Eu tive e tenho as minhas memórias. Cada um guarda
as suas, como pequenos tesouros escondidos no tempo. Nas gavetas e nas caixas
organizadoras... São como malas silenciosas: cada história contada é uma forma
de reviver, de não deixar que o fio do passado se rompa. Eu conto as minhas
histórias… e tenho muitas. Não vivo preso ao passado, mas às vezes gosto de
abrir essas malas e revisitar o que guardei. São lembranças que não doem,
apenas falam baixo, como quem sopra: “você já viveu, já foi feliz, já aprendeu”.
Afinal, cada dia vivido é também uma narrativa que se soma às lembranças.
As memórias são necessárias. Sem elas, não sabemos
de onde viemos, nem para onde vamos. Não me prendo ao passado, mas gosto de
visitá-lo de vez em quando, em silêncio e em pensamento. Revivo momentos não
para lamentar, mas para recordar. O que já foi, já passou…, mas permanece em
mim, em forma de lembrança.
Recordações são vestígios que o cérebro guarda das
experiências. Já a memória é a capacidade de resgatá-las, de trazê-las ao presente.
As recordações carregam beleza: a saudade, a alegria, até as lições aprendidas.
São elas que aproximam o ontem do hoje e mantêm acesa a chama daquilo que nos
fez ser quem somos.
Marcel Proust dizia: “certas recordações são como
os amigos comuns, sabem fazer reconciliações”. E Honoré de Balzac lembrava: “a
felicidade só cria recordações”.
Na infância, eu adorava assistir ao seriado O
Túnel do Tempo. Fascinava-me acompanhar Tony e Doug em suas viagens
inesperadas. Mais tarde, encantei-me com De Volta para o Futuro, filme
que revi inúmeras vezes ao longo de quatro décadas. Talvez por isso eu viaje
tanto em minhas memórias: é uma forma de percorrer o tempo sem sair do lugar.
Basta fechar os olhos e lá estou eu, atravessando os corredores da infância, revendo
rostos que já se foram, cheiros e sabores, lugares que mudaram, mas que
permanecem em mim.
As recordações não pedem explicação. São vestígios
da vida que se acumulam na alma. Algumas têm o gosto doce da felicidade, outras
carregam a força da saudade. Todas me lembram que sou feito de histórias, e que
viver é também colecionar memórias para contar.
As memórias não são prisões, são janelas. De vez em
quando abro uma delas e deixo o passado entrar em silêncio. Recordar é viajar
sem máquina do tempo: basta fechar os olhos. O que já foi não volta, mas
permanece em mim — não como lamento, mas como história.
Sim, eu conto histórias. E, ao contá-las, descubro
que a memória não é apenas um arquivo da mente, mas uma morada da alma. Fábio
Trancolin contando histórias...