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quinta-feira, 1 de maio de 2014

SENNA ‘THE BEST’



Fábio Trancolin


No natal de 1974 meu pai me deu um autorama, presente esse comprado na Casa das Louças, o Fitti Show em homenagem ao Bicampeonato mundial de Fórmula 1 de Emerson Fittipaldi 72/74. Não era tão popular a Fórmula 1, o futebol era mais interessante. Nas nossas corridas de carrinhos de rolamentos colávamos maços de cigarros Marlboro imitando o patrocinador oficial da F1. Às vezes víamos as corridas, não era com frequência... 


Na temporada de 81, o Brasil ganha o terceiro título na categoria, dessa vez com Nelson Piquet, e nesse ano uma corrida em especial me chamou à atenção, o Grande Prêmio do Canadá, eu morava em São Paulo, e assisti com o Tio Gilberto, vimos o canadense Gilles Villeneuve dar um verdadeiro show debaixo de um temporal com a asa dianteira destruída, quase que sem visão ele conduzia como se nada tivesse acontecido e subiu no pódio em 3º. O interesse cresceu pelo esporte automobilístico, nessa época o chiclete Ping Pong lançou uma coleção de figurinhas da temporada 82, eu juntei. Naquele ano no dia 8 de maio no circuito de Zolder na Bélgica, Villeneuve sofreu o acidente que entrou para história como o mais violento da era moderna da Fórmula 1, morria ali um dos pilotos mais arrojado e destemido que passou pela categoria, sem nunca ter conseguido um título, ter alcançado apenas 6 vitórias, ele até hoje é considerado para os ‘Ferrarista’ a alma do ‘cavallino rampante’, em recente pesquisa ele leva vantagem no coração do torcedor da Ferrari em relação a Schumacher que conquistou cinco títulos pela escuderia de Maranello e mais de 70 vitórias pela equipe. 


Virei um verdadeiro fã de Fórmula 1, assistia todas as corridas, lia e comprava tudo o que aparecia sobre o esporte, e fazia as minhas anotações. Na temporada de 83, o título mais uma vez veio para o Brasil, o 4º título e o bicampeonato de Piquet. Nas transmissões se falava muito em um piloto que vinha pulverizando os recordes das categorias de acesso, era nome certo para temporada do ano seguinte. E no grid do GP do Brasil, 25 de março de 1984 ele estava lá, quatro dias depois de ter completado 24 anos, era a estreia de Ayrton Senna na principal categoria de automobilismo. Ele deu apenas 8 voltas com o seu Toleman, e abandonou, na prova seguinte o primeiro ponto na carreira, GP da África do Sul ele chegou em 6º. A primeira vitória poderia ter acontecido no GP de Mônaco o sexto da temporada, se não fosse a manobra do diretor de prova o ex-piloto Jacky  Ickx, que parou a prova e deu a vitória para Alain Prost, foi o primeiro pódio, ficou em segundo, mas sabendo que era o ‘primeiro’... O recado estava dado, veio para vencer ...  Naquele ano foram três pódios. 


Quando começou a temporada de 1985 ele pilotava a Lotus, um dos mais belos carros da história da Fórmula 1, naquele ano até o cigarro que eu fumava era o JPS, era o patrocinador oficial da Lotus. E com a preta e dourada debaixo de um verdadeiro dilúvio ele cruzou a linha de chegada no Estoril em primeiro, naquele domingo em que o presidente que não tomou posse voltava para o Plano Espiritual, o ‘herói enforcado’ era lembrado, o novo Herói nacional comemorava o triunfo no dia 21 de abril. Seis vitórias e três temporadas depois, os especialistas diziam, ‘Senna tem a inteligência de Fittipaldi, a frieza de Lauda e o arrojo de Villeneuve’. Ele assinou com a McLaren-Honda e dava inicio a uma parceria vitoriosa. E naquele ano de 88 o melhor piloto com o melhor carro, e um ‘companheiro rival’ extremamente competente o ‘Professor’ Alain Prost, o Herói fez 13 poles e 8 vitórias. E na madrugada de 30 de outubro, o titulo era dele em uma corrida extraordinária, depois de largar na pole e cair para 14º lugar e fazer uma bela corrida de recuperação o Campeão do mundo era ele. No ano de 89 os poderosos puxaram lhe o tapete, 90 e 91 ele tratou de colocar as coisas no lugar e entrava no seleto clube dos tricampeões. 


Depois de muitos anos sendo realizado no circuito de Jacarepaguá, em 1990, o Grande Prêmio passou a ser disputado no circuito de Interlagos, Ayrton foi um dos principais articuladores e na reforma ele desenhou o S do Senna, ele tinha tudo para levar a vitória daquele ano e estava na liderança quando um japonês atrapalhado (Satoro Nakajima) lhe tirou a vitória depois de uma fechada.. Em 91 uma corrida que entrou para Hall das maiores vitórias do Magic, num final dramático, com apenas a sexta marcha, e com extremo desgaste físico ele recebeu a bandeirada na sua terra, aos berros de dor misturado com lágrimas e com muita emoção, realizava um sonho, ganhava em casa. Essa é uma das mais lembradas da carreira do Herói, a imagem dele sem forças para erguer o troféu no pódio demonstra a garra a determinação e vontade de vencer acima de todos os limites. 


Em 1993 quando teve inicio a temporada daquele ano, Senna sabia que seria um ano difícil e enfrentar as poderosas Williams da mesma forma que não tinha sido na temporada anterior, e não foi nada fácil, mas mesmo assim ele venceu cinco corridas, venceu em casa e comemorou nos braços do povo, se tornou o Mister Mônaco vencendo seis provas, sendo cinco consecutivas (89, 90, 91, 92, 93). Na prova do GP da Europa em Donington Park, considerado pela maioria dos especialistas em automobilismo como a ‘corrida da volta perfeita’. Em novembro no dia 07, na Austrália ele venceria pela última vez... (Não imaginávamos que essa seria a última)... Uma cena marcou o encerramento daquela temporada, Senna foi assistir ao show da cantora Tina Turner, a cantora o chamou ao palco, para cantar para ele ‘Simply the Best’ e dizia emocionada você é ‘The Best’... ‘The Best’... 


No ano seguinte ele realizaria o sonho de pilotar a Williams, o carro perfeito (pensávamos assim...), seria a temporada perfeita, melhor do que a de 1988. Imaginávamos que os três anos de contrato com a Williams, Senna acumularia recordes e mais recordes... Dizem que ele encerraria a carreira pilotando uma Ferrari, essa afirmação foi dada por Jean Todt o poderoso da Escuderia Italiana, que em 96 levou Schumacher para a Casa de Maranello, a vaga seria do Magic Senna. Nos seus três últimos Grandes prêmios, ele largou na pole e não terminou nenhuma, foram três acidentes...


Naquele dia do trabalho, aguardávamos a reviravolta no campeonato, Schumacher havia vencido as duas primeiras corridas, ali teria que começar a reação de Senna. Na sexta-feira, Rubens Barrichello sofreu um grave acidente, no sábado a morte de Ratzenberger. Na sétima volta quando ele entrou na curva Tamburello e Galvão Bueno gritou, ‘Senna bateu forte’, esperávamos que ele simplesmente saísse do carro, mas, ele não saiu... Ficou ali com cabeça tombada. Quando ele foi levado pelo o helicóptero a mostra de sangue na pista assustou, não era simples, era grave... A espera... As notícias... Quando Roberto Cabrini disse: ‘Não há mais esperança para Ayrton Senna, ele está clinicamente morto... ‘Parece que abriu um buraco, como o ‘Imortal’ morreu? Herói não morre, mocinho não morre no final... Mas era verdade, o Herói estava morto e a lenda viva. Os astrônomos italianos presentearam com uma estrela na constelação de Auriga tem uma estrela chamada Ayrton Senna, que vai brilhar eternamente.


Na empresa que eu trabalhava todos sabiam da minha admiração pelo ídolo, na minha mesa no porta caneta tinha a bandeira do Brasil, junto à foto dele. Após os GPs eu comprava pelo menos uns três jornais, e na empresa tinha a Folha de S. Paulo, no final do dia eu recortava tudo sobre a corrida e guardava, ainda tenho todos os recortes na minha casa. Naquela segunda-feira foi cruel ir trabalhar, todos vieram me cumprimentar, eu tinha perdido um ‘ente da família’... Na banca do Eduardo, tudo que saia sobre Fórmula 1 era guardado e me avisavam, chegou novidades... De álbum de figurinhas a Revista Grid... Dos cincos Grandes Prêmio que ele participou em São Paulo, não deu para ir a nenhum, faltava verba, era caro. Durante dez anos tudo que eu colecionei eu guardei numa caixa, depois do desencarne dele, lacrei e guardei...


Na quarta-feira (04.05) eu tinha um exame em uma clínica que ficava no Shopping Center Norte, enquanto tomava café assistia aos telejornais que mostravam que o corpo desembarcava no Aeroporto de Cumbica em Guarulhos, era recebido com honras de chefe de estado o HERÓI NACIONAL (O maior Herói que tivemos!). Saí de casa fui para o metrô, e me dirigi para o compromisso. Ao chegar ao terminal do Tietê, o shopping fica na saída do lado esquerdo, enquanto descia as escadas ouvi um barulho, e sai correndo em direção a Marginal Tietê que fica do lado oposto, e ao chegar à ponte sobre o rio, ao fundo vi, o cortejo que vinha em minha direção, quatro helicópteros da Força Aérea, sobrevoava o carro de bombeiros, outros tantos faziam a cobertura para TVs. Fiquei paralisado, o carro se aproximava e eu estático. A bandeira cobria o caixão do Mito, a cidade que não pára, mas naquele dia parece que parou. Quando ele passou na pista embaixo na Ponte das Bandeiras, a dois metros de onde eu estava, o nó na garganta, a dor da perda, eu chorei (mais uma vez)... Ali fiquei olhando para o vazio e imaginando quis tanto chegar próximo ao meu ídolo, e o mais próximo que cheguei foi ali naquele dia... E no pensamento ficou a vibração e as lembranças das voltas das vitórias... AYRTON SENNA DO BRASIL!!!!!  





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