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terça-feira, 2 de setembro de 2025

Flores e vozes: certifique-se de usar algumas flores no cabelo...



 

O mundo nunca deixou de mudar. Aprendi cedo que nada permanece igual — tudo se move, tudo se transforma. E foi dentro da Doutrina Espírita, que se tornou o alicerce da minha vida, que encontrei a explicação: a Lei do Progresso. Somos empurrados para frente — ora pela razão que ilumina, ora pelo coração que aprende a amar. Mesmo quando o orgulho e o egoísmo nos fazem tropeçar, a estrada continua e nos obriga a seguir. É a força que nos impele a crescer, mesmo quando resistimos. Entre quedas e aprendizados, a vida nos leva da simplicidade à perfeição.



Nasci em 1968. Naquele tempo, o mundo estava em ebulição. Nas ruas, os jovens gritavam contra guerras, sonhavam com justiça, experimentavam novas formas de ser. Eram tempos de protestos, rebeldias e sonhos. A juventude não aceitava calada as imposições; reivindicava direitos e inventava modos novos de viver. Flores no cabelo, músicas que embalavam utopias, a sensação de que era possível reinventar tudo.

Recordo a canção de Scott McKenzie, lançada pouco antes: “Se você estiver indo para São Francisco, certifique-se de usar algumas flores no cabelo...” Mais do que um convite, era uma prece vestida de música. Uma promessa de que a bondade podia florescer nas ruas, de que pessoas gentis se encontrariam para viver um verão de amor. Sinto como se fosse uma prece simples, mas cheia de esperança, um convite à gentileza, à fraternidade, à crença de que as ruas poderiam ser tomadas pelo amor.



Mais adiante, recordo outra melodia que atravessou gerações: “Pride (In the Name of Love)”, do U2, homenagem à coragem de Martin Luther King Jr., que enfrentou o ódio com a força do amor e no ano em que nasci, tentaram silenciar sua voz numa manhã de abril, mas não conseguiram. O corpo pode tombar, mas o espírito segue ecoando. E sem esquecer do Maior que esteve entre nós: um dia, Ele passou por aqui. Sua voz só falava de amor, seus gestos eram amor. Tudo que deixou permanece e sempre existirá. Talvez seja isso que a vida me ensine: a história muda, os cenários mudam, mas a essência é a mesma. É sempre sobre buscar liberdade, sonhar com um mundo melhor, acreditar que o amor é mais forte que qualquer escuridão.



De 1968 até hoje, tudo mudou. Eu mudei. O mundo mudou. Mas a certeza permanece: estamos todos em marcha, guiados pela mesma lei que não nos deixa parar — a Lei do Progresso. E, no fundo, cada passo é um convite permanente a colocar flores no cabelo da alma e seguir adiante, acreditando que, apesar de tudo, o amor continua sendo a única revolução verdadeira.

Setembro chegou. Venha ver a primavera pelas manhãs, através da janela lateral ou do muro dos vizinhos. O sol de primavera desperta a bondade nos campos. Não deixe de sonhar que a paz chegará e fará morada no quarto de dormir. A lição nos foi ensinada há muito tempo, quando alguém aqui esteve e plantou a semente. Sabemos de cor essa lição; não a esquecemos. Devemos ensinar e aprender, repetir o que foi dito há muito tempo atrás, mantendo viva a verdade do amor. “Se você estiver indo para São Francisco, ou seja, para onde for, certifique-se de usar algumas flores no cabelo...”



Seja em São Francisco ou em qualquer lugar do mundo, leve flores consigo, nem que seja apenas na memória ou no coração. E, neste dia da Kombi (2 de setembro), recordemos as velhas kombis floridas dos anos 60: pinte com flores a sua estrada e venha somar na construção de um mundo mais leve, colorido e melhor. Chegou setembro, chegou a primavera! O sol aquece, a paz chama e o amor pede passagem. No dia da Kombi, que tal lembrar as kombis florescidas dos anos 60? Pinte sua estrada com flores e ajude a fazer o mundo mais bonito.

 



segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Carta para o futuro - (colocada numa cápsula do tempo)





1º de setembro 2025.

Meu pai partiu aos 80 anos. Ainda me restam 23 para alcançar essa marca. Curioso… 23 é também a idade da minha filha caçula, hoje. E 23 anos… cabem num piscar de olhos, passam voando. Quase nem vi passar. Como disse meu pai uma vez — com aquele sorriso sereno e cansado —:  “Demorou, mas passou rápido.” Demorou. Mas passou. Hoje escrevo esta carta como quem lança uma garrafa ao mar. Eu vou guardá-la numa cápsula do tempo — para mim mesmo. Se tudo correr bem, se a vida permitir, abrirei em 2048, e voltarei a estas palavras. E, se eu já não estiver aqui… que pelo menos elas fiquem.

O Fábio de 2025 manda lembranças para o Fábio de 2048.

Espero que você esteja bem. Que tenha chegado até aqui com a mente lúcida, o coração tranquilo e as articulações funcionando — ou, ao menos, caminhando sem muito barulho. Porque, depois de certa idade, a gente vira um Fusca: o que importa não é o ano de fabricação, mas o estado de conservação. Mas, se nem tudo estiver tão bem assim, quero te lembrar de algumas coisas…

A vida muda. As pessoas mudam. Mas espero que você não tenha se esquecido de quem é. Nem de onde veio. Nem do que faz seu coração bater mais forte. Espero que ainda fale com seus amigos — ou, pelo menos, pense neles de vez em quando. Sei que você sempre guardou lembranças nas gavetas — físicas e da alma. E, se eu te conheço bem, elas devem estar ainda mais cheias agora: coleções, recortes, bilhetes, cheiros, silêncios. Que você tenha lido os livros das tuas estantes. Espero que você ainda sonhe. Não com sonhos de valsa — esses esfarelam, restando só o papel cor de maravilha —, mas com aqueles sonhos que dançaram contigo na juventude. Talvez nem todos tenham se realizado. Mas você sonhou — e isso sempre valeu a pena. E, quem sabe, até realizou alguns... ou muitos.

Espero que você ainda acredite no que sempre te moveu: a esperança. Sim, aquela esperança teimosa, que resistiu a tudo — aos medos, às perdas, às quedas. A mesma que andava de mãos dadas com a fé e com a caridade — esse trio silencioso que te sustentou nos dias mais duros. Espero que ainda tenha tempo para fazer algo pelo próximo. Que ainda encontre tempo para estender a mão a alguém. Que ainda sinta o chamado de fazer algo pelo outro, mesmo que pequeno — porque isso sempre foi parte de quem você é.

E, acima de tudo, espero que você ainda se comova com o céu — com o nascer do sol, com os entardeceres silenciosos, com a noite… seja ela bordada de lua ou despida de luz. Olhe para cima: ainda há um chão de estrelas à espera do teu olhar.  Nunca faltou um cachorro em casa; acredito que você tenha um — ou talvez mais —, pois esses anjos de quatro patas sempre protegem nosso ser e nossa alma. Acredito que uma música boa ainda te cause arrepios — daquelas que surgem do nada e reacendem lembranças esquecidas... Beatles, Elvis, Bee Gees e Roberto... Porque música boa não envelhece — ela permanece. E que o a-ha ainda te desperte todas as manhãs, com aquela batida que mistura juventude e eternidade. Que te lembre de quem você foi… e, sobretudo, de quem você ainda é.

E, se o brilho do seu olhar estiver opaco… talvez seja só catarata. Opere. Vai melhorar.
Mas, se for tristeza… escave. A luz ainda está aí dentro. Espero que, apesar de tudo, você ainda seja você. Ou, se tiver mudado, que tenha sido para melhor. Porque, no fim, é para isso que estamos aqui: para crescer, para evoluir, para aprender a amar melhor. E, mesmo que o caminho tenha mudado ao longo dos anos, que você nunca tenha perdido o rumo. Com carinho, Você. Hoje.