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segunda-feira, 16 de junho de 2014

Os artistas da política


Fábio Trancolin

A cantoria na carroceria de caminhão não se ouve mais, os trovadores de outrora calaram e ficaram apenas na memória. Quantas vezes, na volta, a chuva nos pegava no meio do caminho e quando não tinha lona, deixava a água escorrer pelo corpo e ensopar até a alma, e a cachaça esquentava o frio que a chuva deixava. O cheiro do cerrado banhado pelas lágrimas da natureza deixava o aroma que da lembrança não sai.      



Na campanha para prefeito de Rio Verde em 1976, (a primeira que eu lembro) meu pai era eleitor da ARENA, e seguiu o candidato do prefeito Eurico Veloso, que era o Byron Araújo, adversário do candidato do MDB Iron Jayme. Meu pai tinha um Jipe e nesse “possante” foram várias as fazendas que visitamos com os cartazes amarrado na frente do carro, naquele tempo além de Ouroana, Riverlânida e Lagoa do Bauzinho, Montividiu e Castelândia e Santo Antônio da Barra eram distritos de Rio Verde. Naqueles tempos, os comícios e as reuniões eram regados a churrascos e cervejas, e muita galinhada... E juntava gente. A campanha era acirrada, apenas dois partidos, ou você era a favor ou do contra. E como tinha briga e discussões. E o povo divertia e discutia, e outros tantos apostavam. Quando o pessoal das fazendas e dos distritos vinha para a cidade no dia da eleição ou mesmo nos comícios, a alimentação também tinha os lugares determinados, a turma do MDB era na Pensão Teixeira (Hoje Hotel Teixeira) e os da Arena ficavam na Presidente Vargas no prédio do Jesuíno Veloso, onde era a SEARV depois demoliram hoje é um estacionamento.


Material eram os cartazes e as faixas, não tinham adesivos, e o horário político não era essa produção de marqueteiros dos milhões. O negócio era no palanque e nas ruas no corpo a corpo. Os palanques geralmente eram a carroceria de caminhão, mas, às vezes, montavam uma plataforma. E tinha as histórias de campanha, as famosas gafes...  Conta que um candidato certa vez disse: “Subo nesse palanque de pau duro”... Contam que uma candidata à vereadora em um discurso “inflamado” proferiu uma frase que virou piada, “o adversário está distribuindo galinhas, se eleita for eu darei muito mais que uma galinha”. São as histórias de campanhas...

Os políticos eram verdadeiros artistas, e o povo gostava dessas cenas e visitas... Eram pegando as crianças no colo, abraçando povo, comendo e bebendo, eles não tinham “frescuras” e nem se preocupavam com higiene. Essa eu presencie, numa casinha simples lá no fundo da Vila Borges, um determinado politico, chegar próximo ao fogão a lenha, e sentir o cheiro do feijão, e se emocionar, pois aquilo lembrava a vozinha dele nos tempos da roça. Esse mesmo cidadão, contam que chegou numa casa e perguntou pelo pai do morador, ele respondeu, “papai morreu faz alguns anos”, o político abraçando o rapaz disse pondo a mão no peito, “ele morreu pra você, pois pra mim ele está vivo aqui dentro do meu coração...”.


Meu pai conta que na primeira eleição para presidente que ele votou, tinha 19 anos, e o voto foi no Jânio Quadros, naquele ano foi a primeira vez que a televisão foi associada à eleição. Assim, surgiu a primeira propaganda eleitoral na TV. O pai diz que o “cara” era uma figura, ele aparecia nos comícios, vestindo-se de maneira desleixada, com cabelos despenteados, barba por fazer, e com sanduíches de mortadela no bolso, um verdadeiro artista. E tinha como símbolo uma vassoura que dizia que varreria toda corrupção... “Varre, varre vassourinha. Varre, varre a bandalheira. O povo já está cansado de sofrer desta maneira. Jânio Quadros a esperança deste povo”. Foi eleito e renunciou...

1º voto em 1988 para prefeito - 1º voto em 1989 para presidente 

O pai teve que esperar por 29 anos para votar outra vez para presidente, eu estou indo para a sétima vez. Lembro-me do meu primeiro voto para presidente, lá na Escola Galileu Menon no Bairro do Artur Alvim (São Paulo), e do mesmo jeito que o pai eu também tinha 19 anos. A lista de candidatos era enorme, 22 nomes tinham à disposição, não deixaram o dono do baú se candidatar, Silvio Santos foi impedido. Eu votei no Roberto Freire. E como aconteceu na primeira eleição que o pai votou, na minha vez quem ganhou também não terminou o mandato, não renunciou, porém, o Congresso tirou. 


O tempo passou e muitas eleições eu vi e votei. Adoro política, mas perdi o respeito e a consideração por certos políticos. Como diz Rousseau “O homem é bom por natureza. É a sociedade que o corrompe”. E a cada palanque e coligação montada é que a frase de Galbraith faz sentido, “Nada é tão admirável em política quanto uma memória curta”. E para encerrar a mais famosa de todas, “Quase todos os homens são capazes de suportar adversidades, mas se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder”’. Abraham Lincoln. 



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