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sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Ao Mestre com carinho


Fábio Trancolin



Fábio Trancolin

No dia 29 de agosto é aniversário de uma pessoa que fez a diferença, marcou a sua passagem pelo Plano Terrestre. Falo de Doutor Bezerra de Menezes, o chamado Médico dos Pobres.  Nasceu no Ceará, foi Médico, Militar, Escritor, Jornalista, Politico filantropo e expoente da Doutrina Espirita. Foi uma daquelas pessoas inesquecíveis, já se passaram mais de cem anos da tua morte, e ele está presente.

Comecei falando de Adolfo Bezerra de Menezes, pois o tenho como exemplo e Mentor. O objetivo desse texto é homenagear o meu amigo Professor Lindomar Barros que também fazia aniversário dia 29 de agosto, e nesse ano fez a passagem para o Plano Espiritual. Ele também deixou um legado, uma história e tem feito falta, muita falta... Foi Mestre, Professor, Politico... Foi um ‘Transformador’, pois fez da sua tarefa a arte de transformar pessoas...

Nas eleições de 2012 ele esteve na minha casa. Na minha sala ele disse, ‘eu sou alguém que tinha tudo pra dar errado, mas eu provei o contrário e com muito esforço e fiz acontecer. Eu sou negro, filho de mãe solteira, e as minhas irmãs tem cada uma um pai ’ Para a sociedade preconceituosa ele era um cidadão que não venceria. Ele venceu, chegou lá. Estudou, se tornou Mestre na arte de ensinar, fez da educação o seu lema. Ele foi o candidato em quem votei, teclei na urna o nome dele. Eu o visitei no legislativo, e no seu gabinete ele me disse, ‘eu estou observando, para não falar besteira ou fazê-las, observe, estude se aprofunde e depois põe em pratica. Estava agindo como um verdadeiro educador. Porém foi chamado a desenvolver um trabalho que ele amava, e deixou a vereança, e assumiu aquilo que ele conhecia, ‘era o teu pedaço’, o território do qual ele sabia e sabia muito, assumiu a pasta da Educação.

Temos vários planos, idealizamos, planejamos, articulamos, mas tem um Mentor Maior, que esta no comando, e é o plano dele que vale... DEUS. E no último dia do outono desse ano, ele retornou ao Plano Maior. E hoje ele completaria 53 anos, lembrarmo-nos dele, vamos comemorar essa data, ele era a alegria, e essa alegria vai permanecer. Vamos brindar... Um brinde a tua amizade e tua felicidade... Quem disse que você partiu! Muitos se beneficiaram da sua bondade. Pois em pratica a máxima do Evangelho, ‘Não saiba a vossa mão esquerda o que dê a vossa mão direita’. Será lembrado, hoje e sempre...

Esse texto é pouco para falar de ti, uma lauda é muito pouco, tua história, tua vida daria um livro, e seria um prazer conta-la... Fica na lembrança o sorriso largo e o abraço fraterno com afago que ele nunca deixou de dar em cada vez que nos encontramos... Deixo a minha homenagem nas linhas que escrevi pra ti. Ao Mestre com carinho...  


terça-feira, 26 de agosto de 2014

Paixão pelo Palmeiras


Fábio Trancolin

Difícil alguém que não tem um time para torcer, alguns torcem pelos times dos pais, outros são influenciados pela mídia, alguns pelos parentes que “torram” a paciência, têm aqueles que estão em evidências e acabam contagiando a meninada. O pai nos ensinou a torcer pelo Palmeiras (E lhe agradeço por isso), esse time nos deu e dá alegrias, já nos fez passar raiva, nos decepcionou em alguns momentos, mas nós o amamos. 


O pai conta que em 1958 quando foi morar em São Paulo, o único time que fazia frente ao Santos de Pelé era o Palmeiras, ele disse que a maioria torcia pelo alvinegro praiano, e por ele ser goiano e vinha de Rio Verde, se encantou pelo alviverde imponente. E assim nascia a paixão pelo Palmeiras. O Verdão tinha uma verdadeira “máquina” na época: Valdir de Moraes, Djalma Santos, Valdemar Carabina, Geraldo Scotto, Zequinha, Chinesinho; Julinho Botelho, depois veio o Ademir da Guia, Dudu e Vavá e outros tantos. Naquele início da década de 60, o pai diz que era um espetáculo ir até ao Pacaembu ou Parque Antarctica ver o Palmeiras jogar, e os outros, também, não eram ‘timinhos’, tinham verdadeiros esquadrões.


Veio a década de 70, e o Alviverde era a Academia, mas eu não me lembro dos títulos de 72/73/74 e no titulo do Paulistão de 1976 lembro-me do pai comentar, naquela ocasião não passava jogo regional na TV e depois desse veio uma “seca danada”. Naquela época foi o período que eu fui pra rua jogar, era o tempo das figurinhas e dos campinhos e de tirar sarro dos outros torcedores, em 78, o Verdão chega à final do Brasileirão, dois jogos contra o Guarani de Campinas (Era um Timaço o ‘Bugre’), imaginei que iria ver o nosso time sagrar-se campeão, mas que nada, perdemos no Morumbi e depois no Brinco de Ouro da Princesa, era agosto, e o Brasil tinha sido “sacaneado” na Copa do Mundo daquele ano na Argentina, foram duas desilusões para um moleque de 10 anos, pensa numa tristeza...


Mas eu não “tava”’ nem aí, estava sempre uniformizado, a camisa do Palmeiras e o calçãozinho verde, e não mudava de time de jeito nenhum, muito garotos faziam isso, torcia para quem estava ganhando. Em 79, quase levamos o “Paulistão”, mas o cartola do Corinthians Vicente Mateus mexeu no regulamento e alterou as coisas. E no Brasileirão quase também, o Verdão goleou o Flamengo dentro do Maracanã por 4x1, o presidente do time carioca (Márcio Braga) disse que já tinha comprado as passagens para o Rio Grande do Sul, eles iriam enfrentar o Internacional, só que ele esqueceu que tinha o jogo contra o Alviverde. O Palmeiras foi para a semifinal, porém não passou pelo Colorado, mas também ninguém passou naquele ano eles foram campeões invictos. Eu assisti ao jogo na casa do Sargento Barbosa, gaúcho e torcedor Colorado. Década de 80 foi terrível nada. A única vez que chegou à final foi no paulistão de 86, e teve o vexame da derrota no Morumbi para o time do interior paulista a Internacional de Limeira.


No Paulistão de 88, eu tive a oportunidade de ver o Verdão jogar pela primeira vez, no Pacaembu na estreia contra o Mogi Mirim, o jogo foi 1x0 para o visitante, gol de um ex-atacante do Palmeiras Carlos Alberto Seixas. Estávamos eu e o Marcello, tinha comprado uma corneta verde, e depois voltamos descendo a Rua da Consolação até ao Metrô do Anhangabaú, ali encontrarmos com a torcida do Corinthians que vinha em extrema algazarra, eles tinham ganhado do São Paulo no Morumbi. E, no final daquele campeonato o Palmeiras colocou o Corinthians na final, vencendo o São Paulo por 1x0, o empate era do Tricolor e aos 46 do 2º tempo, Gerson Caçapa fez para o Alviverde. O Claudio Augusto, um grande amigo que tenho, estava no Pacaembu, assistindo ao jogo do Corinthians contra o Novorizontino, eles dependiam da vitória do Verde, eles diziam que o Palmeiras iria facilitar para o Tricolor. Não foi isso que aconteceu. Eles foram para final e venceram o Guarani em Campinas e ganharam o título daquele ano. 


E, nada de eu ver o meu time campeão, o time da vez era o São Paulo, em 89, quase, perdemos para o Bragantino e adeus título, caiu no colo do São Paulo, em 90, Bragança levou... E nada, nada de gritar Campeão. Em 92, quase, chegamos à final, porém mais uma vez deu São Paulo. Então chegou o ano da redenção, ganhamos o Paulistão no jogo histórico 4x0 do arquirrival Corinthians. O Rio-São Paulo também nós comemoramos em cima deles (Dá-lhe Edmundo!). O Brasileirão, outro que foi para a sala de troféus do Parque Antarctica (E só não foi mais uma vez em cima deles, porque eles facilitaram o jogo para o Vitória na Bahia).  



Aquele sábado, 12 de junho de 1993, jamais sairá da memória, que coisa maravilhosa, foi algo que não dá para descrever. Foi uma semana difícil, víamos de uma derrota, perdemos o primeiro jogo, 1x0 e o Viola tinha imitado o “porco” e feito a festa da torcida deles. Mas lavamos a alma no jogo seguinte, morava numa rua dominada por corintianos, é algo inenarrável... Depois desse, o Verdão chegou a outras tantas finais, mas nada se comparada a esse titulo... Ganhamos a Libertadores, perdemos o Mundial, visitamos a Série B (por duas vezes), mas a paixão pelo Palestra Itália, o Verdão do Parque Antarctica  essa não muda... Essa permanece... Essa permanecerá...  


segunda-feira, 18 de agosto de 2014

O casarão de portas e janelas vermelhas


Fábio Trancolin

Não lembro a data, mas era lá no mês de julho de 1977. Mudamos mais uma vez. Viemos morar no casarão da Rua 12 de outubro. À primeira vista, ele era imenso, sempre moramos em casas pequenas, ao entrarmos, uma sala, depois outra e mais um cômodo que servia de copa, três quartos, uma despensa, o piso era de madeira, quando corríamos, o barulho era assustador, com espaços que mais pareciam buracos, objetos caíam ali, poderia dar como perdido, pois já era. Era pintado de branco com as janelas e portas em vermelho elas eram de madeiras. Não tínhamos tantos móveis para que ele pudesse ficar muito bem decorado. Não fazia tanto tempo do acidente em que o caminhão entrou na nossa casa, e passou por cima dos nossos móveis. 


Nessa época, o Vô Henrique passou um tempo lá em casa, ele já estava com 80 anos, e o barulho da molecada o incomodava. Logo ele foi embora, não quis ficar. E por falar em barulho, éramos acordados pelos recrutas do Tiro de Guerra, seis da manhã, eles já recebiam as instruções. Naquele tempo os sargentos que comandavam a tropa era o Sgtº Ronan, e o Sgtº Barbosa, eles moravam em frente. Naquele ano, o asfalto ainda não tinha chegado por ali, e tudo era cascalho, joguei bola ali na terra e no “poeirão”.


O que mais chamava atenção ali era o quintal, era imenso, tanto o do casarão em que eu morava quanto os vizinhos, o do lado debaixo, tinha casarão muito mais velho do que o nosso... Nele morava o Seu Nego e os filhos o Cleomar e a Ozania, se ainda estivesse de pé e tivesse sido preservado seria uma relíquia patrimonial para a cultura local. Do lado de cima, era e ainda ela esta lá a Dona Suerlene. No casarão em que o Cleomar morava em um quarto escuro, o Tatão que era o nosso senhorio e o dele também, criava um cachorro, que não via a cor do sol, ele estava sempre preso, aquilo nos incomodava, à noite ele o soltava para dar uma volta, era um pastor parecia um lobo. Pensa num cão bravo.


O nosso quintal tinha oito pés de jabuticabas, duas mangueiras, e mais alguns pés de goiabas. E, nos vizinhos, além das mangas e jabuticabas, tinha caju e cajá-manga. O pai fez horta, e nos fizemos um campinho para jogar futebol, no fundo, tinha uma cerca de arame, só pra determinar território, e dali descia e chegava ao Córrego Barrinha. Alguns bailinhos foram realizados ali, muitas vezes, na vitrola, o Jerry Adriani cantou o ‘meu coração é de cristal’... Por falar em música, no dia 16 de agosto de 1977, eu morava lá, naquela terça-feira morria o rei do rock, a vizinha nossa amiga a Renê que morava atrás da cadeia velha, casa essa que depois nós fomos morar, desabou em lágrimas, ela chorou tanto com a perda do Elvis... Também quem não sentiu a perda do ídolo...  


Ali, passei bons e maravilhosos dias, eles eram longos, cheios de alegrias, tinha os bons amigos e muitas coisas pra fazer, nos quintais dos vizinhos... Na rua, no cerrado, nas beiras de córrego, nas quadras do TG e no Clube dos bancários. Na rua de cima, morava o Tio Juvenil, em 77, foi ano de eliminatórias para a copa do mundo, que aconteceria na Argentina no ano seguinte, e nós íamos lá para a casa do Tio assistir os jogos da Seleção Brasileira, ele já possuía TV em cores, era um espetáculo ver os jogos na televisão colorida. Teve um jogo que a turma do quintal da Dona Gasparina, (no ano seguinte também iríamos fazer parte daquele quintal), juntaram todos para ver o jogo, naquela época tudo era motivo para fazer churrasco e reunião que vazava as noites. O Brasil jogou contra a Bolívia, foi 8x0, nesse tempo, era o Brasil que goleava e era temido pelos adversários.


Moramos ali no casarão uns seis meses, mudamos para a Rua Ricardo Campos no final do ano, no quintal, tinha quatro casas, habitamos duas delas. Elas não eram grandes quanto o casarão, mas adorava o lugar, eram simples, mas aconchegantes. Tenho saudades do quintal, dos churrascos que eram feitos no chão (cavava se um buraco e colocava uma grande por cima). Ali fiz o meu aniversário de 10 anos. O pai fez festa, os amigos da marcenaria vieram os amigos da rua, também, os parentes apareceram... De presente, o pai me deu uma camisa do Palmeiras. O sócio ‘desonesto’ do pai me deu dinheiro de presente... A Tia (Dina) maravilhosa do coração vendia Avon, ela me presenteou com um carrinho azul que era um recipiente de shampoo...


Em 79, passou um vento por lá, e o telhado da nossa casa, ele levou, as telhas foram embora. O barulho do vento encanado e assustador, debaixo da mesa o pai nos colocou, ninguém se machucou, mas o susto... Ah, o susto esse foi grande... A nossa vizinha, a cadeia que naquela época era chamada de “cadeia velha”, ela servia apenas para ninhos de morcegos, corujas e pardais... E, também, é claro, para as brincadeiras da molecada. No finalzinho da tarde, os pardais em barulhenta algazarra retornavam... Naquele momento era normal, tinha demais era considerado “praga”, hoje eu sinto falta desse barulho... Mas não é só do barulho que eu sinto falta... Sinto falta do pouco que era muito... 



segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Rápido e ligeiro: ele é o ligeirinho


Fábio Trancolin

Enoque Gomes que muitos não sabem quem é, mas se falar o apelido, todos conhecem: Ligeirinho do salgado. Nascido em 7 de  agosto de 1940 no Rio Grande do Norte numa cidadezinha que hoje tem pouco mais de 10 mil habitantes, chamada  Luiz Gomes. Casado com a Dona Eli e, dessa união, dois filhos nasceram o Fábio e o Tarcísio.  


Com suas sandálias aladas, veloz como o vento, ele cruza a cidade de um lado ao outro, não tem quem não conheça e não há lugar que ele não tenha ido, com sua bacia debaixo do braço ou no alto da cabeça, ele traz o salgado esperado por muitos. Salgados esses que alimentaram os seus filhos, pois foi daí que esse bravo nordestino tirou o sustento para a família.

Ligeirinho corre de um lado para outro desde 1976, gasta um par das inseparáveis Havaianas por semana, todos os sábados adquire um par novo. Em média, vende 150 salgados por dia, mas já chegou a vender 300. Diz ele, “não produzo, compro feito, se fizer, não vendo e se vender não faço, compro e vendo e acertado está.”.


O tempo não para e acelerado vai, a rua o espera... Conversar com ele é bom, ligeiro nas palavras, ele não para, anda falando e falando vai... A humildade do homem do campo, a simplicidade do matuto, a ingenuidade no semblante, faz com amor aquilo que se propôs fazer... Eu vou andando, eu vou ligeiro, ele vai ligeirinho... Tal com o ratinho mexicano da “Warner” antes da saída ligeira, só falta dizer ‘arriba, arriba... ’

Nas tardes de domingo e sol, nos jogos de domingo nas arquibancadas do Mozart Veloso do Carmo ele sempre esteve...  Teve “juju da Terezinha”, picolé do Brasinha e junto com a fumaça do espetinho, com certeza o salgado do Ligeirinho nunca faltou. Na “Pauzanes”, na “Bandeiras”, na “João Belo”, “Presidente” e nas ruas adjacentes, qualquer hora com ele você vai esbarrar, ligeiro, por você, ele vai passar, e não deixe de dizer um “olá”... 


O significado do teu nome que em hebraico quer dizer “dedicado”, quer uma dedicação maior do que essa pela profissão! E tal qual o soldado grego Feidípides que por dedicação na guerra contra os persas, correu, lutou e voltou correndo para salvar a tua terra. Enoque todos os dias corre e sempre correndo dedica ao seu trabalho e proporciona a felicidade aos que o espera. Quando a bacia esta cheia, felizes são os que saboreiam, e vazia, pois para casa ele voltou... 

Ligeirinho é um personagem da cidade, figura que devemos preservar com carinho, não aquele carinho ligeirinho, sim, aquele que fica guardado. Por isso, eu conto a sua história.






domingo, 10 de agosto de 2014

Pai você é meu herói.


Fábio Trancolin

Faz muito tempo, mas eu ainda lembro o dia em que o pai disse: não precisa me chamar de senhor... Parece um tanto estranho, pois todos os tios nós tínhamos que tratar por senhor e pedir benção. Para muitos aquilo soava estranho. E na visão dele isso não era falta de educação ou respeito, também não vejo assim. Descíamos a Rua Augusta Bastos, naquela época morávamos na Rua Afonso Ferreira, e eu o chamei de senhor, eu era bem pequeno, e ele, simplesmente disse não me chame de senhor, pode apenas falar ‘você... ’ Passei isso para os meus filhos, e da mesma forma eles também me chamam de você.


Comecei contando essa história pra falar do meu pai, do carinho, amizade e respeito, que temos e sempre tivemos um pelo o outro. Filho e pai devem ser amigos e lá em casa sempre fomos. Não sai de casa, casei e por lá fiquei, a minha esposa foi quem ganhou o pai. Às vezes eu os observo, parece que ela é a filha, como se assemelham e se completam. E mais feliz ainda, pois os meus dois filhos ele ajudou a criar. Sempre nos mostrou o caminho, e que não precisa de muito para ser feliz...  


Certa vez um amigo me disse que deveríamos dar valor nos país, e curtimos mais eles, pois nunca sabemos a hora que eles vão partir, e quando isso acontece e que se sabe o que perdeu. Como falei, eu não sai de casa, ali sempre estive. E debaixo da árvore na porta de casa ali sempre tivemos os bons papos. O irmão caçula veio fazer parte da vizinhança há seis anos. O mais velho liga todos os dias, e sempre online esta. 



Na musica ‘PAI’, Fábio Junior disse tudo aquilo que todo filho deveria falar para o teu pai... E nunca é tarde pra dizer tudo aquilo deveríamos dizer sempre... ‘ Pai, você foi meu herói, meu bandido. Hoje é mais muito mais que um amigo, nem você nem ninguém tá sozinho. Você faz parte desse caminho. Que hoje eu sigo em paz... ’



segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Eu te observo


Fábio Trancolin

Eu tenho andado pela cidade, eu fico observando e escutando. Testemunho a sua destruição e reconstrução, a beleza que ela tem e não tem...  Passo por lugares tão familiares e que, às vezes, não reconheço. Como você mudou ou podemos dizer transformou. Não és mais a menina da aldeia, e nem mesmo a moça na janela que esperava o cowboy de lenço vermelho no pescoço... “Toca o berrante seu moço... “ Até pouco tempo tu era passagem de boiada.   Você mudou e mudou muito.  Para aqueles que não andam por tuas ruas, assustam, pois perguntam cadê aquela casa... Nossa caiu, e aquela outra não existe mais, nossa venderam essa também! Nem aquelas que eram para ser patrimônio são preservadas, elas tombam não historicamente, mas, sim, para dar espaço para o progresso que vem acompanhado da explosão e exploração imobiliária.


Eu te observo, vi e vejo a tuas mudanças. Nos tempos de criança, os cinemas com os cavaletes na porta nos convidava a “espiar” o que dizia o letreiro, eram três estabelecimentos que nos traziam a 7ª arte. Tínhamos o Cine Presidente, o Rio-verdense e o Bagdá, que depois virou Regente e perdeu a regência, as cortinas se fecharam, os chamados cinemas de rua perderam espaço e se transformaram em salas no shopping, ao lado tem a área de alimentação com as suas franquias de lanches rápidos no fast food e americanizou.


As tuas praças de namorados de mãos dadas de juras eternas ao brilho da água do chafariz, pipoqueiro, vendedor de rosas não te vejo mais. As moças com as saias rodadas mediam a praça de um lado para o outro no, paquera e na mais pura ingenuidade. A antiga Praça Castelo Branco (hoje Praça José Maria Barros) com as suas luminárias que saiam do chão e encantavam as crianças que desciam pulando e subiam também. A beleza das árvores da Praça 5 de agosto e os seus bancos que convidavam para  uma bela prosa num final de tarde. O espaço da Praça da Matriz que trago na memória um cheiro de vem, vem brincar e correr, hoje o cheiro é outro e te convida sim, a sair correndo do perigo constante a te observar. 


Nas bancas das “frutarias” principalmente as que tinham no Mercado Central a “banana de fritar” madurinha com a casca preta. O queijo, a farinha e polvilho a garrafa de pimenta amarela e vermelha tanto uma como a outra arde à boca, docinho na palha para adocicar. Feijão de quilo, amendoim na casca, a balança com as bandejas o peso a equilibrar. Frango vivo dependurado junto à gairoba, gueiroba, gueroba ou guariroba tanto faz o nome, você sabe o delicioso amargo que tem.  Final de outubro, cheiro de pequi invade as narinas, quem não come, aprende.  


Os bares e “armazéns de alguém” perderam o espaço, hoje não se tem o balcão para sentar e a prosa trocar. O bar do João Surdo, João Jayme, os armazéns do Zé Mineiro e do Zé da Venda e outros ‘Joãos’ e ‘Zés’ não tem mais. Não se tem tempo, para num tamborete sentar e o assunto prolongar...  Hoje os bares são outros e as pessoas conversam via internet, estão conectadas no WhatsApp, ah, geração de cabeça baixa...  


As músicas do passado eu também relembro, quando elas chegavam através da sintonia da Difusora AM que ficava na esquina da Avenida Presidente Vargas com a Rua Almiro de Moraes, e te emocionava, te convidava a ouvir e viajar nas ondas da rádio... Yesterday, all my troubles seemed so far way – (Ontem, todos os meus problemas pareciam tão distantes)... Mas, mesmo quando essa mudança e essa “miscigenação” que trombamos e vemos e ouvimos por tuas ruas, temos o carinho por ti, que no passado foi chamada de ‘Princesinha do Sudoeste’. Tu cresceste e transformaste, já não é mais cidade pequena, guardam ainda nas suas cancelas presas pelas tramelas da memória. Memória que eu faço questão de não esquecer, faço, sim, te preservar e te contar...