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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Pavão misterioso


Fábio Trancolin
Sabe aquelas músicas que às vezes aparecem na tua mente de repente? Hoje me veio uma dessas na lembrança, ‘Pavão misterioso’ ‘lembra’ dela? Ela fazia parte da trilha sonora da novela ‘Saramandaia’, isso aconteceu lá pelos idos de 76. Ela fez parte dos folhetins que marcaram a história nas telenovelas, que na época seguravam as pessoas na frente da televisão, e gerava comentários no dia seguinte nas portas das casas, nos tanque das lavadeiras e nos armazéns e botecos. E falando da música, ela começava assim: ‘Pavão misterioso, pássaro formoso. Tudo é mistério, nesse teu voar. Ai se eu corresse assim, tantos céus assim. Muita história eu tinha pra contar... ’

Nunca esqueci uma performance de uma aluna da 4ª série, eu fazia o primeiro ano no Grupo Escolar Percival Xavier que funcionava na parte da tarde nas dependências do Colégio Martins Borges. Ela levou o gravador de fita cassete... E colocou a música e de saia rodada, começou a sua dança no pátio da escola. Eu tinha oito anos, acredito que ela deveria ter uns 11, 12 anos. E todos ficaram ali vendo ela no seu bailar... ‘Pavão misterioso, nessa cauda aberta em leque, me guarda moleque de eterno brincar. Me poupa do vexame, de morrer tão moço, muita coisa ainda, quero olhar...

O tempo passou rápido, ou não foi tão rápido assim... A garota do pavão eu não sei quem é, só me lembro da música e do bailar que numa tarde ela nos encantou, e o que ficou marcado foi a música e o pavão do mistério ficou na lembrança. E como dizia Oswaldo, ‘quantos mistérios que você sondava... Quantos você conseguiu entender? Quantos segredos que você guardava hoje são bobos, ninguém quer saber? ’ E nessas quase quatro décadas muitas histórias eu tenho para contar... ah, o conde raivoso nunca veio e a donzela como eu disse eu não sei quem é... 




segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Nasceu "Campeão"


Fábio Trancolin


Muitas vezes fui no “Depósito do João Uberaba” comprar feijão, sabão e outras coisas mais, lá se encontrava quase tudo. Era uma mistura de vários cheiros, querosene, cimento e café. O Seu João sentado na mesa do canto, sempre com a cara fechada, era desse jeito que eu sempre o via. Dos funcionários, lembro-me do “japonês”, e o “Campeão” um rapaz atencioso que sempre nos atendia com um sorriso no rosto e cordialmente. Algumas histórias contam a respeito do apelido de “Campeão”, uns dizem que ninguém conseguia descarregar um caminhão de cimento tão rápido quanto ele, outros afirmam sobre a rapidez nos cálculos. E, foram várias vezes que ele me atendeu. Certa vez, eu escorreguei no piso encerado com querosene e serragem e bati com queixo no latão de 200 litros em que ficava o feijão, não chegou a cortar, mas doeu muito. Ele ficou preocupado com o acontecido. O João nem viu o acontecido...


O tempo passou e esse rapaz, abriu o próprio negócio, na esquina da Rua Costa Gomes com a Rua Joaquim Vaz do Nascimento. Ali ele começou a vender no pequeno depósito batatas e outras especiarias e, com a Kombi, saía pela redondeza nas entregas. O ano era 1984. Nascia ali o Comercial Campeão. Passando um pouco, ele muda para o meio do quarteirão na Joaquim Vaz, agora eram duas portas o espaço era um pouco maior e os “secos e molhados” aumentavam a variedade nas prateleiras. Aqueles cheiros tradicionais característicos desses armazéns nos transportam ao cheiro de infância, quando as crianças acompanhadas dos pais entravam nos estabelecimentos, pois sabíamos que ganharíamos algo no final. Bala de goma, bala Neusa, e a ‘terrível Soft’ que era uma delícia, uva, limão, morango e laranja... Roda baleiro, roda baleiro... O odor de fumo de corda e das cordas, vara de pescar e o cheiro de querosene que invade as narinas da lembrança.


Assim, era o comercial, o atendimento diferenciado e sempre preferencial. E no estilo do jogo ‘Banco imobiliário’, ele foi comprando um pedacinho aqui, o lado foi sendo absorvido e a estrutura do empreendimento cresceu. Mudei de cidade e, nas vezes, que aqui estive, passei por lá. Quando voltei, ele não era apenas um armazém e, sim, um supermercado. O cheiro havia mudado, mas o ambiente te aconchegava. Ele foi crescendo, aumentando, mas, o carinho do idealizador sempre foi o mesmo, sempre foi enorme. O sorriso e o aperto de mão nunca mudaram. Só quem o conhece, entende essa energia positiva que é gerada, e de onde vem todo esse sentimento e a bondade, sempre colocou o ensinamento do Mestre à frente de tudo. Cada tijolinho assentado e um novo funcionário registrado, a energia só aumenta. Os lados alargaram, e foi adquirida a frente, e o empreendimento a outros bairros chegou. 


Fui trabalhar na Gráfica do IAM – Instituto de Assistência ao Menor, do qual o Campeão era um dos bons (quem sabe o melhor) clientes, muitas coisas, e algumas ideias juntos tivemos. Nesse período, o nome mudou, saía o “Comercial” e passava ser “Campeão Supermercado”. Sempre fiz questão de comprar ali. E onde eu trabalhei, eles foram meus parceiros, eu que implantei o crachá de ponto, quando trabalhava na Imagem Comunicação, pesquisas e todas as campanhas de natal, dia das mães e outras mais das quais participei, na minha lista ele era o principal cliente.


E a nossa parceria fortaleceu ainda mais, quando vim fazer parte do quadro de funcionários da empresa. Grata satisfação fazer parte dessa família. E, por dois anos, ali estive. O meu primeiro texto que foi publicado era uma referência a um dos seus projetos “Campeão socioambiental”, o segundo, também falava dele. “Um pequeno espaço que nos primeiros anos de vida era apenas 95 m², e contava com dois funcionários... “, e um deles ainda presta serviço por lá, o querido Senhor Corrêa com mais de 80 anos. Tantos outros tiveram a oportunidade de alguma forma participar desse crescimento, muitos há vários anos ali estão, começaram como aprendiz, e hoje exercem funções de destaque dentro da empresa. E, 30 anos depois, o pequeno cômodo cresceu, e cresceu muito, expandiu... Muitos ali eu chamo de irmãos, e entre eles está o “rapaz atencioso e que sempre nos atendia com um sorriso no rosto e cordialmente...”.






sexta-feira, 26 de setembro de 2014

A arte de trabalhar com madeira


Fábio Trancolin 

A arte da madeira
A arte de trabalhar a madeira é muito antiga, essa arte é uma profissão ancestral, José o pai do Mestre Jesus tinha o oficio de marceneiro. A marcenaria é o trabalho de transformar a madeira em objeto útil ou de decoração. Esse profissional deve possuir o dom da criatividade e saber desenhar, além de ter um vasto conhecimento do uso de ferramentas.  O lado artesanal da marcenaria ao longo do tempo foi perdendo o espaço, os chamados móveis projetados feito em MDF (Médium Density Fiberboard) que traduzido ao pé da letra quer dizer (Media Densidade Fibra de madeira), ganhou espaço e dominou o mercado e também as lojas de eletrodomésticos no 20 vezes sem juros fez com que as marcenarias perdessem espaço. 

Onde hoje esta localizada o Colégio Oscar Ribeiro era a marcenaria do Ginásio, minha infância foi ali... Cresci nesse mundo de serragem misturada com verniz, serra circular, a plaina e a tupia, a furadeira e no torno a forma arredondava. Serra de fita fatiava, cola branca, ‘formica’, compensado, martelo martelava no barulho constante, formão, os esquadros. Chave de fenda, pregos 10x10, 15x21... Taquear com serrote... Fresa e a broca, lixa fina, lixa grossa de ferro e madeira... A ‘boneca’ deslizava na ‘goma laca’, vigota, caibro, prancha. Xadrez preto e vermelho misturado à tonalidade. Remendava serras de fita, improvisava e inventava, e reutilizava. Apertava tudo no ‘sargento’ (só quem esteve nesse universo saberá o que é um sargento)...


O barulho da circular, o som estridente no engasgo da serra no gomo da madeira ‘segura ai’, empurra outro na ponta amparava. Na Tupia desce e sobe, mede e desfia, regula, marca de novo. Na furadeira, aperta regula a altura no vai e vem à broca perfura, tira vira, e de novo outro furo, a marca do lápis no esquadro do risco na passa. Põe o lápis vermelho na orelha, um pede emprestado o metro, de um e de dois metros de bambu quebra fácil cuidado na vai quebrar, esse é novo... O torno peça quadrada é apertada e ela começa a girar, a goiva desbasta junto com o formão, aprofunda fino e grosso conforme a necessidade, e as formas se fazem...


Esses nomes fizeram parte da minha infância, Cerejeira (ela era nobre, adorava o cheiro dela), Mogno, Cedro, Jatobá, Sucupira, Jacarandá, Cedrinho, Angico, Imbuia, Cambará, Peroba, Garapa, e Marfim, e os vários Angelins, tinha aquelas dos cheiros ruins, nada se comparava a Canela-bosta, o nome já dizia tudo... Os Ipês roxo, amarelo e rosa... Quem não ouviu falar de Guatambu...? Ouvia o pai dizer que adorava trabalhar com Caviúna... E outras tantas ali foram transformadas em arte. O pai foi marceneiro de primeira, entalhava, torneava e inventava... Meu irmão mais velho (Jairinho) seguiu o mesmo ofício.   


Quem esteve nesse universo da transformação da madeira não esquece o cheiro. Dos montes de serragens sendo recolhidos pelas lavadeiras, e o cheiro do verniz e o perfume de algumas madeiras que invadiam o ambiente. As bancadas e os cavaletes... O guarda roupa, a cama de solteiro e a de casal (porteira e torneada) a mesa com quatro cadeiras, e a sapateira, algo que não se ouve mais, cantoneira... No canto de alguém ficou... 




sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Ao Mestre com carinho


Fábio Trancolin



Fábio Trancolin

No dia 29 de agosto é aniversário de uma pessoa que fez a diferença, marcou a sua passagem pelo Plano Terrestre. Falo de Doutor Bezerra de Menezes, o chamado Médico dos Pobres.  Nasceu no Ceará, foi Médico, Militar, Escritor, Jornalista, Politico filantropo e expoente da Doutrina Espirita. Foi uma daquelas pessoas inesquecíveis, já se passaram mais de cem anos da tua morte, e ele está presente.

Comecei falando de Adolfo Bezerra de Menezes, pois o tenho como exemplo e Mentor. O objetivo desse texto é homenagear o meu amigo Professor Lindomar Barros que também fazia aniversário dia 29 de agosto, e nesse ano fez a passagem para o Plano Espiritual. Ele também deixou um legado, uma história e tem feito falta, muita falta... Foi Mestre, Professor, Politico... Foi um ‘Transformador’, pois fez da sua tarefa a arte de transformar pessoas...

Nas eleições de 2012 ele esteve na minha casa. Na minha sala ele disse, ‘eu sou alguém que tinha tudo pra dar errado, mas eu provei o contrário e com muito esforço e fiz acontecer. Eu sou negro, filho de mãe solteira, e as minhas irmãs tem cada uma um pai ’ Para a sociedade preconceituosa ele era um cidadão que não venceria. Ele venceu, chegou lá. Estudou, se tornou Mestre na arte de ensinar, fez da educação o seu lema. Ele foi o candidato em quem votei, teclei na urna o nome dele. Eu o visitei no legislativo, e no seu gabinete ele me disse, ‘eu estou observando, para não falar besteira ou fazê-las, observe, estude se aprofunde e depois põe em pratica. Estava agindo como um verdadeiro educador. Porém foi chamado a desenvolver um trabalho que ele amava, e deixou a vereança, e assumiu aquilo que ele conhecia, ‘era o teu pedaço’, o território do qual ele sabia e sabia muito, assumiu a pasta da Educação.

Temos vários planos, idealizamos, planejamos, articulamos, mas tem um Mentor Maior, que esta no comando, e é o plano dele que vale... DEUS. E no último dia do outono desse ano, ele retornou ao Plano Maior. E hoje ele completaria 53 anos, lembrarmo-nos dele, vamos comemorar essa data, ele era a alegria, e essa alegria vai permanecer. Vamos brindar... Um brinde a tua amizade e tua felicidade... Quem disse que você partiu! Muitos se beneficiaram da sua bondade. Pois em pratica a máxima do Evangelho, ‘Não saiba a vossa mão esquerda o que dê a vossa mão direita’. Será lembrado, hoje e sempre...

Esse texto é pouco para falar de ti, uma lauda é muito pouco, tua história, tua vida daria um livro, e seria um prazer conta-la... Fica na lembrança o sorriso largo e o abraço fraterno com afago que ele nunca deixou de dar em cada vez que nos encontramos... Deixo a minha homenagem nas linhas que escrevi pra ti. Ao Mestre com carinho...  


terça-feira, 26 de agosto de 2014

Paixão pelo Palmeiras


Fábio Trancolin

Difícil alguém que não tem um time para torcer, alguns torcem pelos times dos pais, outros são influenciados pela mídia, alguns pelos parentes que “torram” a paciência, têm aqueles que estão em evidências e acabam contagiando a meninada. O pai nos ensinou a torcer pelo Palmeiras (E lhe agradeço por isso), esse time nos deu e dá alegrias, já nos fez passar raiva, nos decepcionou em alguns momentos, mas nós o amamos. 


O pai conta que em 1958 quando foi morar em São Paulo, o único time que fazia frente ao Santos de Pelé era o Palmeiras, ele disse que a maioria torcia pelo alvinegro praiano, e por ele ser goiano e vinha de Rio Verde, se encantou pelo alviverde imponente. E assim nascia a paixão pelo Palmeiras. O Verdão tinha uma verdadeira “máquina” na época: Valdir de Moraes, Djalma Santos, Valdemar Carabina, Geraldo Scotto, Zequinha, Chinesinho; Julinho Botelho, depois veio o Ademir da Guia, Dudu e Vavá e outros tantos. Naquele início da década de 60, o pai diz que era um espetáculo ir até ao Pacaembu ou Parque Antarctica ver o Palmeiras jogar, e os outros, também, não eram ‘timinhos’, tinham verdadeiros esquadrões.


Veio a década de 70, e o Alviverde era a Academia, mas eu não me lembro dos títulos de 72/73/74 e no titulo do Paulistão de 1976 lembro-me do pai comentar, naquela ocasião não passava jogo regional na TV e depois desse veio uma “seca danada”. Naquela época foi o período que eu fui pra rua jogar, era o tempo das figurinhas e dos campinhos e de tirar sarro dos outros torcedores, em 78, o Verdão chega à final do Brasileirão, dois jogos contra o Guarani de Campinas (Era um Timaço o ‘Bugre’), imaginei que iria ver o nosso time sagrar-se campeão, mas que nada, perdemos no Morumbi e depois no Brinco de Ouro da Princesa, era agosto, e o Brasil tinha sido “sacaneado” na Copa do Mundo daquele ano na Argentina, foram duas desilusões para um moleque de 10 anos, pensa numa tristeza...


Mas eu não “tava”’ nem aí, estava sempre uniformizado, a camisa do Palmeiras e o calçãozinho verde, e não mudava de time de jeito nenhum, muito garotos faziam isso, torcia para quem estava ganhando. Em 79, quase levamos o “Paulistão”, mas o cartola do Corinthians Vicente Mateus mexeu no regulamento e alterou as coisas. E no Brasileirão quase também, o Verdão goleou o Flamengo dentro do Maracanã por 4x1, o presidente do time carioca (Márcio Braga) disse que já tinha comprado as passagens para o Rio Grande do Sul, eles iriam enfrentar o Internacional, só que ele esqueceu que tinha o jogo contra o Alviverde. O Palmeiras foi para a semifinal, porém não passou pelo Colorado, mas também ninguém passou naquele ano eles foram campeões invictos. Eu assisti ao jogo na casa do Sargento Barbosa, gaúcho e torcedor Colorado. Década de 80 foi terrível nada. A única vez que chegou à final foi no paulistão de 86, e teve o vexame da derrota no Morumbi para o time do interior paulista a Internacional de Limeira.


No Paulistão de 88, eu tive a oportunidade de ver o Verdão jogar pela primeira vez, no Pacaembu na estreia contra o Mogi Mirim, o jogo foi 1x0 para o visitante, gol de um ex-atacante do Palmeiras Carlos Alberto Seixas. Estávamos eu e o Marcello, tinha comprado uma corneta verde, e depois voltamos descendo a Rua da Consolação até ao Metrô do Anhangabaú, ali encontrarmos com a torcida do Corinthians que vinha em extrema algazarra, eles tinham ganhado do São Paulo no Morumbi. E, no final daquele campeonato o Palmeiras colocou o Corinthians na final, vencendo o São Paulo por 1x0, o empate era do Tricolor e aos 46 do 2º tempo, Gerson Caçapa fez para o Alviverde. O Claudio Augusto, um grande amigo que tenho, estava no Pacaembu, assistindo ao jogo do Corinthians contra o Novorizontino, eles dependiam da vitória do Verde, eles diziam que o Palmeiras iria facilitar para o Tricolor. Não foi isso que aconteceu. Eles foram para final e venceram o Guarani em Campinas e ganharam o título daquele ano. 


E, nada de eu ver o meu time campeão, o time da vez era o São Paulo, em 89, quase, perdemos para o Bragantino e adeus título, caiu no colo do São Paulo, em 90, Bragança levou... E nada, nada de gritar Campeão. Em 92, quase, chegamos à final, porém mais uma vez deu São Paulo. Então chegou o ano da redenção, ganhamos o Paulistão no jogo histórico 4x0 do arquirrival Corinthians. O Rio-São Paulo também nós comemoramos em cima deles (Dá-lhe Edmundo!). O Brasileirão, outro que foi para a sala de troféus do Parque Antarctica (E só não foi mais uma vez em cima deles, porque eles facilitaram o jogo para o Vitória na Bahia).  



Aquele sábado, 12 de junho de 1993, jamais sairá da memória, que coisa maravilhosa, foi algo que não dá para descrever. Foi uma semana difícil, víamos de uma derrota, perdemos o primeiro jogo, 1x0 e o Viola tinha imitado o “porco” e feito a festa da torcida deles. Mas lavamos a alma no jogo seguinte, morava numa rua dominada por corintianos, é algo inenarrável... Depois desse, o Verdão chegou a outras tantas finais, mas nada se comparada a esse titulo... Ganhamos a Libertadores, perdemos o Mundial, visitamos a Série B (por duas vezes), mas a paixão pelo Palestra Itália, o Verdão do Parque Antarctica  essa não muda... Essa permanece... Essa permanecerá...  


segunda-feira, 18 de agosto de 2014

O casarão de portas e janelas vermelhas


Fábio Trancolin

Não lembro a data, mas era lá no mês de julho de 1977. Mudamos mais uma vez. Viemos morar no casarão da Rua 12 de outubro. À primeira vista, ele era imenso, sempre moramos em casas pequenas, ao entrarmos, uma sala, depois outra e mais um cômodo que servia de copa, três quartos, uma despensa, o piso era de madeira, quando corríamos, o barulho era assustador, com espaços que mais pareciam buracos, objetos caíam ali, poderia dar como perdido, pois já era. Era pintado de branco com as janelas e portas em vermelho elas eram de madeiras. Não tínhamos tantos móveis para que ele pudesse ficar muito bem decorado. Não fazia tanto tempo do acidente em que o caminhão entrou na nossa casa, e passou por cima dos nossos móveis. 


Nessa época, o Vô Henrique passou um tempo lá em casa, ele já estava com 80 anos, e o barulho da molecada o incomodava. Logo ele foi embora, não quis ficar. E por falar em barulho, éramos acordados pelos recrutas do Tiro de Guerra, seis da manhã, eles já recebiam as instruções. Naquele tempo os sargentos que comandavam a tropa era o Sgtº Ronan, e o Sgtº Barbosa, eles moravam em frente. Naquele ano, o asfalto ainda não tinha chegado por ali, e tudo era cascalho, joguei bola ali na terra e no “poeirão”.


O que mais chamava atenção ali era o quintal, era imenso, tanto o do casarão em que eu morava quanto os vizinhos, o do lado debaixo, tinha casarão muito mais velho do que o nosso... Nele morava o Seu Nego e os filhos o Cleomar e a Ozania, se ainda estivesse de pé e tivesse sido preservado seria uma relíquia patrimonial para a cultura local. Do lado de cima, era e ainda ela esta lá a Dona Suerlene. No casarão em que o Cleomar morava em um quarto escuro, o Tatão que era o nosso senhorio e o dele também, criava um cachorro, que não via a cor do sol, ele estava sempre preso, aquilo nos incomodava, à noite ele o soltava para dar uma volta, era um pastor parecia um lobo. Pensa num cão bravo.


O nosso quintal tinha oito pés de jabuticabas, duas mangueiras, e mais alguns pés de goiabas. E, nos vizinhos, além das mangas e jabuticabas, tinha caju e cajá-manga. O pai fez horta, e nos fizemos um campinho para jogar futebol, no fundo, tinha uma cerca de arame, só pra determinar território, e dali descia e chegava ao Córrego Barrinha. Alguns bailinhos foram realizados ali, muitas vezes, na vitrola, o Jerry Adriani cantou o ‘meu coração é de cristal’... Por falar em música, no dia 16 de agosto de 1977, eu morava lá, naquela terça-feira morria o rei do rock, a vizinha nossa amiga a Renê que morava atrás da cadeia velha, casa essa que depois nós fomos morar, desabou em lágrimas, ela chorou tanto com a perda do Elvis... Também quem não sentiu a perda do ídolo...  


Ali, passei bons e maravilhosos dias, eles eram longos, cheios de alegrias, tinha os bons amigos e muitas coisas pra fazer, nos quintais dos vizinhos... Na rua, no cerrado, nas beiras de córrego, nas quadras do TG e no Clube dos bancários. Na rua de cima, morava o Tio Juvenil, em 77, foi ano de eliminatórias para a copa do mundo, que aconteceria na Argentina no ano seguinte, e nós íamos lá para a casa do Tio assistir os jogos da Seleção Brasileira, ele já possuía TV em cores, era um espetáculo ver os jogos na televisão colorida. Teve um jogo que a turma do quintal da Dona Gasparina, (no ano seguinte também iríamos fazer parte daquele quintal), juntaram todos para ver o jogo, naquela época tudo era motivo para fazer churrasco e reunião que vazava as noites. O Brasil jogou contra a Bolívia, foi 8x0, nesse tempo, era o Brasil que goleava e era temido pelos adversários.


Moramos ali no casarão uns seis meses, mudamos para a Rua Ricardo Campos no final do ano, no quintal, tinha quatro casas, habitamos duas delas. Elas não eram grandes quanto o casarão, mas adorava o lugar, eram simples, mas aconchegantes. Tenho saudades do quintal, dos churrascos que eram feitos no chão (cavava se um buraco e colocava uma grande por cima). Ali fiz o meu aniversário de 10 anos. O pai fez festa, os amigos da marcenaria vieram os amigos da rua, também, os parentes apareceram... De presente, o pai me deu uma camisa do Palmeiras. O sócio ‘desonesto’ do pai me deu dinheiro de presente... A Tia (Dina) maravilhosa do coração vendia Avon, ela me presenteou com um carrinho azul que era um recipiente de shampoo...


Em 79, passou um vento por lá, e o telhado da nossa casa, ele levou, as telhas foram embora. O barulho do vento encanado e assustador, debaixo da mesa o pai nos colocou, ninguém se machucou, mas o susto... Ah, o susto esse foi grande... A nossa vizinha, a cadeia que naquela época era chamada de “cadeia velha”, ela servia apenas para ninhos de morcegos, corujas e pardais... E, também, é claro, para as brincadeiras da molecada. No finalzinho da tarde, os pardais em barulhenta algazarra retornavam... Naquele momento era normal, tinha demais era considerado “praga”, hoje eu sinto falta desse barulho... Mas não é só do barulho que eu sinto falta... Sinto falta do pouco que era muito... 



segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Rápido e ligeiro: ele é o ligeirinho


Fábio Trancolin

Enoque Gomes que muitos não sabem quem é, mas se falar o apelido, todos conhecem: Ligeirinho do salgado. Nascido em 7 de  agosto de 1940 no Rio Grande do Norte numa cidadezinha que hoje tem pouco mais de 10 mil habitantes, chamada  Luiz Gomes. Casado com a Dona Eli e, dessa união, dois filhos nasceram o Fábio e o Tarcísio.  


Com suas sandálias aladas, veloz como o vento, ele cruza a cidade de um lado ao outro, não tem quem não conheça e não há lugar que ele não tenha ido, com sua bacia debaixo do braço ou no alto da cabeça, ele traz o salgado esperado por muitos. Salgados esses que alimentaram os seus filhos, pois foi daí que esse bravo nordestino tirou o sustento para a família.

Ligeirinho corre de um lado para outro desde 1976, gasta um par das inseparáveis Havaianas por semana, todos os sábados adquire um par novo. Em média, vende 150 salgados por dia, mas já chegou a vender 300. Diz ele, “não produzo, compro feito, se fizer, não vendo e se vender não faço, compro e vendo e acertado está.”.


O tempo não para e acelerado vai, a rua o espera... Conversar com ele é bom, ligeiro nas palavras, ele não para, anda falando e falando vai... A humildade do homem do campo, a simplicidade do matuto, a ingenuidade no semblante, faz com amor aquilo que se propôs fazer... Eu vou andando, eu vou ligeiro, ele vai ligeirinho... Tal com o ratinho mexicano da “Warner” antes da saída ligeira, só falta dizer ‘arriba, arriba... ’

Nas tardes de domingo e sol, nos jogos de domingo nas arquibancadas do Mozart Veloso do Carmo ele sempre esteve...  Teve “juju da Terezinha”, picolé do Brasinha e junto com a fumaça do espetinho, com certeza o salgado do Ligeirinho nunca faltou. Na “Pauzanes”, na “Bandeiras”, na “João Belo”, “Presidente” e nas ruas adjacentes, qualquer hora com ele você vai esbarrar, ligeiro, por você, ele vai passar, e não deixe de dizer um “olá”... 


O significado do teu nome que em hebraico quer dizer “dedicado”, quer uma dedicação maior do que essa pela profissão! E tal qual o soldado grego Feidípides que por dedicação na guerra contra os persas, correu, lutou e voltou correndo para salvar a tua terra. Enoque todos os dias corre e sempre correndo dedica ao seu trabalho e proporciona a felicidade aos que o espera. Quando a bacia esta cheia, felizes são os que saboreiam, e vazia, pois para casa ele voltou... 

Ligeirinho é um personagem da cidade, figura que devemos preservar com carinho, não aquele carinho ligeirinho, sim, aquele que fica guardado. Por isso, eu conto a sua história.






domingo, 10 de agosto de 2014

Pai você é meu herói.


Fábio Trancolin

Faz muito tempo, mas eu ainda lembro o dia em que o pai disse: não precisa me chamar de senhor... Parece um tanto estranho, pois todos os tios nós tínhamos que tratar por senhor e pedir benção. Para muitos aquilo soava estranho. E na visão dele isso não era falta de educação ou respeito, também não vejo assim. Descíamos a Rua Augusta Bastos, naquela época morávamos na Rua Afonso Ferreira, e eu o chamei de senhor, eu era bem pequeno, e ele, simplesmente disse não me chame de senhor, pode apenas falar ‘você... ’ Passei isso para os meus filhos, e da mesma forma eles também me chamam de você.


Comecei contando essa história pra falar do meu pai, do carinho, amizade e respeito, que temos e sempre tivemos um pelo o outro. Filho e pai devem ser amigos e lá em casa sempre fomos. Não sai de casa, casei e por lá fiquei, a minha esposa foi quem ganhou o pai. Às vezes eu os observo, parece que ela é a filha, como se assemelham e se completam. E mais feliz ainda, pois os meus dois filhos ele ajudou a criar. Sempre nos mostrou o caminho, e que não precisa de muito para ser feliz...  


Certa vez um amigo me disse que deveríamos dar valor nos país, e curtimos mais eles, pois nunca sabemos a hora que eles vão partir, e quando isso acontece e que se sabe o que perdeu. Como falei, eu não sai de casa, ali sempre estive. E debaixo da árvore na porta de casa ali sempre tivemos os bons papos. O irmão caçula veio fazer parte da vizinhança há seis anos. O mais velho liga todos os dias, e sempre online esta. 



Na musica ‘PAI’, Fábio Junior disse tudo aquilo que todo filho deveria falar para o teu pai... E nunca é tarde pra dizer tudo aquilo deveríamos dizer sempre... ‘ Pai, você foi meu herói, meu bandido. Hoje é mais muito mais que um amigo, nem você nem ninguém tá sozinho. Você faz parte desse caminho. Que hoje eu sigo em paz... ’



segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Eu te observo


Fábio Trancolin

Eu tenho andado pela cidade, eu fico observando e escutando. Testemunho a sua destruição e reconstrução, a beleza que ela tem e não tem...  Passo por lugares tão familiares e que, às vezes, não reconheço. Como você mudou ou podemos dizer transformou. Não és mais a menina da aldeia, e nem mesmo a moça na janela que esperava o cowboy de lenço vermelho no pescoço... “Toca o berrante seu moço... “ Até pouco tempo tu era passagem de boiada.   Você mudou e mudou muito.  Para aqueles que não andam por tuas ruas, assustam, pois perguntam cadê aquela casa... Nossa caiu, e aquela outra não existe mais, nossa venderam essa também! Nem aquelas que eram para ser patrimônio são preservadas, elas tombam não historicamente, mas, sim, para dar espaço para o progresso que vem acompanhado da explosão e exploração imobiliária.


Eu te observo, vi e vejo a tuas mudanças. Nos tempos de criança, os cinemas com os cavaletes na porta nos convidava a “espiar” o que dizia o letreiro, eram três estabelecimentos que nos traziam a 7ª arte. Tínhamos o Cine Presidente, o Rio-verdense e o Bagdá, que depois virou Regente e perdeu a regência, as cortinas se fecharam, os chamados cinemas de rua perderam espaço e se transformaram em salas no shopping, ao lado tem a área de alimentação com as suas franquias de lanches rápidos no fast food e americanizou.


As tuas praças de namorados de mãos dadas de juras eternas ao brilho da água do chafariz, pipoqueiro, vendedor de rosas não te vejo mais. As moças com as saias rodadas mediam a praça de um lado para o outro no, paquera e na mais pura ingenuidade. A antiga Praça Castelo Branco (hoje Praça José Maria Barros) com as suas luminárias que saiam do chão e encantavam as crianças que desciam pulando e subiam também. A beleza das árvores da Praça 5 de agosto e os seus bancos que convidavam para  uma bela prosa num final de tarde. O espaço da Praça da Matriz que trago na memória um cheiro de vem, vem brincar e correr, hoje o cheiro é outro e te convida sim, a sair correndo do perigo constante a te observar. 


Nas bancas das “frutarias” principalmente as que tinham no Mercado Central a “banana de fritar” madurinha com a casca preta. O queijo, a farinha e polvilho a garrafa de pimenta amarela e vermelha tanto uma como a outra arde à boca, docinho na palha para adocicar. Feijão de quilo, amendoim na casca, a balança com as bandejas o peso a equilibrar. Frango vivo dependurado junto à gairoba, gueiroba, gueroba ou guariroba tanto faz o nome, você sabe o delicioso amargo que tem.  Final de outubro, cheiro de pequi invade as narinas, quem não come, aprende.  


Os bares e “armazéns de alguém” perderam o espaço, hoje não se tem o balcão para sentar e a prosa trocar. O bar do João Surdo, João Jayme, os armazéns do Zé Mineiro e do Zé da Venda e outros ‘Joãos’ e ‘Zés’ não tem mais. Não se tem tempo, para num tamborete sentar e o assunto prolongar...  Hoje os bares são outros e as pessoas conversam via internet, estão conectadas no WhatsApp, ah, geração de cabeça baixa...  


As músicas do passado eu também relembro, quando elas chegavam através da sintonia da Difusora AM que ficava na esquina da Avenida Presidente Vargas com a Rua Almiro de Moraes, e te emocionava, te convidava a ouvir e viajar nas ondas da rádio... Yesterday, all my troubles seemed so far way – (Ontem, todos os meus problemas pareciam tão distantes)... Mas, mesmo quando essa mudança e essa “miscigenação” que trombamos e vemos e ouvimos por tuas ruas, temos o carinho por ti, que no passado foi chamada de ‘Princesinha do Sudoeste’. Tu cresceste e transformaste, já não é mais cidade pequena, guardam ainda nas suas cancelas presas pelas tramelas da memória. Memória que eu faço questão de não esquecer, faço, sim, te preservar e te contar...




segunda-feira, 28 de julho de 2014

Eu fiz parte dos ‘Meninos de kichute’.


Fábio Trancolin



Tem coisas que não saem da minha memória, elas estão bem recentes mesmo que tenham acontecido há quase 40 anos, elas fizeram parte da minha adorável infância, mas para muitos dos meus amigos, têm coisas que eles não usaram e nem ouviram falar. Recentemente, fui ouvir uma palestra e o conferencista citou o famoso ‘kichute’, acredito que a maioria das pessoas que estavam na plateia nunca viu um exemplar do mais famoso calçado da molecada da década de 70 e 80, era um misto de tênis com chuteira, e tinha como slogan ‘‘kichute, calce essa força’’. Foi o tênis da minha infância, aquele que te levava a todos os lugares, pois ele servia pra tudo mesmo, o tênis da escola, do futebol e de sair também... O “kichutão” quando estava novo era ‘preto petróleo’, vinha num saco plástico e tinha aqueles resíduos de borracha, que se assemelham ao pneu novo da bicicleta, a ideia era ir para quadra ou correr no asfalto para que elas pudessem desaparecer o mais rápido possível, e lavar para ele perder a cor.   Foram muitos anos usando o “pretinho básico”.


Passei pela fase da conga, tive uma azul e uma branca, porém elas fizeram pouco tempo das minhas andanças, depois veio uma que era um pouco melhor e, com cores mais variadas, a Conga Alcolor, também, usei, comprei alguns pares lá na Casa Lacerda. Esse tipo de calçado também vendia nos armazéns. O Kichute usava até acabar para poder ganhar outro, tempos difíceis, lembro-me de certa vez, o meu abriu na parte de baixo e estava uma lástima, o pai então fez um remendo com arame, era domingo e tinha jogo na quadra do TG, o pai disse “amanhã eu te compro outro, mas até lá, vai assim...” É claro virou piada... Mas, também, virou história. Eu fiz parte dos ‘Meninos de kichute’.


Em 1981, eu morava em São Paulo, meu pai comprou um Tênis Bamba na feira de sábado na Rua Enéas de Barros, sabe que esse era um sonho para quem só usava kichute, ele era mais sofisticado e elitizado, não se comparava aos ‘Rainhas’ e ‘Topperes’, mas calçava melhor e combinava com a calça jeans. E, em novembro daquele ano, eu ganhei o meu primeiro Tênis Topper, esse foi para ir ao casamento da minha prima Cosete... Era um belo tênis, em detalhe verde e azul e de nylon, adquirido no Romão Calçados na Avenida Celso Garcia.  Hoje, as lojas de calçados têm “trozentos” exemplares nas vitrines que fica até difícil escolher... Boas lembranças dos tempos em que se amarrava o cadarço na canela e era o velho e bom parceiro de bola.


No meio da década de 80 (lá pelos anos 85 e 86), as coisas estavam melhores financeiramente falando, então apareceu nos nossos pés o All Star, esse era Top! Fez parte da minha adolescência, foi febre na geração 80... Gostava dos tons azuis, mas teve amigos que chegaram a usar na cor laranja, amarelo e roxo, até rosa choque teve gente que chegou a usar, ou tinha aqueles que mesclavam uma cor com outra era chamado de “vários em um”... Quem esteve lá, nesse momento deu vontade de pegar o “DeLorean” e retornar ao mundo mágico da geração 80, ouvir as bandas de rock (nacional e internacional) do bom som da década de ouro. Calça jeans, tênis, camiseta de mangas dobradas e walkman nos ouvidos a fita cassete tocava RPM...  


sexta-feira, 25 de julho de 2014

Mudança


Fábio Trancolin


25 de julho de 1987...  Estava um tempo nublado e fechado, era um sábado. Preparava-me para uma mudança, um tanto quanto radical na minha vida. Voltar a morar em São Paulo. Nasci lá, porém fui criado nas terras da pequena cidade do Planalto Central, naquela época Rio Verde era uma pequena cidade do interior, os seus relacionamentos eram outros... Tive uma rápida passagem pela cidade grande entre 81/82. Mas naquele ano chegou o momento de voltar a enfrentar a “Paulicéia desvairada” cidade grande, ir em busca de oportunidades que aqui não encontrava. Por um lado sentia em deixar os amigos que eram muitos, mas ir causava certo interesse, envolvia outros fatores...

Naquela semana que antecedeu à mudança, causou tristezas, uma delas foi o atropelamento da minha cadelinha, a Katy, tinha levado para vacinar, dei banho e preparei para viagem, tanto ela quanto a filha, a Pepita, eram duas cadelas da raça pequinesa. No sábado dia 18, ela foi atropelada por um caminhão na porta de casa... (Foi um baque...).

Para a mudança, foi resolvido que não se levariam os móveis... Quase tudo seria vendido e foi. O pregão do Zé arrematou tudo que estava à disposição. Resolvemos apenas levar a TV (Foi presente dos dias das mães do ano anterior...).  Não existia mais a marcenaria, as máquinas eu tinha vendido para o Orlando. O amigo Selmo, sempre presente, nos ajudou a desmontar tudo e eu via a casa ir ficando vazia, a Kombi do pregão na porta ia sendo carregada. O primo Claiton passou por lá, e levou alguns utensílios, que não interessava para a venda, colocou na carroça que ele tinha. O primo Alexandre tinha separado algumas coisas, porém deu “bobeira” e o Claiton moleque que era, levou as coisas dele. Cena hilariante, a carroça em disparada e o Alexandre correndo atrás gritando, isso é “meu”, era uma chicotada na égua e outra nos meninos... Quem disse que pegaram...


A mãe fez um pedido para que eu cortasse o cabelo, como sempre gostava de usar o cabelo comprido, e ele estava grande, ela me disse: “Vai lá cortar, não viaje assim, não vai chegar lá desse jeito”. Pedido de mãe foi atendido, meio contra vontade. Ali na Avenida Presidente Vargas, onde hoje está a Casas Bahias, tinha a Casa do Granjeiro do meu amigo Charles, ao lado tinha um Salão de Barbeiro, cortei tão curto que ficou arrepiado... Desci fui até a tabacaria do Pedro Honório, onde hoje está o ponto de táxi do Adejair. Ali comprei um maço de cigarros Camel (naquela época eu fumava). 


Às 16:30, o Nacional Expresso encostou no box, ali começaria a viagem... Na hora de partir, três amigos foram se despedir... Selmo, os irmãos Nakayamas Aloisio e Marilsa... Lembro-me dos três acenando quando o ônibus desceu a avenida... Na manhã do dia seguinte, lá estávamos nós, eu a mãe e o pai com a Pepita na coleira (ela também viajou...). O Tio João nos aguardava com seu Chevette cor de creme... Eu louco pra chegar, pois queria ver a Fórmula Um, naquele tempo, eu aficionado pelo esporte, é era o GP da Alemanha, que foi vencido por Nelson Piquet. 


Ali muitas coisas aconteceram nos 12 anos que por lá passei... Outras tantas histórias... (que ainda vou contar)...  E, em março de 1999, eu estava de volta... De volta pra casa, pois aqui acredito que seja é o meu lugar... Quando perguntado se eu sou paulistano ou goiano, respondo que sou uma “pizza de pequi”.