Um tema muito discutido e que causa debate é a questão do trabalho
infantil. Na Constituição, o jovem só pode trabalhar a partir dos 16 anos; a
partir dos 14, somente na condição de aprendiz. Sobre a participação de
crianças em teatro, programas de televisão ou filmes, a lei afirma que “a
participação de crianças em teatro, programas de televisão ou filmes não é
considerada um trabalho regular, na medida em que se trata de uma manifestação
artística”. É ou não é um trabalho? Estranho esse ponto.
Comecei falando disso porque hoje me veio à lembrança uma família amiga,
os “Nakayamas”, tendo como matriarca a Dona Carmem, que carinhosamente chamava
de tia. Ela gerou oito filhos: Yuki, Minoro, Marilza, Meire, Aloisio, Auro,
Lauro e Akira. Por dez anos, eles venderam rosquinhas e salgados nas ruas de
Rio Verde, sendo figuras conhecidas no comércio local. Pequenos e com a bacia
na cabeça ou apoiada no quadril, lá “iam eles” de porta em porta.
Entre os anos de 1972 e 1982, eles estiveram nas ruas, e o faturamento
com as vendas das rosquinhas era o “ganha-pão” da família. Dona Carmem
separou-se cedo do esposo; o filho mais velho, Yuki, foi morar com o pai e não
fez parte da ‘turma da rosquinha’. Minoro saía com a bicicleta carregada e voltava
com ela vazia. A pequena Akemi, que, aos sete anos, já estava na lida, a
japonesa das coxinhas e rosquinhas, era o xodó de muitos comerciantes. Na
marcenaria do meu pai, os mais novos, Auro, Akira e Laurinho, sempre passavam
por lá; os marceneiros compravam as rosquinhas e queriam pagar depois, mas
ninguém conseguia ficar devendo para “os japas”. Eles “caíam” em cima cobrando
e sempre levavam o dinheiro para casa; o que é justo é justo.
O Aloisio conta que havia algumas pessoas que, às vezes, arrematavam todas
as rosquinhas, só para poder passar as mãos no fundo da bacia e lamber o creme
que acumulava. E que era uma delícia! Tive o prazer de saborear essas
“quitandas”! Eles ajudaram no sustento da casa, tiveram infância, brincaram e
estudaram. Nenhum deles se sente explorado. Nenhum filho da Dona Carmem reclama
dessa situação; para eles, é uma satisfação poder contar essa história. Foi
através do trabalho dos meninos que a casa foi mantida. Dona Carmem levantava
cedo para amassar a massa, depois enrolar e assar, e as crianças saíam com as
bacias, de manhã e à tarde. Sempre havia um japonês na rua vendendo. Aqui,
ninguém foi explorado; estudaram e cresceram felizes.
Yuki e Auro já não estão entre nós. A Tia Carmem nos deixou em 2024,
sendo bisavó (Sōsobo), avó (Obaasan) e mãe (Haha) realizada. Sempre que podia,
ia lá para dar um oi. Ela dizia que não conseguia mais fazer as rosquinhas do
passado; “antes era tão fácil e prático”. Mas quem saboreou nunca esquece o
sabor de carinho, amor, afeto e muito sacrifício.