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sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Volta à fazenda do tempo, a porteira sempre aberta





Já faz tanto tempo que não sei mais o que é ter férias… Faz tanto tempo que não sei o gosto das férias…Os meses saltam, os anos se acumulam, e o tempo, implacável, segue. Ele sempre correu na mesma velocidade, os ponteiros sempre giraram do mesmo jeito…, mas hoje a sensação é outra: De uns anos pra cá, a pressa dele ganhou outra cor, outro peso. Parece que a vida aperta o passo e escorre mais depressa pelos dedos. O que antes era um passo de prosa, agora é galope.

Às vezes me pego buscando onde foi que deixei acumular todo esse tempo… De vez em quando, me pergunto: onde foi que deixei o tempo acumular poeira? E, nessa procura, volto a um ponto distante, quando o relógio não pesava tanto e o dia se alongava macio. E, sem querer, encontro-me voltando… Voltando para um pedaço distante de mim, quando a vida cabia num dia, e um dia parecia não acabar nunca.

Me vejo, menino, caminhando ao encontro do sol, por uma estradinha de terra que levava a uma fazenda guardada no tempo. à fazenda que o tempo, caprichoso, resolveu guardar intacta em algum baú de lembranças. Já se vão quarenta anos… e, ainda assim, o cheiro da manhã e do entardecer continua vivo nas narinas. Sinto o perfume do cair da tarde no ribeirão que cortava a divisa… ouço, lá do fundo da memória, a música que vinha da estação na madrugada.

Era perto da mata, junto do ribeirão… só Deus e eu, no sertão. Sábado, segunda ou sexta — tanto fazia: na roça, não há calendário. Eu seguia rumo ao sol… Vida boa. Sapo caindo na lagoa, eu indo pelo caminho do meu sertão. Lambari arreado, pronto para buscar as vacas ou, quem sabe, fisgado na ponta do anzol, depois frito no fogão a lenha. Conversa jogada fora, fumaça subindo, pinga, cigarro e limão… a massa coalhada quebrando no latão, o cheiro da terra molhada, o abraço do chão.

E lá ia eu, no Nacional Expresso, cortando a rota da lagoa. Subidas e descidas… Até que o ônibus parava, e eu descia na entrada da porteira — sempre aberta, como se soubesse que eu voltaria… como se me esperasse desde o dia em que parti. “Léo, voltei… estou de volta”, quase sussurrei ao vento. “Bora, acende o fogo… cheguei. Liga o rádio…” E, no ar, o perfume do limão galego se espalhava, acendendo memórias. A saudade, caprichosa, abriu gavetas inteiras dentro de mim.










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