O Colégio do Sol é uma instituição de longa e respeitável trajetória em Rio Verde, presença constante nas narrativas da memória urbana da cidade. Ao longo das décadas, ex-alunos e professores têm compartilhado lembranças, afetos e experiências que ajudam a manter viva a sua história. Idealizado por Paulo Campos — que, embora kardecista, confiou sua administração às Irmãs Vicentinas —, o colégio já nasceu marcado por um espírito plural, formador e agregador.

Conheço-o desde a infância. Minha tia Dina sempre morou em frente ao colégio e, em nossas frequentes visitas à sua casa, lá estava ele, imponente, ostentando sua cor tradicional: o amarelo-ouro. Era essa tonalidade que o identificava e lhe conferia personalidade. Essa pintura permaneceu em suas paredes até 1982, ano em que o largo muro que envolvia todo o quarteirão veio abaixo durante a revolta dos alunos do período noturno.

Passei a fazer parte de seus corredores e arquivos em 1982, ao ingressar na 5ª série, no período vespertino. Ali permaneci até 1986, quando, no final de setembro, interrompi minha trajetória na 7ª série: um ano que deveria ter sido concluído, mas que deixei para trás antes do encerramento do calendário letivo. Carrego muitas histórias e incontáveis lembranças de seus cantos e encantos — marcas silenciosas de um tempo que não volta, mas que insiste em permanecer na memória. Trago comigo a recordação dos amigos e das amigas que ficaram pelo caminho, assim como os gestos simples que ali se repetiam: quantos apertos de mão, abraços e beijos foram trocados sob aqueles espaços.

Um dos elementos que sempre despertou curiosidade e admiração foi o Relógio do Sol. Construído em julho de 1967 pelo professor Haley Garcia — um verdadeiro andarilho, que percorria o mundo compartilhando saberes e experiências —, o monumento foi erguido no pátio do colégio como uma notável ferramenta pedagógica. Sua base circular trazia a indicação dos pontos cardeais e colaterais e, logo abaixo do mostrador, em um plano inclinado, uma espécie de janela revelava o eixo da Terra. A qualquer hora do dia ou da noite, ao olhar por essa abertura, era possível avistar o Cruzeiro do Sul, como se o próprio céu participasse das lições ali ensinadas. O relógio ainda permanece ali. Com o passar dos anos, porém, foi sendo relegado ao esquecimento, sem receber a conservação e o reconhecimento que merece.




No meu tempo de menino, eu parava diante dele como quem tenta ler o tempo com os olhos. Espiava em silêncio, buscando decifrar as horas desenhadas pelos ponteiros solares. Os pavilhões, então vestidos de dourado — ou de um amarelo mais manso —, ganhavam uma beleza especial ao fim da tarde, quando dialogavam com o Astro-Rei em luz e sombra. Hoje, pintados de branco — já tendo sido azul em outras estações da memória —, parecem ter perdido um pouco daquela identidade antiga que, para mim, era mais bonita, mais viva, mais representativa.

Os pés de eucalipto que circundavam a quadra perfumavam o ar ao entardecer, e as velhas e imponentes seringueiras, ainda de pé, parecem guardar em seus troncos um abraço antigo — testemunhas silenciosas de quantos “amassos” aconteceram sob a sua sombra.

Um episódio marcante daquele período foi a revolta dos alunos do turno noturno, provocada pela cobrança de uma taxa imposta pela direção. Enquanto as turmas da manhã e da tarde aceitaram o pagamento, os estudantes da noite se recusaram. No dia do exame final, os que não haviam pago foram impedidos de entrar, o que gerou protestos e grande indignação em frente ao portão da Rua Luiz de Bastos.

A mobilização cresceu com a adesão de outros alunos que saíam do pavilhão e acabou culminando na destruição do muro do colégio, além de danos à biblioteca, à fanfarra, aos materiais esportivos e às instalações. No ano seguinte, pais, professores e estudantes uniram forças para reconstruir o que havia sido abalado. O muro deu lugar a uma cerca, a quadra ganhou novo fechamento e o colégio passou a ser pintado de azul — num gesto simbólico e coletivo, pois foi a primeira pintura realizada pelos próprios alunos, marcando um novo capítulo na história do velho e inesquecível Colégio do Sol.

E assim, entre muros que caíram e cores que mudaram, o Colégio do Sol seguiu seu caminho. Permaneceu mais do que prédio ou pátio: tornou-se território de afetos, de descobertas e de silêncios compartilhados. Suas paredes, mesmo repintadas, ainda parecem guardar vozes, risos e passos apressados de quem por ali passou. O relógio continua a marcar o tempo do sol, indiferente aos anos, enquanto as árvores seguem de sentinelas, testemunhando amores juvenis, sonhos nascidos nos intervalos e despedidas sem promessa de retorno. O Colégio do Sol não ficou preso ao passado — ele mora na memória de quem viveu seus dias, iluminando lembranças como um fim de tarde dourado que insiste em não se apagar.