Quando os anos 90 começaram, eu tinha 21 anos — e
São Paulo era, ao mesmo tempo, minha casa e meu mistério. A cidade se abria
diante de mim como um livro vivo, cheio de histórias sussurradas pelo vento
entre os prédios. Caminhava pelas ruas sentindo cada textura, encantado com os
cantos da velha Sampa: vielas e travessas, metrôs e boulevards, bares e feiras,
cantinas e padarias — até os famosos “come em pé” que davam vida às esquinas.
Subidas e descidas, galerias, vinis, selos e jornais… cada detalhe tinha algo a
contar.
O aroma do café das padarias se misturava ao cheiro
de pão quente e à fumaça dos cigarros nos bares. As vielas guardavam segredos,
as travessas escondiam descobertas. No metrô, passos apressados e risos
contidos; nas calçadas e nos boulevards, o cheiro do café se confundia com a
música que escapava do ambiente. Cada instante parecia um fragmento de
eternidade. O tempo passou. Você mudou. Eu também. Mas as lembranças continuam
vivas — pulsando nas ruas por onde caminhei, no som distante de um vinil, no
perfume do café, nos pequenos detalhes que só quem amou esta cidade de verdade
consegue sentir.
A memória daquela São Paulo — intensa, viva, cheia
de sons, cores e cheiros — permanece. Mesmo com tudo diferente, ainda sinto o
coração da cidade batendo sob meus pés. Cada esquina ecoa minha juventude.
Quando fecho os olhos, ouço meu passo na calçada, sinto o aroma do café no ar e
sorrio sozinho, lembrando da leveza e da liberdade dos meus vinte e poucos
anos, no ritmo de cada esquina, de cada instante que o tempo guardou.
