Páginas

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

A Rural do Waldomiro


Fábio Trancolin

                                                                                                      Foto ilustrativa
Sempre que recordo da minha infância me lembro das aventuras que marcaram e não foram poucas, hoje, lembrei-me da velha rural do Waldomiro. Era uma rural branca e azul, o assoalho dela foi consumido pela ferrugem e isso originou alguns buracos que eram verdadeiras crateras. E nos finais de semana que geralmente eram prolongados, lá, íamos nós para o cerrado. Às vezes, à procura de pequi, cajuzinhos, madeiras e, na maioria das vezes, era só por ir mesmo, sempre tinha uma fazenda ou beira de rio, os tempos das porteiras abertas e a receptividade do pessoal da roça em te ver, eles ficavam felizes de verdade. 

 Tia Lena e o Marquinhos - No teto da Rural Fábio Trancolin

Falando da rural, ela só tinha os bancos da frente, atrás era um vão e o assoalho era forrado com compensado que não ajudava, pois a poeira invadia o ambiente. Para sentar, eram colocados tamboretes, caixas e pedaços de madeira. Lembro que uma vez fomos no veiculo ou melhor na “condução” para o chapadão (pois ela ia e voltava), a fazenda era aquela ‘Muito além do horizonte da terra vermelha do sertão’ vinte e duas léguas rumo à Serra do Caiapó, ela sempre foi e voltou, nunca deixou o condutor na mão. Ela, também, chegou a conhecer a beleza da cachoeira do Montividiu, naqueles tempos, era de livre acesso, e todos tinham o direito de conhecer umas das belezas do cerrado, hoje os cadeados impendem a presença.


O caminho mais utilizado por ela era a GO-174, rumo ao Ribeirão do Meio e córrego das Abóboras. O pai e o Waldomiro sempre andavam por aquelas bandas a procura das toras de sucupira, elas eram muito aproveitadas para fazer as colunas das mesas de jantar e outras peças da bela arte da marcenaria. Tanto um quanto o outro eram exímios artesãos na arte de trabalhar com a madeira. E, também, naquela região, tinha a fazenda do amigo, o Seu Rosalvo. Todos os parentes de São Paulo que veio nos visitar tiveram a oportunidade de conhecê-lo. Era um ‘boa praça’ contador de ‘causo’ (cada caso, um pior do que o outro... Aquilo era mentira mesmo, uma pior do que a outra, geralmente de assombração), mas, aquilo era pura diversão. 

A cachoeira do Montividiu

E, numa dessas idas para aqueles lados, na volta aconteceu algo inusitado. O pai todas as vezes que voltava, subia no capô da velha rural e viam no meio da estrada poeirenta. E, dessa vez, lá estava ele na frente da “xebrosa” parecendo aquele cisne que fica de enfeite em alguns caminhões. Porém, nesse dia, o Waldomiro foi acender um cigarro e olhou para trás para pegar o fósforo com a Cleuzinha, perdeu o controle da direção e marcou o rumo das desbarrancadas... Caramba, no momento o “trem” foi feio, depois virou farra. O pai ficou uma “arara”, chamando o “Wardo” de irresponsável e sem noção, dentro da rural foi um “furdunço”, tamborete virando, moleque caindo, choro de alguns, gritos de outros, mas no final tudo voltou à ordem, apenas arranhões e escoriações leves, uma delas foi o primo que veio de São Paulo, o Marquinhos, ele era o menor que estava no meio, e acabou sendo atingido pelo pé do banco e isso deixou a testa inchada. 

                                                                                                      Rural ilustrativa

A rural deixou saudades. Todas as vezes, no retorno dos passeios, voltamos com o cabelo duro, e só o branco do olho o resto era só pó, “comemos” muita poeira sertão a fora. Mas, as lembranças nos trazem grandes recordações de um tempo bom e de pessoas melhores ainda. 


segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

As casas por onde passei


Fábio Trancolin


Renato Russo disse, “Já morei em tanta casa, que nem me lembro mais... Eu moro com meus pais”... Eu morei em tantas casas e sabe que eu me lembro de todas, eu casei e moro com os meus pais. Sentado na porta de casa na sombra de uma árvore eu e o pai conversávamos e resolvi contar as casas que eu me lembrava em que moramos, e foram muitas, trinta e três casas, isso sem contar as que eu não lembro, mas me recordo de cada uma, suas portas e janelas, quintais e fachadas... Mistérios e fantasmas. 

A primeira ficava na Rua Geraldo Jaime, a casa da Dona Maria Baiana, próxima ao Colégio do Sol, nessa época, eram apenas dois filhos eu e o Jairinho. Lembro-me do circo passar na porta e o palhaço da perna de pau que nós morríamos de medo, a mãe pra nos colocar para dentro, dizia que ele nos levaria pra lavar as longas calças dele (maldade). Depois, mudamos para a Avenida Presidente Vargas, ali nasceu o Marcello, essa casa ficava onde hoje está a Sirlene Imóveis, tinha um pé de laranja imenso no quintal, tínhamos um coelho branco, logo abaixo, tinha uma vozinha que benzia, era uma casa cheia de árvores, a mãe sempre nos levava lá. Depois, fomos morar lá na Renovação em frente à caixa d’água, na porta era rota de boiada (Sul goiana), lembro que certa vez houve um estouro, e elas entraram no quintal da nossa casa, e assistíamos tudo da janela, pode imaginar o desespero da mãe... Nessa época, o pai trabalhava na marcenaria do Antônio Menezes, e vinha de bicicleta subindo a BR.

A próxima da lista, foi a da Rua Viela Jataí, é a casa da esquina com a Costa Gomes, onde ficava o lava-Jato, ao lado tinha o café Rio Verde e seu aroma delicioso nos finais de tarde.  Dali, mudamos para o ginásio, passamos um tempinho ali onde era a marcenaria, hoje está o Colégio Oscar Ribeiro. Nessa época, a quadra no Martins Borges não tinha cobertura e era imenso o pátio, as mamonas e os torrões vermelhos de terra... Mudamos então para o Afonso Ferreira, que nem asfalto tinha, lembro-me de colocarem as manilhas na Rua Augusta Bastos e era uma alegria correr por entre elas, e as mães com suas histórias fantasiosas sobre algum menino que foi enterrado quando estava brincando (isso só pra não deixar a molecada entrar nos buracos e valas...).

Quando fomos morar na casa azul da Rua Almiro de Moraes, esquina com a Presidente Vargas, a rádio difusora ficava em frente. Período ruim ali, época das doenças, passamos uns maus pedaços, os quatro filhos internados, muitas injeções... E a perda de um dos membros da família, o irmão caçula o Marcos retornou ao Plano Espiritual nessa época. E o meu aniversário de cinco anos, eu ganhei um belo bolo, porém estava doente, e escutei o desfile de dentro de casa, não pude ver.    
 
Depois, voltamos a morar na mesma casa da Afonso Ferreira, a casa da Dona Dulina, tinha um pé de jabuticaba na porta de casa, nesse tempo, foi o ano em que fui para a escola e o asfalto chegou à porta de casa. Nessa casa foi o natal de 74 em que ganhei o meu autorama o FITTI-SHOW (relatado na crônica da Casa das louças). Em 77, mudamos para a casa azul da Rua Avelino Faria esquina com a Augusta Bastos, aquela em que o caminhão desgovernado passou por cima. Sendo assim, tivemos que mudar, e dessa vez, a casa foi ao lado do Grupo Escolar Alfredo Nasser na Rua Coronel Vaiano, pouco tempo depois, fomos para o casarão da Rua 12 de outubro, o belo quintal com os pés de jabuticabas, pés de mangas, goiabas. Foi uma das melhores épocas da bela infância, os amigos, a quadra do Tiro de Guerra, quando eu fui morar ali, não tinha asfalto, tudo era cascalho. Mudamos para a casa da Praça Ricardo Campos atrás da cadeia velha, era um quintal de quatro casas, moramos numa e, depois, passamos para a dos fundos, casa essa que num temporal as telhas se foram com o vento. (pensa num “trem” feio, o vento assobiando e as telhas voando, e todos debaixo da mesa). 

Outra mudança e, dessa vez, para a Rua Augusta Bastos, nós tínhamos um pássaro preto que era criado solto e era o xodó do pai, no primeiro dia na casa, um gato pegou ele, ruim... Muito ruim... A próxima mudança não foi só de casa, foi de cidade, de estado, fomos para São Paulo. Por certo tempo, ficamos na casa da tia Neide na Rua Enéas de Barros, lugar bom... Primeira namorada e de boas lembranças. Ai veio a casa da Rua Embiruçu e o retorno para o Planalto Central e, dessa vez, ficamos em outra casa de parente, a da Tia Dina na Augusta Bastos, moramos ali na copa do mundo de 82, ali eu presencie a tragédia do Sarriá, mudamos outra vez só de casa a rua permaneceu a mesma.  Dessa casa começou um período ruim, fui morar numa casa que perseguiu os meus sonhos por muito tempo, não gostava dela. Era na Rua Goiânia, era uma casa de 12 mt², apenas um cômodo, não tinha água encanada, foram 32 meses... Mas, isso ajuda o crescimento espiritual. Hoje, vejo com outros olhos. Depois a Rua 11, Dario Alves de Paiva, Laudemiro Bueno e a casa da Rua 10, essa teve uma mudança inusitada, mudamos de carroça, eu o primo João que me ajudou e, numa determinada viagem a carroça soltou-se do cavalo e quase que os três foram ao chão, não caíamos, porém o cavalo seguiu sozinho...

Outra mudança interestadual, voltamos para a capital paulista, outra estadia na casa da Tia Neide na ‘Enéas’, e depois a Rua Corin, na Vila Ré. Então veio um período maravilhoso na Rua Tobiaras na Vila Esperança (E foi um tempo de esperança e mudança). O sobrado da Aquiraz, de grandes alegrias (Quando o Palmeiras goleou o Corinthians por 4x0 na final do Paulista de 93, morávamos ali, rua de corintianos, pensa numa alegria). Foram cinco anos ali, até o dia que atravessamos o pontilhão do metrô e fomos morar no sobrado da Rua São Donato, o lugar era bom, os vizinhos não, mas ali conheci a moreninha (Silvia Marly) da locadora Paraíso Azul e, em novembro de 98, ali nasceu o Victor Hugo.


Em março de 99, o retorno para centro do país, voltamos para Goiás (como diz a música “quando eu quero mais eu vou pra Goiás”). Numa viagem de 36 horas, com dois cachorros dentro de uma cabine apertada... Mas, cheguei à terra do pequi, da pamonha e outras deliciosas iguarias e dos bons amigos da bela infância. A casa azul da Rua Luis de Bastos, depois a Rua 03 no Jardim América, uma casa que eu adorava a beleza da árvore sete copas que ficava no quintal e o belo entardecer no fim da rua. Mudei, pois a casa foi vendida, e fui obrigado a deixar a casa. Mudei para a Rua Ataliba Ribeiro e, uma semana depois da mudança, nasceu a “Flor branca” esse o significado para Yasmin, a nossa princesinha. Outra mudança até então a última, e aqui estou, nessa, dia 14 de dezembro completou 10 anos, a casa que por mais tempo fiquei... “Já morei em tanta casa, que nem me lembro de mais... (Porém eu lembro e como me lembro de cada uma...)... Eu moro com meus pais”, e posso afirmar que é bom demais... 


segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Então é Natal


Fábio Trancolin



“Então é natal, e o que você fez? E o ano termina, e nasce outra vez”. Essa frase será muito ouvida, nos altos falantes de supermercados e shoppings, que estarão abarrotados de pessoas na busca dos presentes e compras para as festividades que se aproximam. Comerciantes e vendedores também aguardam ansiosos o fechamento do mês mais esperado do ano, para contabilizar as vendas e fazer um balanço do ano.

Alguns só pensam em tirar as merecidas férias, outros não veem à hora de “bebemorar” o natal. Para os mais céticos, o final de dezembro representa apenas mais uma simples mudança no calendário. Seja para o gozo de um breve descanso, para o recolhimento espiritual ou moral, o período natalino é por tradição sinal de alegria, movimento, cor e sentimento. Um sentimento de bondade e solidariedade acaba envolvendo a todos e o clima típico desta época do ano, às vezes consegue modificar até algumas ‘almas’ endurecidas, que na esperança de abater as dividas com Deus saem de abraços e apertos de mãos e distribuição de brindes e cestas, isso é bom... As distribuições de presentes e alimentos movimentam e emocionam muitos os esquecidos que durante o ano não são visto ou percebidos, mas no natal sem fome serão alimentados e agasalhados...

Espero e esperamos que o tempo de paz e amor do natal possa seguir depois na expectativa da passagem de ano novo, e que o Espírito Natalino que se propagou pelo mês de dezembro não termine na queima de fogos. Que bom seria que essa bondade se perpetuasse pelo resto do ano. E que na noite da Estrela Guia ela direcionasse os homens no caminho reto, porém, muitas vezes, antes que o janeiro termine já são descartadas ou esquecidas às promessas feitas num momento de emoção. “O show já terminou, vamos voltar à realidade, não precisamos mais usar aquela maquiagem, que escondeu de nós... Uma verdade que insistimos em não ver...” Mas a esperança é renovada e as expectativas das mudanças alimentam a alma mais uma vez, dando-nos força para percorrer mais um ciclo da caminhada da vida. O ano que está prestes a se findar deixará marcas e lembranças em cada um de nós, umas piores, algumas tão só de normalidades, outras, com certeza, de excelente memória. 


terça-feira, 17 de dezembro de 2013

O caminhão desgovernado


Fábio Trancolin


Já ouviu aquela expressão ‘parece que um caminhão passou por cima?’ Não necessariamente por cima de alguém (quase passou), mas por cima de algo... Então, no início do ano de 77, mais precisamente em fevereiro, isso aconteceu na minha casa. Eu morava na esquina das Ruas Augusta Bastos com Avelino Faria quando num final de tarde isso aconteceu, um caminhão invadiu a nossa casa. Pela proporção do acidente era para ter sido uma tragédia, graças a Deus foi só prejuízo material.


Voltando dois dias antes do acidente, era o mês de fevereiro, o Senhor Antônio morreu, fomos para o velório e passamos a noite. Na manhã seguinte, ele foi sepultado, no retorno para casa, o Senhor Manoel, irmão do Seu Antônio não aguentou o baque de perder o irmão, e também fez a passagem para o Plano Espiritual. Mais um velório, outra noite em claro. Voltamos para casa, duas noites em claro, todos estavam acabados. Minha mãe perguntou para o pai se ele iria dormir, ele disse que não, pois tinha serviço na marcenaria, o meu Tio Claudio que nessa época morava lá em casa, também resolveu que iria trabalhar, nesse caso já que vão todos, a mãe pediu para que o pai nos levasse para a escola, nesse ano, eu e o Jairinho estudávamos no Percival Xavier (Escola que funcionava no Colégio Martins Borges), e o Marcello estudava no “Passinhos dos Saber”, que também utilizava sala de aula do Martins Borges, era o primeiro ano da escola da professora Rita de Cássia. Então fomos todos. A mãe resolveu que iria lavar roupa.

O dia decorria tranquilo, mais um daqueles dias quente de verão. No meio da tarde, uma amiga, a Tereza, apareceu lá em casa, e enquanto a mãe recolhia a roupa, ela ia dobrando e colocando em cima da cama. O nosso quarto era o da esquina, ao lado estava o da mãe. Uma Camionete desce a Avelino, e ignorou a preferencial, (naquela época a Augusta descia e subia), e colidiu violentamente com o Mercedes 1113 que subia, o “brutu”’ perdeu a barra da direção e marcou o rumo da casa azul. O cômodo da esquina, simplesmente, desapareceu, no próximo, ele encontrou com o guarda-roupa de madeira maciça que serviu de instrumento para fazer mais estrago ainda. A Tereza foi espremida e salva pela porta. No quintal, ao ver o guarda-roupa aparecendo sendo empurrado pelo caminhão e derrubando a parede e o muro, a mãe desmaiou.

O pai nos trouxe e ao virar na Presidente Vargas, dava pra ver o tumulto, e apenas um pedaço da carroceria do caminhão para fora. Os policiais tinham feito cordão de isolamento para proteger a cena do acidente e, também, os pertences, pois se não bastasse o acidente, alguém ainda carregou algumas coisas antes que a polícia chegasse o famoso saque de tragédia... Entramos e vimos o estrago, brinquedos, roupas e livros no meio de tijolos e muita poeira... Os vizinhos comentavam que o motorista do caminhão desceu transtornado e armado, acreditando que tinha matado a família toda, ele gritava que tinha matado todos, e iria matar o motorista do outro veículo. Foi contido, pois ninguém havia morrido, o condutor da camionete fraturou algumas costelas. A perícia foi feita, a dona da casa recebeu indenização pelo estrago, nós não, não recebemos nada e tivemos que mudar da residência. Os móveis da sala e os utensílios da cozinha não sofrearam danos, o guarda-roupa que foi atingido só quebrou o pé, no quarto tinha um berço que estava na família já algum tempo, serviu para os quatro irmãos, e fazia parte da família, era um berço de imbuia, que tinha a marca dos meus primeiros dentes cravados nele, ele foi o primeiro a ser abalroado e ficou totalmente destruído, o jipe verde do Cello, aquele que o pai tinha comprado na Casa das Louças foi literalmente esmagado... Essa história rendeu muito, duas noites de velório e um acidente de grande proporção, e a família sã e salva. Somos e sempre fomos muito protegidos pelos amigos do Plano Maior.




segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Ainda se ouve o tique-taque das máquinas de escrever


Fábio Trancolin



Fiz parte da geração em que aprender datilografia era quase que obrigatório, arranjar emprego em escritórios nos anos 80, a pergunta básica era “tem curso de datilografia?”. Era fundamental para obter empregos e, de grande valia, para ser aprovado em concursos públicos. Eu fiz o meu em 1986, na Escola de Datilografia Goiás, que ficava na Rua Major Oscar Campos esquina com a Itagiba Gonzaga Jaime, o proprietário era o Nilton Proto. De longe se ouvia o tique-taque estalado das máquinas de escrever, as barulhentas Remington e Olivetti, hoje pouco se usa, estão praticamente encostadas e abandonadas, perderam o espaço para informatização.

Imagens ilustrativas
Durante cinco meses de segunda a sexta, eu frequentei o curso, eu fazia na parte da manhã, durante uma hora eu era aprendiz, chegava um pouco antes do horário para ficar de olho nas melhores máquinas, e cada um tinha a tua “pastinha” arquivada no armário, ali eram guardados os exercícios que aos poucos iam sendo superados depois de muitos serem praticados e, ao fim de cada exercício, tínhamos aprovação cronometrada pela professora, a minha foi a Maria Aparecida, pedíamos “marca ai”. Se aprovado, poderia seguir para o próximo, se não passasse pelo crivo, tinha que treinar mais para depois solicitar outra avaliação. Naqueles tempos, tinham escolas que tapavam as teclas com esparadrapo, e as monitoras rigorosas exigiam, “não olhem para o teclado, olhem para o manual”... Na escola que fiz, o regime era mais brando. As escolas de datilografia deixaram de existir já faz um bom tempo, muitos “cata milho” se profissionalizaram. Hoje o teclado do computador facilita muito.  

Imagens ilustrativas
Meu horário era de manhã, mas aparecia por lá à tarde, gostava do lugar e das pessoas que lá frequentavam. Entre elas, tinha a Júnia, uma loirinha encantadora. Muitas vezes, eu marquei o tempo para que ela pudesse solicitar a cronometragem da avaliação, a Cida me permitia isso, tinha o respaldo da monitora. E eu quase todos os dias lá estava, no horário da loirinha de rostinho angelical. E, na parte da tarde, a escola era invadida pelo saboroso e delicioso aroma da Kitanda Caseira que ficava em frente, os casadinhos e biscoitinhos e outras tantas delícias que ali eram produzidos pela família do Eduardo de Castro, o cheiro nos convidavam e quase todos os dias tinha lanchinho. Às vezes, eu acompanhava a Júnia até a casa dela, só acompanhava... Nos bons tempos do bate-papo, face a face, nada de online, as tentativas eram ao vivo. O curso acabou, me formei e fui diplomado, ainda guardo como recordação. O papel branco amarelado com detalhes em verde e grafado pelas mãos hábeis do bom amigo artista das letras Huprecio Albano de Matos, e esse pequeno papel está guardado no fundo de uma gaveta, mas guardado com carinho e cheio de boas lembranças. Mas, ainda se ouve tique-taque estalado das máquinas de escrever na memória...