A música sertaneja raiz
do Brasil, tem suas origens profundamente entrelaçadas com as modas de viola,
onde pessoas se reuniam em roda para compartilhar suas histórias, os famosos
"causos". Isso era tradição, a lembrança caipira, representada pela
música, oferecendo um retrato autêntico do Brasil rural. “A fogueira, a noite,
redes no galpão, um palheiro, a moda, um mate, a prosa saga sina, causo e onça,
tem mais não...” Ao longo dessa noite
inesquecível, as chamas da fogueira dançavam ao ritmo das histórias
compartilhadas. O calor das amizades, a simplicidade dos momentos e a riqueza
das tradições se entrelaçavam, formando memórias que resistem ao tempo.
O sertanejo, um dos
gêneros musicais mais simbólicos do Brasil, tem atravessado décadas,
moldando-se e evoluindo ao longo do tempo. No entanto, para alguns apreciadores
nostálgicos como eu, as décadas de 70 e 80 são reverenciadas como uma era
dourada, um período em que os grandes sucessos foram imortalizados na rica arte
da história musical do país.
Não se trata de uma
crítica infundada, mas sim de uma análise que busca ressaltar a notável
diferença entre as composições daquela época e o panorama musical atual. Nos
tempos áureos, as composições eram verdadeiras obras de arte, carregadas de
emoção e genuinidade. Hoje, muitas vezes, nos deparamos com um cenário onde as
criações se encontram envolvidas em um contexto midiático, perdendo parte da
essência que as caracterizava.
Antigamente, sabíamos
reconhecer a voz de quem estava cantando, cada timbre carregava consigo uma
identidade única. A autenticidade que permeava as composições de outrora muitas
vezes se perdeu nas repetições incessantes e na busca desenfreada por padrões
de sucesso. Recordar é reviver, e ao pensar na música sertaneja das décadas
passadas, é inevitável não sentir saudades da roça, na madrugada o rádio de
pilha convidava para levantar “olha a hora...” ...das serestas
românticas que embalavam as conquistas e das inesquecíveis duplas que marcaram
época. As festas do peão e as exposições agropecuárias, com seus bares rústicos
feitos de bambu, palcos improvisados, tudo isso contribuía para a autenticidade
e o charme peculiar do sertanejo daqueles tempos. Em meio a essa reflexão, não
é uma crítica destrutiva, mas sim um convite para apreciar e valorizar as
raízes que deram forma ao sertanejo, reconhecendo a singularidade das
composições passadas e, ao mesmo tempo, permitindo que o gênero evolua e se
reinvente de maneira autêntica, preservando a verdadeira essência que o tornou
tão especial ao longo dos anos.
Ao relembrar o passado, é impossível não mencionar ícones que moldaram o cenário sertanejo. Tião Carreiro e Pardinho, figuras fundamentais da primeira linha do estilo, deixaram um legado inesquecível. Lembro de um tio, o Tio Zé, muito fá da dupla, que tinha algumas fitas cassetes que não cansávamos de ouvir. Tonico e Tinoco, uma das duplas antigas mais célebres, a favorita do meu avô Francisco, permanecem como uma das maiores referências na música caipira brasileira. Lourenço e Lourival, com quase sete décadas de carreira, continuam ativos, testemunhando a durabilidade e a atemporalidade desse estilo musical, o som inconfundível ao ouvir... “Se eu morrer, Deus dá um jeito, mas a vida é muito bela, não vai faltar no ranchinho, pra mulher e os filhinhos... O franguinho na panela...” “Menina da aldeia, aí quem me dera se eu pudesse agora, voltar de novo ao tempinho da escola...” Acredito que lendo, você pode “ouvir” a melodia e com certeza cantarolou...
Tonico & Tinoco |
Lourenço & Lourival |
Tião Carreiro & Pardinho |
O panorama das duplas
sertanejas do passado não estaria completo sem homenagear Milionário e José
Rico, ao mergulharmos no vasto cenário das duplas sertanejas do passado, é
impossível não prestar uma reverência especial a essa dupla, verdadeira lenda
que conquistou o título de "gargantas de ouro do Brasil".
O legado musical de
Milionário e José Rico é vasto e inigualável, sendo suas canções testemunhas de
uma era dourada da música sertaneja. Hits como "Na estrada da vida,
A carta, Sonhei com você, Viva a vida, Vontade dividida, Decida e Duas
camisas...” ecoam ainda hoje, transportando os ouvintes para um tempo em
que a simplicidade das letras e a riqueza das melodias eram a essência da
verdadeira música sertaneja. A dupla marcou época não apenas pela qualidade
musical, mas também por sua contribuição à preservação da essência da música
sertaneja. Seu legado perdura, e suas canções continuam a repercutir como um
tributo eterno à verdadeira essência do sertanejo brasileiro.
Milionário & José Rico |
Chitãozinho e Xororó, uma
dupla que deixou uma marca permanente na história do sertanejo, são verdadeiras
unanimidades na lista das melhores. Ao longo de uma carreira que ultrapassa
meio século, esses notáveis artistas não apenas conquistaram a venda de milhões
de álbuns, mas também deixaram uma marca permanente com sucessos
incontestáveis. Suas canções não são apenas melodias, mas verdadeiras trilhas
sonoras da vida de muitos. Quem não se emocionou ou ainda se emociona ao ouvir
pérolas como "Se Deus me ouvisse", que toca a alma com sua
profundidade emocional, ou "Não desligue o rádio". Inesquecíveis,
também, são os momentos embalados por "Amante amada" “Estrada”,
"Terra tombada". E quem poderia esquecer o impacto de "Evidências",
uma balada que se tornou um clássico, capaz de evocar sentimentos profundos com
sua simplicidade? E, é claro, não podemos deixar de mencionar a icônica
"Fio de cabelo", que transcendeu as fronteiras musicais e se tornou
um símbolo de uma era.
Chitãozinho & Xororó |
Essas são apenas algumas
das muitas obras-primas que compõem o repertório desses talentosos artistas. A
lista é vasta, e cada canção é um capítulo único na história da música. Ao
longo desses anos, eles não apenas conquistaram fãs, mas também se tornaram
parte integrante da tradição musical, deixando um legado que continuará a
inspirar e emocionar gerações futuras. Suas músicas são mais do que simples
composições; são testemunhos da atemporalidade e da beleza da arte sonora.
João Mineiro e Marciano,
durante os anos 80, foram protagonistas marcantes no cenário sertanejo,
lançando músicas que repercutem até hoje, como "Se eu não puder te
esquecer" e "Ainda ontem chorei de saudade". “Você me pede na
carta, que eu desapareça. que eu nunca mais te procure... pra sempre te
esqueça.” “Aqui todas as paredes são azuis... Aquela mesma cor que
escolhemos...” quantas madrugadas, foram compartilhas ao som dessas músicas...
João Mineiro & Marciano |
A dupla Chrystian &
Ralf, conhecida como cowboys do asfalto, trouxe a música sertaneja de raiz para
a classe média, conquistando o público com afinação e senso de humor ímpar.
Quantas canções a dupla emplacou, e nos brindou com sucessos que estão gravados
para sempre no cenário musical, “Ausência” “Saudade”, “Nova York, saudade
vai, vai, vai... saudade vem, vem, vem te buscar...” “Tempo ao tempo”, e a
extraordinária “Chora peito.” Em 1986, lembro, ao lado de dois amigos, irmos numa
madrugada de Santo Antônio da Barra até Jatai, em um Fiat 147, com essa fita no
toca-fitas... “chora peito, me mata de uma vez, porque aos poucos, eu não
vou morrer... Chora peito, me mata de uma vez, pra não dar tempo de pensar em
você...
Chrystian & Ralf |
Enquanto escuto as
canções dessas duplas, quanto Chitãozinho & Xororó, Chrystian & Ralf,
Matogrosso & Mathias, João Mineiro & Marciano, Milionário & José
Rico, César & Paulinho, Gilberto & Gilmar, Leandro & Leonardo, João
Paulo & Daniel, Gian & Geovani, Zezé Di Camargo & Luciano, Trio
Parada Dura, entre outros, sinto-me conectado com a rica história da música
sertaneja. Essas duplas, com seus estilos únicos, continuam a ecoar pelos anos,
proporcionando uma jornada musical repleta de emoções e lembranças.
César & Paulinho |
Gilberto & Gilmar |
João Paulo & Daniel |
Leandro & Leonardo |
Matogrosso & Mathias |
Trio Parda Dura |
Zezé Di Camargo & Luciano |
Sei que muitos vão
enaltecer os cantores e duplas de hoje, com as suas apresentações espetaculares
e seus eventos grandiosos, porém, as suas composições são um tanto quanto
ruins, mas essa é a minha opinião. No cenário musical contemporâneo, é inegável
que muitos artistas e duplas conquistaram o coração do público com performances
espetaculosos e eventos majestosos. No entanto, ao analisar mais profundamente
as composições da nova geração algumas observações podem ser feitas. A minha
opinião, por mais individual que seja, aponta para uma certa carência na
qualidade das composições atuais. Muitos dos hits atuais parecem se apoiar
fortemente em fórmulas repetitivas, letras superficiais e melodias
previsíveis.
É claro que há exceções
notáveis, com artistas que conseguem equilibrar espetáculo e substância em suas
criações. A nostalgia por épocas em que a profundidade poética e musical era um
critério mais valorizado pode influenciar a perspectiva de alguns apreciadores
da música. O importante é reconhecer a diversidade de gostos e apreciar a
música em suas diversas manifestações, mesmo que a opinião sobre as composições
possa variar, mas essa é a minha opinião.