Páginas

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Quando o silêncio morava na rua


 


Outrora, a descida dessa rua nos levava em direção à ponte do Córrego do Sapo. Foram tantas as vezes que percorremos aquelas paradas — caminhos que nos guiavam ao lago do clube ou ao riacho que descia sereno do lago e se encontrava com o córrego. Ali pescávamos lambaris, traíras e lobós.

Seguindo à esquerda, estendiam-se as chácaras, as lagoas e o cerrado. Nelas cresciam inúmeras árvores frutíferas, formando um verdadeiro pomar de cores e aromas. Entre elas, destacavam-se, algumas de paus-brasil, plantados com orgulho e esperança. Mas o progresso chegou — e elas não foram protegidas e muito menos poupadas... Assim como não poupou o  pequizeiro que adornava a praça central — também ele, indefeso, desapareceu com o tempo.

Eram outros tempos… tempos sem pressa, sem tumulto. Frutas havia por toda parte — nos quintais generosos e os portões abertos, onde o perfume da natureza parecia nos convidar a ficar um pouco mais.

Hoje, essa mesma rua perdeu o encanto que um dia teve. O antigo calçamento de paralelepípedos cedeu lugar ao asfalto sem qualidade. Lá no alto, reinam a ostentação e a falta de educação. O que antes era silêncio e encanto transformou-se em barulho — um ruído insistente que irrita e sufoca a doçura do passado.

Eram tempos de cordialidade e amizade. Tive tantos amigos que por ali viviam — alguns ainda permanecem, embora nada seja como antes. Confesso, sou nostálgico: gosto de recordar, de reviver e compartilhar as histórias que testemunhei. Ah, aqueles tempos… o som que então fazia morada hoje se perdeu, restando apenas o ruído da poluição sonora.




Comente