De repente, em meio ao barulho e à pressa da vida
urbana, nasce dentro de nós um sonho de simplicidade. E nos perguntamos: será
apenas ilusão? Para que tantos copos de bebida alcoólica, tantas conversas
vazias? Celulares sempre conectados, olhos presos às telas...
A vida poderia ser mais leve: um teto modesto,
comida simples, uma boa companhia. No fundo, é disso que precisamos. Recordo
noites em casas simples, com o fogão a lenha aceso. Entre o canto dos grilos e
a calma da mata, à luz de uma lamparina, aprendíamos que a felicidade cabia nas
coisas mais singelas.
Pessoas simples, de fala sincera. O fogo aceso, o
peixe assando, a meia caneca de cachaça passando de mão em mão. Um sabor único,
um calor que vinha daquela bebida, enquanto as conversas seguiam leves e
serenas. Momentos assim ficaram gravados na memória como verdadeiros tesouros.
Mas logo a vida urbana nos chama de volta: o telefone toca, alguém dita um número, um nome, uma mensagem, uma postagem, uma urgência. No íntimo, porém, sabemos que não é disso que precisamos. O que buscamos é apenas viver — com a leveza e a despreocupação dos frangos ciscando no terreiro, sob a sombra generosa das mangueiras, ouvindo o canto das cachoeiras que deslizam sobre as pedras sem pressa, alheias ao tempo.
Entretanto talvez isso não passe de um sonho
utópico. O rio do peixe, antes cheio de peixes, hoje está envenenado. O frango
já não cisca no quintal: vive confinado em galpões, engordado à base de ração, abatido
em trinta dias. Pessoa que vivem na roça e nem sabem o significado da natureza,
meta, dados, foco, ‘money for money’... A simplicidade se perde, e o que
resta é apenas a saudade de quando a vida podia ser mais humana.


