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quinta-feira, 22 de maio de 2025

Saudades do Bazar do Livro: Memória viva da literatura em Rio Verde


Rua Rafael Nascimento final dos anos 70. 

Sempre gostei do cheiro de livro novo. Sempre me encantei com o ambiente literário — esse universo de letras, fantasias, aventuras, romances, arte e história. Desde pequeno, a leitura me fascinava. Na adolescência, esse gosto só aumentou. Saboreei muitas histórias das coleções Elefante e Vagalume, que marcaram uma geração inteira. 

Com a chegada da digitalização, o mundo das letras no papel parece ter perdido um pouco da sua magia. Hoje, em nossa cidade, quase não há espaço para livrarias. Livros parecem ter caído em desuso. Em Rio Verde, por exemplo, não temos sequer um local dedicado exclusivamente à venda de livros. Mas basta fechar os olhos para que eu volte no tempo, guiado pela imaginação, e me veja novamente naquele lugar onde as prateleiras transbordavam literatura.

Um nome que ainda ecoa em outras cidades e que, por muitos anos, tivemos o privilégio de ter aqui: o Bazar do Livro. Esse espaço mágico ficava na esquina da Rua Rafael Nascimento com a Henrique Itiberê. Fundado em 5 de setembro de 1966, permaneceu ativo por 50 anos. Meio século de serviço à educação e à cultura. E à frente de tudo isso estava Dona Ivanir de Castro — uma mulher de fibra, decidida, comprometida com o saber. Durante cinco décadas, ela atendeu gerações com tudo o que era necessário para o universo estudantil e literário. Quantos livros passaram por ali? Quantos sonhos começaram naquele balcão?


Rua Rafael Nascimento inicio dos anos 80

Um dia, porém, as portas se fecharam. Aos 80 anos, Dona Ivanir anunciou que era hora de se despedir da arte de vender o mundo mágico do papel. Infelizmente, seus filhos e netos não deram continuidade à livraria. E com isso, a cidade perdeu. Perdemos todos nós. Porque um espaço literário não é apenas comércio — é cultura, memória, inspiração.

Em 2011, tive a honra de ser convidado por ela para participar do encerramento do Bazar. E o que encontrei por trás das prateleiras, do balcão, do mezanino... foi surpreendente. Era mais do que um acervo: era um tesouro. Cataloguei, organizei, ajudei a negociar exemplares. Muitos livros foram doados — principalmente os da Doutrina Espírita, que tanto eu quanto Dona Ivanir seguimos com dedicação. Parte desse acervo ela guardou consigo. Outra parte agora vive em mim — como lembrança, gratidão e saudade. O encerramento do Bazar do Livro não foi apenas o fechamento de um comércio. Foi o fim de um capítulo importante da nossa história cultural. Um espaço onde nasceram sonhos, onde mentes se abriram, onde crianças deram os primeiros passos rumo ao conhecimento.

O Bazar do Livro foi mais do que uma livraria. Foi um farol de conhecimento, um abrigo de ideias, um ponto de encontro de almas apaixonadas pela leitura. Hoje, ele vive apenas na memória. Mas que memória linda de se guardar! Hoje, o Bazar vive na memória de quem por ali passou. E Dona Ivanir, com sua dedicação incansável, deixou um legado que jamais será esquecido. Rio Verde ainda sente a falta de um espaço literário como aquele. Mas o que foi construído ali permanecerá — como saudade, como história, como inspiração.

Dona Ivanir de Castro





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