Quando estudava no Percival Xavier Rebelo,
não havia merenda. Existia apenas uma cantina, que não tinha muitas opções, mas
aquele amontoado de coisinhas. Assim que o sinal batia, corríamos para o pátio,
onde nos esperava o picolezeiro, com seu carrinho abarrotado de cores e
sabores. Entre tantas opções geladas, quase sempre eu acabava escolhendo o juju
de tamarindo, o picolé de coco queimado ou, às vezes optava pelo o de creme
holandês. Eram pequenas alegrias de criança que se encantava com pouco.
Já no Grupo Escolar Demolicio de Carvalho, a
lembrança tem outro sabor. As cumbuquinhas azuis, o aroma da cantina, a
expectativa de cada dia com uma merenda diferente: mingau de coco, sopa de
legumes, escaldado, arroz com carne seca, o famoso Maria Isabel, macarrão com
sardinha — que até hoje eu amo — e até arroz com carne moída. Confesso que
tinha um carinho especial pelo arroz com carne seca… e o mingau, ah, esse sempre
me apetecia.
No fundo, o que ficou não foi o prato, mas
a cena da fila: os amigos da vila do Matadouro arranjando jeitos de repetir a
merenda. A merendeira desconfiava, mas eles, espertos, lavavam o potinho e
voltavam sorrateiros, tentando passar outra vez. Riam da travessura e, quando
alguém não queria comer, outro logo aproveitava o pote para entrar de novo na
fila. Pequenas lembranças que ainda guardam o sabor da infância.
A fila da merenda era muito mais que comida. Era
convivência, era amizade. Memórias que hoje chegam com gosto de saudade,
simples e verdadeiras, como tudo o que fica gravado no coração. Era infância em seu
estado mais puro, leve como a saudade que hoje me visita.

