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segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

A música sertaneja – raiz e o romantismo...


 


A música sertaneja raiz do Brasil, tem suas origens profundamente entrelaçadas com as modas de viola, onde pessoas se reuniam em roda para compartilhar suas histórias, os famosos "causos". Isso era tradição, a lembrança caipira, representada pela música, oferecendo um retrato autêntico do Brasil rural. “A fogueira, a noite, redes no galpão, um palheiro, a moda, um mate, a prosa saga sina, causo e onça, tem mais não...”  Ao longo dessa noite inesquecível, as chamas da fogueira dançavam ao ritmo das histórias compartilhadas. O calor das amizades, a simplicidade dos momentos e a riqueza das tradições se entrelaçavam, formando memórias que resistem ao tempo.

O sertanejo, um dos gêneros musicais mais simbólicos do Brasil, tem atravessado décadas, moldando-se e evoluindo ao longo do tempo. No entanto, para alguns apreciadores nostálgicos como eu, as décadas de 70 e 80 são reverenciadas como uma era dourada, um período em que os grandes sucessos foram imortalizados na rica arte da história musical do país.

Não se trata de uma crítica infundada, mas sim de uma análise que busca ressaltar a notável diferença entre as composições daquela época e o panorama musical atual. Nos tempos áureos, as composições eram verdadeiras obras de arte, carregadas de emoção e genuinidade. Hoje, muitas vezes, nos deparamos com um cenário onde as criações se encontram envolvidas em um contexto midiático, perdendo parte da essência que as caracterizava.

Antigamente, sabíamos reconhecer a voz de quem estava cantando, cada timbre carregava consigo uma identidade única. A autenticidade que permeava as composições de outrora muitas vezes se perdeu nas repetições incessantes e na busca desenfreada por padrões de sucesso. Recordar é reviver, e ao pensar na música sertaneja das décadas passadas, é inevitável não sentir saudades da roça, na madrugada o rádio de pilha convidava para levantar “olha a hora...” ...das serestas românticas que embalavam as conquistas e das inesquecíveis duplas que marcaram época. As festas do peão e as exposições agropecuárias, com seus bares rústicos feitos de bambu, palcos improvisados, tudo isso contribuía para a autenticidade e o charme peculiar do sertanejo daqueles tempos. Em meio a essa reflexão, não é uma crítica destrutiva, mas sim um convite para apreciar e valorizar as raízes que deram forma ao sertanejo, reconhecendo a singularidade das composições passadas e, ao mesmo tempo, permitindo que o gênero evolua e se reinvente de maneira autêntica, preservando a verdadeira essência que o tornou tão especial ao longo dos anos.

Ao relembrar o passado, é impossível não mencionar ícones que moldaram o cenário sertanejo. Tião Carreiro e Pardinho, figuras fundamentais da primeira linha do estilo, deixaram um legado inesquecível. Lembro de um tio, o Tio Zé, muito fá da dupla, que tinha algumas fitas cassetes que não cansávamos de ouvir. Tonico e Tinoco, uma das duplas antigas mais célebres, a favorita do meu avô Francisco, permanecem como uma das maiores referências na música caipira brasileira. Lourenço e Lourival, com quase sete décadas de carreira, continuam ativos, testemunhando a durabilidade e a atemporalidade desse estilo musical, o som inconfundível ao ouvir... “Se eu morrer, Deus dá um jeito, mas a vida é muito bela, não vai faltar no ranchinho, pra mulher e os filhinhos... O franguinho na panela...” “Menina da aldeia, aí quem me dera se eu pudesse agora, voltar de novo ao tempinho da escola...” Acredito que lendo, você pode “ouvir” a melodia e com certeza cantarolou...

Tonico & Tinoco

Lourenço & Lourival

Tião Carreiro & Pardinho


O panorama das duplas sertanejas do passado não estaria completo sem homenagear Milionário e José Rico, ao mergulharmos no vasto cenário das duplas sertanejas do passado, é impossível não prestar uma reverência especial a essa dupla, verdadeira lenda que conquistou o título de "gargantas de ouro do Brasil".

O legado musical de Milionário e José Rico é vasto e inigualável, sendo suas canções testemunhas de uma era dourada da música sertaneja. Hits como "Na estrada da vida, A carta, Sonhei com você, Viva a vida, Vontade dividida, Decida e Duas camisas...” ecoam ainda hoje, transportando os ouvintes para um tempo em que a simplicidade das letras e a riqueza das melodias eram a essência da verdadeira música sertaneja. A dupla marcou época não apenas pela qualidade musical, mas também por sua contribuição à preservação da essência da música sertaneja. Seu legado perdura, e suas canções continuam a repercutir como um tributo eterno à verdadeira essência do sertanejo brasileiro.

Milionário & José Rico


Chitãozinho e Xororó, uma dupla que deixou uma marca permanente na história do sertanejo, são verdadeiras unanimidades na lista das melhores. Ao longo de uma carreira que ultrapassa meio século, esses notáveis artistas não apenas conquistaram a venda de milhões de álbuns, mas também deixaram uma marca permanente com sucessos incontestáveis. Suas canções não são apenas melodias, mas verdadeiras trilhas sonoras da vida de muitos. Quem não se emocionou ou ainda se emociona ao ouvir pérolas como "Se Deus me ouvisse", que toca a alma com sua profundidade emocional, ou "Não desligue o rádio". Inesquecíveis, também, são os momentos embalados por "Amante amada" “Estrada”, "Terra tombada". E quem poderia esquecer o impacto de "Evidências", uma balada que se tornou um clássico, capaz de evocar sentimentos profundos com sua simplicidade? E, é claro, não podemos deixar de mencionar a icônica "Fio de cabelo", que transcendeu as fronteiras musicais e se tornou um símbolo de uma era.

Chitãozinho & Xororó


Essas são apenas algumas das muitas obras-primas que compõem o repertório desses talentosos artistas. A lista é vasta, e cada canção é um capítulo único na história da música. Ao longo desses anos, eles não apenas conquistaram fãs, mas também se tornaram parte integrante da tradição musical, deixando um legado que continuará a inspirar e emocionar gerações futuras. Suas músicas são mais do que simples composições; são testemunhos da atemporalidade e da beleza da arte sonora.

João Mineiro e Marciano, durante os anos 80, foram protagonistas marcantes no cenário sertanejo, lançando músicas que repercutem até hoje, como "Se eu não puder te esquecer" e "Ainda ontem chorei de saudade". “Você me pede na carta, que eu desapareça. que eu nunca mais te procure... pra sempre te esqueça.” “Aqui todas as paredes são azuis... Aquela mesma cor que escolhemos...” quantas madrugadas, foram compartilhas ao som dessas músicas...  

João Mineiro & Marciano


A dupla Chrystian & Ralf, conhecida como cowboys do asfalto, trouxe a música sertaneja de raiz para a classe média, conquistando o público com afinação e senso de humor ímpar. Quantas canções a dupla emplacou, e nos brindou com sucessos que estão gravados para sempre no cenário musical, “Ausência” “Saudade”, “Nova York, saudade vai, vai, vai... saudade vem, vem, vem te buscar...” “Tempo ao tempo”, e a extraordinária “Chora peito.” Em 1986, lembro, ao lado de dois amigos, irmos numa madrugada de Santo Antônio da Barra até Jatai, em um Fiat 147, com essa fita no toca-fitas... “chora peito, me mata de uma vez, porque aos poucos, eu não vou morrer... Chora peito, me mata de uma vez, pra não dar tempo de pensar em você...

Chrystian & Ralf


Enquanto escuto as canções dessas duplas, quanto Chitãozinho & Xororó, Chrystian & Ralf, Matogrosso & Mathias, João Mineiro & Marciano, Milionário & José Rico, César & Paulinho, Gilberto & Gilmar, Leandro & Leonardo, João Paulo & Daniel, Gian & Geovani, Zezé Di Camargo & Luciano, Trio Parada Dura, entre outros, sinto-me conectado com a rica história da música sertaneja. Essas duplas, com seus estilos únicos, continuam a ecoar pelos anos, proporcionando uma jornada musical repleta de emoções e lembranças.

César & Paulinho

Gilberto & Gilmar


João Paulo & Daniel

Leandro & Leonardo

Matogrosso & Mathias

Trio Parda Dura

Zezé Di Camargo & Luciano


Sei que muitos vão enaltecer os cantores e duplas de hoje, com as suas apresentações espetaculares e seus eventos grandiosos, porém, as suas composições são um tanto quanto ruins, mas essa é a minha opinião. No cenário musical contemporâneo, é inegável que muitos artistas e duplas conquistaram o coração do público com performances espetaculosos e eventos majestosos. No entanto, ao analisar mais profundamente as composições da nova geração algumas observações podem ser feitas. A minha opinião, por mais individual que seja, aponta para uma certa carência na qualidade das composições atuais. Muitos dos hits atuais parecem se apoiar fortemente em fórmulas repetitivas, letras superficiais e melodias previsíveis. 

É claro que há exceções notáveis, com artistas que conseguem equilibrar espetáculo e substância em suas criações. A nostalgia por épocas em que a profundidade poética e musical era um critério mais valorizado pode influenciar a perspectiva de alguns apreciadores da música. O importante é reconhecer a diversidade de gostos e apreciar a música em suas diversas manifestações, mesmo que a opinião sobre as composições possa variar, mas essa é a minha opinião.




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