Já faz tanto tempo que não sei mais o que é ter
férias… Faz tanto tempo que não sei o gosto das férias…Os meses saltam, os anos
se acumulam, e o tempo, implacável, segue. Ele sempre correu na mesma
velocidade, os ponteiros sempre giraram do mesmo jeito…, mas hoje a sensação é
outra: De uns anos pra cá, a pressa dele ganhou outra cor, outro peso. Parece
que a vida aperta o passo e escorre mais depressa pelos dedos. O que antes era
um passo de prosa, agora é galope.
Às vezes me pego
buscando onde foi que deixei acumular todo esse tempo… De vez em quando, me
pergunto: onde foi que deixei o tempo acumular poeira? E, nessa procura, volto
a um ponto distante, quando o relógio não pesava tanto e o dia se alongava macio.
E, sem querer, encontro-me voltando… Voltando para um pedaço distante de mim,
quando a vida cabia num dia, e um dia parecia não acabar nunca.
Me vejo, menino, caminhando ao encontro do sol, por
uma estradinha de terra que levava a uma fazenda guardada no tempo. à fazenda
que o tempo, caprichoso, resolveu guardar intacta em algum baú de lembranças. Já
se vão quarenta anos… e, ainda assim, o cheiro da manhã e do entardecer
continua vivo nas narinas. Sinto o perfume do cair da tarde no ribeirão que
cortava a divisa… ouço, lá do fundo da memória, a música que vinha da estação
na madrugada.
Era perto da mata, junto do ribeirão… só Deus e
eu, no sertão. Sábado, segunda ou sexta — tanto fazia: na roça, não há
calendário. Eu seguia rumo ao sol… Vida boa. Sapo caindo na lagoa, eu indo pelo
caminho do meu sertão. Lambari arreado, pronto para buscar as vacas ou, quem
sabe, fisgado na ponta do anzol, depois frito no fogão a lenha. Conversa jogada
fora, fumaça subindo, pinga, cigarro e limão… a massa coalhada quebrando no
latão, o cheiro da terra molhada, o abraço do chão.
E lá ia eu, no Nacional
Expresso, cortando a rota da lagoa. Subidas e descidas… Até que o ônibus
parava, e eu descia na entrada da porteira — sempre aberta, como se soubesse
que eu voltaria… como se me esperasse desde o dia em que parti. “Léo, voltei…
estou de volta”, quase sussurrei ao vento. “Bora, acende o fogo… cheguei. Liga
o rádio…” E, no ar, o perfume do limão galego se espalhava, acendendo memórias.
A saudade, caprichosa, abriu gavetas inteiras dentro de mim.