não há como negar: o desenvolvimento avassalador chegou. O progresso se instalou e o futuro já mora aqui. O crescimento corre como rio caudaloso, impossível de deter. O progresso lança raízes profundas, como árvore que cresce em direção ao horizonte. A cada ano, quase 10 mil pessoas chegam, como novos ramos que se somam ao tronco vigoroso da cidade — quase uma Montividiu inteira que renasce anualmente em seu seio. Maior centro urbano do Sudoeste goiano, sua sombra protetora alcança 31 municípios e toca a vida de quase 1 milhão de habitantes.

Não sou daqui, mas foi aqui que minhas raízes encontraram morada. Rio Verde… terra que me acolheu como se sempre fosse minha. E quando me perguntam de onde sou, respondo sem pensar: sou uma pizza de pequi.

Foto: Pedro Antônio Tosta - "Dom Pedro"





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