Fábio
Trancolin
Um
tema muito discutido e que causa debate. A questão das crianças poder
trabalhar. Na constituição, o jovem só pode trabalhar a partir dos 16, a partir
dos 14 só na condição de aprendiz. Na questão da TV, diz a lei que “a participação de crianças em teatro, programas de
televisão ou filmes não é considerado um trabalho regular na medida em que se
trata de uma manifestação artística”. É ou não é um trabalho... Estranho esse
ponto. Comecei falando disso, pois hoje me veio na lembrança uma família amiga,
os “Nakayamas”, tendo com matriarca a Dona Carmem, que carinhosamente chamo de
tia. Ela gerou oito filhos, Yuki, Minoro, Marilza, Meire, Aloisio, Auro, Lauro
e Akira. Por 10 anos, eles venderam rosquinhas e salgados nas ruas de Rio
Verde, eram figurinhas conhecidas no comércio local. Pequeninos e com a bacia
na cabeça ou apoiada no quadril lá “iam
eles” de porta em porta.
Entre os anos de 72 a 82, eles estiveram nas ruas, e o
faturamento com as vendas das rosquinhas era o “ganha pão” da família. Dona Carmem
separou cedo do esposo, o filho mais velho Yuki foi morar com o pai e não fez
parte da ‘turma da rosquinha’, os outros sete ficaram com a mãe. O Minoro saía com a bicicleta
carregada e voltava com ela vazia. A pequena Akemi que com sete anos estava na
lida, a japonesa das coxinhas e rosquinhas era o xodó de muitos comerciantes.
Na marcenaria do meu pai, eles sempre passavam por lá os mais novos, Auro,
Akira e o Laurinho, os marceneiros compravam as rosquinhas e queriam pagar
depois, mas ninguém conseguia ficar devendo para “os japas” eles “caiam” em
cima cobrando e sempre levavam o dinheiro pra casa, o que é justo é justo.
O Aloisio conta que tinha algumas pessoas que, às vezes,
arrematavam todas, só para poder passar as rosquinhas no fundo da bacia para
lamber o creme que acumulava no fundo. E que era uma delícia, eu tive o prazer
de saborear essas “quitandas”! Eles ajudaram no sustento da casa, tiveram
infância, brincaram e estudaram. Nenhum deles se sente explorado. Nenhum filho
da Dª Carmem reclama dessa situação, para eles é uma satisfação poder contar
essa história. Foi através do trabalho dos meninos que a casa foi mantida. Dona
Carmem levantava cedo para amassar a massa e depois enrolar e assar, e as
crianças saíam com as bacias cedo e à tarde, sempre tinha um japonês na rua
vendendo. Aqui ninguém foi explorado, estudaram e cresceram felizes.
Hoje a Tia Carmem está com 81 anos, bisavó (Sõsobo) avó (Obaasan) e mãe (Haha) realizada, sempre que posso vou visitá-la, ela diz não
conseguir mais fazer as rosquinhas do passado, ‘antes era tão fácil e prático’.
Mas, quem saboreou, nunca esquece o sabor de carinho, amor e afeto e muito
sacrifício.