Fábio
Trancolin
Muitos
meninos tiveram um dia um sonho de ser jogador de futebol, e esse sonho começou
lá nos campinhos de terra batida. Tantos e tantos imaginavam a possibilidade de
algum dia realizar esse sonho, não é como hoje que às vezes acaba virando
obsessão. Mas, na minha época, a maioria
jogava era por pura diversão. Naqueles tempos, não existia essa fixação em
busca da profissão. Mas tinha aqueles que tinham isso como objetivo. Dos amigos
com os quais joguei muitas peladas, me recordo de três que viraram
profissionais, o Frei, Tom e o Serginho. Vários outros jogavam muito, mas
ficaram no amadorismo.
Nos anos 70 e 80, tínhamos muitos campinhos
espalhados pela cidade e a molecada se divertia. Atrás do Estádio Mozart Veloso do Carmo, onde hoje o espaço é utilizado pelos carros das
autoescolas, ali era um terrão. Onde está a estação rodoviária, também, tinha
um belo campo de terra. Em frente ao Clube Campestre, tinha outro. No Parque
Betel, onde hoje é o Bairro Canaã tinha um campo desnivelado. Lá pra bandas do
fundo do parque de exposição, também, havia alguns e, também na Vila Maria,
atrás do Posto Horizonte. E, sem contar aqueles que nós improvisávamos, atrás
da Faculdade Objetivo, na “vilinha do matadouro”. Nas margens do córrego do
sapo, carpiram e fincaram duas traves e o campo foi elaborado, e era só correr
atrás da “gorduchinha do capotão”. Em frente ao Hexa (no passado Clube dos
bancários), tinha um terreno enorme que também servia para o futebol. Onde hoje
está a CDL, o pessoal das máquinas de beneficiar arroz jogavam as palhas e nós
espalhávamos e mais um campinho estava feito.
No Posto Vip, também, era um
campinho, pequeno, mas também batemos uma bolinha lá. Onde hoje é o Hemocentro,
ali fizemos um campo com palha de arroz nos gols e, nos finais de tarde,
jogávamos, porém, tinha um funcionário da maternidade que não gostava muito da
ideia. E, nesse campinho, uma vez limpamos todo o terreno, e recolocamos as
traves que o rapaz tinha tirado, estava tudo pronto, só faltava a bola, essa
estava vazia e eu fui encher na borracharia do Seu Nego, o ajudante dele
excedeu no ar, a galera à espera e, eu dei um “balão”, quando ela bateu no chão,
estourou, acabou o jogo, não tinha outra.
Não posso deixar de citar o campo do Martins Borges, onde hoje está o
Colégio Oscar Ribeiro. Em todos esses que mencionei, eu joguei.
No módulo esportivo, o Wilson Ataíde treinava uma garotada, os meninos
do Wilsinho. Muitos eram meus amigos, Carlinhos, Toninho, Lazinho, Cairo
Perereca, Hélio Rosa, Gutemberg, Assis, Preto, Manoel, Ênio, Rildo e Cleuber e
outros tantos... Uma vez me chamaram para que eu fosse treinar lá. Não “tava”
muito afim, mas depois da insistência de alguns amigos, acabei indo numa tarde.
Chegando lá, não falei nada com o professor, ele começou o aquecimento, e eu
entrei na turma, davam algumas voltas em torno do campo, alguns exercícios, e
depois escolhia os times. Eu não tinha chuteiras, fui com o velho ‘Bamba’, um
pra cá outro pra lá, os times foram sendo formados, ele me olhou, e perguntou. “E
você em que posição joga?”. Eu jogo do meio pra frente, respondi com
tranquilidade a pergunta que foi feita. E ele me disse, “então fica de quarto zagueiro”. Já tinham me falado
dessas tiradas dele. Certa vez, um amigo foi treinar, e ao ser perguntado em
que posição jogava, respondeu, “em qualquer uma”, ele disse, “então fica de
fora e espera qualquer uma”. Não retruquei, acatei a solicitação e me
posicionei. Mas, no fundo fiquei chateado, eu era muito rápido, corria muito,
mas em termo de marcação era uma negação. Na primeira bola que rebati, armei um
contra ataque do adversário, gol... O Manoel nem viu onde a bola entrou... O treinador esbravejou quem foi que fez isso?
Levantei a mão e me desculpei. No resto no coletivo, perdi a calma, acertei o
ponteiro esquerdo dele, era o Marcelo Raina, um “loirinho almofadinha”, papai
dele que estava na plateia, ficou louco pela entrada que dei. Acertei mais uns
dois, na virada de campo, o “Cabaré” veio e me disse, olha o treinador pediu
para que eu te substitua se não você vai acabar com a linha de frente dele, e
não vai ter atacante para o final de semana. Saí, fui embora chateado, enviando
um monte de palavrões mentalmente para ele, e não voltei mais... Depois joguei
algumas vezes contra. Como eu falei no começo, tudo era diversão, e se era para
divertir, eu posso afirmar isso, foi o que eu mais fiz...