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segunda-feira, 5 de maio de 2014

Quando valia a pena torcer


Fábio Trancolin

“Eu me lembro com saudade o tempo que passou, o tempo passa tão depressa... Jovens tardes de domingo, tantas alegrias... “ E a nossa alegria nos domingos era acompanhar o pai numa partida de futebol, à tarde, lá íamos nós rumo à Vila Amália para assistir aos jogos do Verdão do Sudoeste. Era um programa para a família, o marido levava a mulher e os filhos. Arquibancada só de um lado, do outro era terrão. Uma parte coberta a outra não, mas isso não interessava muito. O bom era o jogo. Picolé e “juju” dos carrinhos “Brasinha” e do Bar da Terezinha, amendoim, laranja que com certeza era “arma” na mão de alguns...

                                                                                   Arquivo: Aires Humberto
Na orelha o “motorádio” sintonizado na Difusora AM, Mauro Moraes narrava, e outros comentavam, entre eles Luiz Braz e o professor Antônio Edson. Na década de 70, íamos ver o alviverde nos grandes embates contra os grandes da capital, e a rivalidade contra a Jataiense. O estádio sempre lotado, naquela época, a população comparecia, era gostoso estar presente, às vezes atrás dos gols com a cara no alambrado. Certa vez, estava atrás do gol da entrada e a bola ficou quicando dentro da área e o Chatuba numa pancada estufando as redes onde eu estava... Era maravilhoso ver o esquadrão alviverde subindo as escadas do vestiário, entravam de camisa verde, calção e as meias na cor branca. Tínhamos o Chatuba, Toninho Xerife, Radar, Chundí, Palito e o Mug, no gol o Serginho, foi uma pena esse time não sagrar-se campeão, chegou próximo em 77, deu Vila.


Em 1978, teve um grande jogo na cidade, o Flamengo veio jogar na cidade foi um amistoso, na escalação do time carioca só faltou o Zico, estavam presentes Cantarelli, Ramirez, Rondinelli, Junior, Carpegiani, Adílio e Tita... O jogo ficou 0x0, porém o time de preto e vermelho tomou um sufoco do Verdão do sudoeste, o Mug e Radar infernizaram no ataque, só faltou o gol, teve um lance que tinha endereço certo, já tinha passado pelo goleiro, Junior Brasília salvou em cima da linha, o que seria o gol da vitória do Rio Verde.  Eu assisti ao jogo atrás do gol, que hoje fica do lado do Ginásio Jerônimo Martins. Naquela tarde, o estádio ficou lotado, não éramos flamenguistas como muitos ali não eram, porém era um grande time com jogadores de seleção, tinham que ser prestigiados e foram.


Na década de 80, o time já não encantava mais como os dos anos anteriores, mas, mesmo assim, íamos ver o Verdão, tinha o Miro o ‘goleiro Voador’, Pavão, Gercival, Soares, Wagner Isidoro, Gaúcho e Serginho Leão no ataque. Íamos porque gostávamos de futebol, teve vez que, nas quartas-feiras, matávamos aulas e saímos do Colégio do Sol para ir ao estádio ver o time. Lembro-me do cheiro de estádio com a fumaça do churrasquinho misturado com cheiro de explosão de rojão. Já assistimos jogos ensopados pela água da chuva. Já vi sopapos entre torcedores adversários, principalmente, os de Jatai, era encrenca na certa. Eles colocavam uma abóbora na ponta de vara e balançava, isso era um afronta para os torcedores de camisas verdes. Certa vez, o Martinho (Grande amigo da família que já voltou para o Plano Espiritual) picou uma abóbora no tiro, tempos em que andar armado não era considerado crime, ele sempre tinha um “Três oitão” na cintura... O torcedor abaixou a vara e sumiu... 



Os anos passaram, o Esporte Clube Rio Verde, já não é o mesmo dos tempos que encantava, naquela época só o símbolo no lado esquerdo do peito, a camisa sem patrocínio, o que valia era a raça e determinação, o coração na ponta da chuteira, isso nos dava emoção, e galera vinha ao delírio pendurada no portão. Fiquei muitos anos sem ver o Alviverde, e fiz como o meu pai, levei o filho para ver o Verdão, em um jogo da segunda divisão entre os times da cidade, a Associação Atlética Rio-verdense, de azul, branco e vermelho, estranha sensação, nós torcemos pelo de Verde e Branco, placar elástico 5x3 para o Verdão. Na estreia do Goianão de 2012, eu fui como imprensa, colete laranja, era a primeira vez que estava do lado de dentro do campo, ali na beira do gramado, no primeiro jogo derrota para o “Dragão” 4x2, prestigiei o jogo contra a Anapolina, empate por 1x1, depois não voltei mais no estádio. Perdeu aquele encanto de jogo de domingo à tarde em que torcíamos com verdadeira paixão. 






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