Páginas

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Rio Verde, 177 Anos... Meu chão de memórias, e eu me lembro...


 


Por Fábio Trancolin

Rio Verde completa 177 anos. Não nasci aqui — mas foi aqui que a vida me plantou — e talvez por isso meu olhar sempre tenha sido de encantamento. Cheguei em 1970. Naquele tempo, você, cidade pequena, completava seus 122 anos no 5 de agosto. No início de setembro, eu completava 2... Minhas lembranças vêm lá dos meus 4, 5 anos. Meu pai? Ah, esse sim era seu filho legítimo — foi ele quem nos apresentou a você. Com ele aprendi a chamar tuas ruas de casa.

Cresci na parte baixa da cidade, onde tudo acontecia. Naquela época, os limites de Rio Verde ainda eram acanhados, não iam muito longe — dali do Córrego do Sapo para frente, era só o cerrado tomando conta. Para além do córrego, era só mato. No Barrinha, o córrego corria livre, cercado pela vegetação farta, da nascente até a foz... até o momento em que se encontrava com o “sapo” e o abraçava.

A Vila Carolina, a Vila Amália surgiam discretas. Lá no alto, escondida entre as curvas da cidade, ficava a pequena e encravada Renovação, com suas ruas estreitas — morei lá, como morei em tantos outros cantos... O Parque Bandeirantes ainda dava seus primeiros passos. A Vila Maria, ah... essa parecia tão distante. O Bairro Popular — chamado, com pouco-caso, com desdém de “Vilinha” — e a Vila Borges terminavam no “Pitico”. O Jardim América e o Jardim Goiás mal passavam de algumas quadras — grandes, sim, mas pouco habitadas, pés de mamonas, lobeiras e carrapichos... Foi assim que eu te conheci, Rio Verde.

Lembro bem do tempo em que o céu anunciava a primavera com revoadas de tanajuras. Os quintais eram largos, frutíferos. Os portões viviam abertos — e isso não era descuido, era confiança. Tinha fruta em abundância de todo tipo: manga, jabuticaba, amora, mexerica, cajá, caju, goiaba... tudo brotava com fartura, como se a natureza soubesse da alegria que era ser criança ali. O chão era de cascalho, e o asfalto, presente em poucas ruas, ainda era um sonho distante em tantas outras.

Nas escolas, os alunos de calça caqui e camisa branca faziam fila para rezar e cantar o hino. As roupas no varal “quaravam” ao sol. Os portões abertos, as crianças soltas, os jogos livres, os risos...  O coração era leve, generosidade estava mais presente, tudo se acendia com naturalidade. Tudo era simples... Que saudade dos 'Jogos Abertos'!

Hoje, Rio Verde é outra. Tem outra cara... e é cara. Mais alta, mais larga, mais cheia de pressa. Cresceu, expandiu-se, transformou-se... Foi além do que os olhos de 1970 poderiam imaginar. Mas, para mim, aqui dentro, ela ainda é aquela cidade da minha infância. Ela ainda guarda o cheiro da terra molhada, o gosto da fruta colhida no pé, fruta orvalhada... o som das vozes que ecoavam livres pelas calçadas. Lá dentro, bem no fundo, aquela cidade da minha infância ainda vive — escondida nos cheiros, nos nomes de ruas que o tempo quase apagou (Douradinho, Lage), nos sons que o vento insiste em trazer de volta.

Parabéns, Rio Verde, pelos seus 177 anos. E obrigado por ter me adotado, por ter sido cenário da minha infância, e por me ensinar que “pertencer” vai muito além do lugar onde nascemos. E eu completo contigo um punhado de memórias que o tempo não leva.






Comente