Outrora, a descida dessa rua nos levava em direção
à ponte do Córrego do Sapo. Foram tantas as vezes que percorremos aquelas
paradas — caminhos que nos guiavam ao lago do clube ou ao riacho que descia
sereno do lago e se encontrava com o córrego. Ali pescávamos lambaris, traíras
e lobós.
Seguindo à esquerda, estendiam-se as
chácaras, as lagoas e o cerrado. Nelas cresciam inúmeras árvores frutíferas,
formando um verdadeiro pomar de cores e aromas. Entre elas, destacavam-se,
algumas de paus-brasil, plantados com orgulho e esperança. Mas o progresso
chegou — e elas não foram protegidas e muito menos poupadas... Assim como não
poupou o pequizeiro que adornava a praça central — também ele, indefeso,
desapareceu com o tempo.
Eram outros tempos… tempos sem pressa, sem tumulto.
Frutas havia por toda parte — nos quintais generosos e os portões abertos, onde
o perfume da natureza parecia nos convidar a ficar um pouco mais.
Hoje, essa mesma rua perdeu o encanto que
um dia teve. O antigo calçamento de paralelepípedos cedeu lugar ao asfalto sem
qualidade. Lá no alto, reinam a ostentação e a falta de educação. O que antes
era silêncio e encanto transformou-se em barulho — um ruído insistente que
irrita e sufoca a doçura do passado.
Eram tempos de cordialidade e amizade.
Tive tantos amigos que por ali viviam — alguns ainda permanecem, embora nada
seja como antes. Confesso, sou nostálgico: gosto de recordar, de reviver e
compartilhar as histórias que testemunhei. Ah, aqueles tempos… o som que então
fazia morada hoje se perdeu, restando apenas o ruído da poluição sonora.
