Fábio
Trancolin
A
cantoria na carroceria de caminhão não se ouve mais, os trovadores de outrora
calaram e ficaram apenas na memória. Quantas vezes, na volta, a chuva nos
pegava no meio do caminho e quando não tinha lona, deixava a água escorrer pelo
corpo e ensopar até a alma, e a cachaça esquentava o frio que a chuva deixava.
O cheiro do cerrado banhado pelas lágrimas da natureza deixava o aroma que da
lembrança não sai.
Na campanha para prefeito de Rio Verde em
1976, (a primeira que eu lembro) meu pai era eleitor da ARENA, e seguiu o
candidato do prefeito Eurico Veloso, que era o Byron Araújo, adversário do
candidato do MDB Iron Jayme. Meu pai tinha um Jipe e nesse “possante” foram
várias as fazendas que visitamos com os cartazes amarrado na frente do carro,
naquele tempo além de Ouroana, Riverlânida e Lagoa do Bauzinho, Montividiu e
Castelândia e Santo Antônio da Barra eram distritos de Rio Verde. Naqueles
tempos, os comícios e as reuniões eram regados a churrascos e cervejas, e muita
galinhada... E juntava gente. A campanha era acirrada, apenas dois partidos, ou
você era a favor ou do contra. E como tinha briga e discussões. E o povo
divertia e discutia, e outros tantos apostavam. Quando o pessoal das fazendas e
dos distritos vinha para a cidade no dia da eleição ou mesmo nos comícios, a
alimentação também tinha os lugares determinados, a turma do MDB era na Pensão
Teixeira (Hoje Hotel Teixeira) e os da Arena ficavam na Presidente Vargas no
prédio do Jesuíno Veloso, onde era a SEARV depois demoliram hoje é um
estacionamento.
Material eram os cartazes e as faixas, não
tinham adesivos, e o horário político não era essa produção de marqueteiros dos
milhões. O negócio era no palanque e nas ruas no corpo a corpo. Os palanques
geralmente eram a carroceria de caminhão, mas, às vezes, montavam uma
plataforma. E tinha as histórias de campanha, as famosas gafes... Conta que um candidato certa vez disse: “Subo
nesse palanque de pau duro”... Contam que uma candidata à vereadora em um
discurso “inflamado” proferiu uma frase que virou piada, “o adversário está
distribuindo galinhas, se eleita for eu darei muito mais que uma galinha”. São
as histórias de campanhas...
Os políticos eram verdadeiros artistas, e o
povo gostava dessas cenas e visitas... Eram pegando as crianças no colo,
abraçando povo, comendo e bebendo, eles não tinham “frescuras” e nem se preocupavam
com higiene. Essa eu presencie, numa casinha simples lá no fundo da Vila
Borges, um determinado politico, chegar próximo ao fogão a lenha, e sentir o
cheiro do feijão, e se emocionar, pois aquilo lembrava a vozinha dele nos tempos
da roça. Esse mesmo cidadão, contam que chegou numa casa e perguntou pelo pai
do morador, ele respondeu, “papai morreu faz alguns anos”, o político abraçando
o rapaz disse pondo a mão no peito, “ele morreu pra você, pois pra mim ele está
vivo aqui dentro do meu coração...”.
Meu pai conta que na primeira eleição para presidente que
ele votou, tinha 19 anos, e o voto foi no Jânio Quadros, naquele ano foi a
primeira vez que a televisão foi associada à
eleição. Assim, surgiu a primeira propaganda eleitoral na TV. O pai diz que o “cara”
era uma figura, ele aparecia nos comícios, vestindo-se de maneira desleixada,
com cabelos despenteados, barba por fazer, e com sanduíches de mortadela no
bolso, um verdadeiro artista. E tinha como símbolo uma vassoura que dizia que
varreria toda corrupção... “Varre, varre vassourinha. Varre, varre a bandalheira. O povo já
está cansado de sofrer desta maneira. Jânio Quadros a esperança deste povo”. Foi eleito e renunciou...
1º voto em 1988 para prefeito - 1º voto em 1989 para presidente |
O pai teve que esperar por 29 anos para votar outra vez para
presidente, eu estou indo para a sétima vez. Lembro-me do meu primeiro voto
para presidente, lá na Escola Galileu Menon no Bairro do Artur Alvim (São
Paulo), e do mesmo jeito que o pai eu
também tinha 19 anos. A lista de candidatos era enorme,
22 nomes tinham à disposição, não deixaram o dono do baú se candidatar, Silvio
Santos foi impedido. Eu votei no Roberto Freire. E como aconteceu na primeira
eleição que o pai votou, na minha vez quem ganhou também não terminou o
mandato, não renunciou, porém, o Congresso tirou.
O tempo passou e muitas eleições eu vi
e votei. Adoro política, mas perdi o respeito e a consideração por certos
políticos. Como diz Rousseau “O
homem é bom por natureza. É a sociedade que o corrompe”. E a
cada palanque e coligação montada é que a frase de Galbraith faz sentido, “Nada
é tão admirável em política quanto uma memória curta”. E para encerrar a
mais famosa de todas, “Quase todos os
homens são capazes de suportar adversidades, mas se quiser por à prova o
caráter de um homem, dê-lhe poder”’. Abraham
Lincoln.