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sexta-feira, 15 de agosto de 2025

História de Tradição e Fé


 


Não sou devoto da religião católica, trago comigo os preceitos da Doutrina Espírita – kardecista por orientação de meu avô e de meu pai, que me iniciaram nesse caminho desde cedo. Sou kardecista por herança de afeto, por vínculos que vão além da crença: são memórias e ensinamentos passados de geração em geração. Sou contador de histórias, amante da cultura e guardião das lembranças que mantêm viva a chama da tradição.

Trago comigo o respeito as tradições e as religiões.   Hoje, 15 de agosto, celebra-se o Dia de Nossa Senhora da Abadia. Essa data me transporta ao passado, às lembranças da infância vivida numa fazenda, guardadas no baú das recordações. A memória me leva pela mão até o tempo em que eu era menino, na fazenda escondida no coração do cerrado. Era um lugar distante, muitas léguas adentro, para além do horizonte da terra vermelha do sertão. A fazenda ficava “pras bandas” do Caiapó, a vinte e duas léguas, passando por uma pequena corrutela que, na época, mal se firmava: Montividiu, que no meu tempo era pequena, mas hoje floresce como cidade de lavoura e progresso – hoje próspera no agronegócio.

E, como na canção que diz “vem andar e voa, vem andar e voa...”, eu “voava” na carroceria do caminhão, cabelo ao vento, olhos brilhando, a caminho de uma festa que cheirava a memória, festa que, até hoje, é símbolo de tradição.

Era agosto. As festas de Montividiu são carregadas de história e fé. Celebram Nossa Senhora D’Abadia, padroeira da cidade, num costume que atravessa quase 150 anos. A cidade se vestia de devoção, celebrando a padroeira que protege o povo e o campo. Uma mistura de reza e alegria, de cultura e sabor, de música e abraços.



O início dessa tradição remonta aos tempos em que a família Peres já vivia no Chapadão. Com a chegada de Carlos Barromeu Peres, que se estabeleceu na Fazenda da Tapera, cresceu também a devoção à Santa. Os moradores reuniam-se para rezar e pedir proteção. Em agradecimento às bênçãos recebidas, decidiram que, todos os anos, no dia 15 de agosto, realizariam uma grande homenagem à padroeira.

Eu, ainda menino, participei de algumas dessas festas, onde o cheiro da comida se confundia com o som da sanfona. Eram celebrações movimentadas, cheias de gente e sabor. A última vez foi em 2010, quando trabalhava como jornalista na equipe do deputado Padre Ferreira. Estava com meu amigo Wilson Mossoró. Enquanto o deputado cumprimentava os presentes, nós entrávamos pela cozinha – e que cozinha! Tachos no fogareiro desde a madrugada, arroz soltinho, feijão amassado na roseta, vinagrete colorido, macarrão grosso e almôndegas que pareciam pesar uns 300 gramas cada.

Tradição é assim: não se perde, apenas se fortalece, passando de geração em geração, mantendo viva a fé e a cultura de um povo. A tradição não se apaga, se acende; não se dispersa, se guarda. É um fio que nos liga ao passado e que costura no presente a fé e a cultura, para que as futuras gerações nunca esqueçam de onde vieram.




 




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