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segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

"No meu tempo, isso tudo aqui era mato."


Nos recantos da memória, onde o tempo compõe suas histórias, aqueles que já trilharam além de algumas décadas, olham para os lugares familiares da cidade e sussurram com nostalgia: "No meu tempo, isso tudo aqui era mato." Os que lembram dos tempos de outrora, não podem deixar de notar as transformações que ocorreram em alguns lugares da cidade. Em tempos idos, a paisagem era marcada por lotes vagos, vastos campos e fazendas que agora são apenas uma lembrança distante. Ao observar esses lugares, é comum ouvir a expressão nostálgica: "No meu tempo, isso tudo aqui era mato."

Final da Av. Presidente Vargas

O cenário, antes pontilhado por espaços abertos e campos amplos, agora é descrito por mudanças e transformações que ecoam uma certa lembrança. Onde edifícios majestosos erguem-se hoje, antes as mangueiras e jabuticabeiras reinavam soberanas por longos anos. O cerrado deu lugar a condomínios, cimento e concreto, e as pitangas, cajuzinhos e gabirobas foram substituídos por pergolados. As mudanças são evidentes, transformando o cenário natural em algo totalmente urbanizado.


O concreto predomina onde antes eram encontrados lagoas e regos d´água. A cidade e seus limites, outrora tão próximos e compactos, cresceram e se estenderam para além do que se poderia imaginar. A cidade, antigamente contida em limites próximos, cresceu e estendeu-se para além dos confins dos arredores. Grandes árvores centenárias, que dominavam o espaço, agora são lembradas que ali um dia foram guardiãs de uma ocasião passada.

Rua Senador Martins Borges

Em tempos passados, árvores longevas dominavam o horizonte, proporcionando sombra e frescor. O imponente pé de jenipapo, com seus galhos largos e folhas verde-claro, erguia-se e sua sombra como um guardião silencioso de tempos longínquos estava ali no limite final da rua. O pé de jatobá, com seus galhos robustos e folhas verde-escuras, era o guardião silencioso do local, ali onde o sol se põe, deitando os seus raios no poente na vastidão campestre. Sua sombra espalhava-se amplamente, proporcionando abrigo. Seu caule, com marcas que contavam histórias de ciclos temporário e tempestades acontecidas, transmitia uma sensação de sabedoria e resistência... um dia a serra fria alguém trouxe, seus galhos e o tronco serrou, e suas raízes foi arrancada...  

Rua 12 sw outubro - Tiro de Guerra - A árvore é o pé ne jenipapo

Era uma vez uma árvore muito bonita, ela era majestosa, imponente e esplendorosa. De muito longe quem olhasse em sua direção os seus galhos avistava. Como era linda a árvore da minha infância, da infância do meu pai e da infância de outros tantos. Como era linda a árvore que no outono de rosa pintava o céu e o chão, e de longe se via... Os Beija-flores beijavam as flores e a festa fazia. Mais de um século passou, e ela em pé ficou... Muitas coisas ela do alto observou. Um dia ela caiu, alguém machucou o seu interior. A velha e encantadora paineira, carinhosamente chamada de Barriguda, um dia tombou.  

Barriguda - ano 2000

Não muito distante da cidade, lá no alto da serra ainda tem uma igrejinha que foi construída por Antônio de Ataíde em louvor ao Divino Pai Eterno, os devotos faziam romaria, andando pela estradinha, depois da caminhada subiam muitos degraus para pagar promessas pelas graças obtidas, ali era chamada fazenda Cachoerinha. Lá do alto distante a cidade era observada cá embaixo, as edificações atravessaram limites, passando por cima do mato quem ali havia, as mangueiras centenárias foram tombadas para dar lugar a uma avenida.  As construções estão bem próximas de chegar ao pé da igrejinha da serra, ou caieira como queira...

Av. Presidente Vargas

Onde antes se encontravam cercas, porteiras, colchetes, mata-burros e pinguelas, agora há estruturas urbanas que refletem o avanço do tempo, hoje se erguem viadutos e passarelas, testemunhas silenciosas das mudanças que o tempo trouxe. A cidade, que outrora mantinha uma proximidade acolhedora, transformou-se em um emaranhado de concreto e asfalto.

Vista da Av. Presidente Vargas - No alto lado direito: Terminal Rodoviária



Vista aérea do aeroporto 

Ao contemplar essas mudanças, uma certa nostalgia toma conta daqueles que testemunharam a transformação do simples e rural para o complexo e urbano. No entanto, é inegável que essas mudanças também representam o progresso e a evolução da sociedade, evidenciando a constante marcha do tempo que deixa sua marca permanente na paisagem da cidade. "No meu tempo, isso tudo aqui era mato" torna-se não apenas uma expressão, mas um testemunho vivo das mudanças que moldaram a cidade ao longo das décadas.

BR-060 - Descida da AABB - ano 2000

Hoje nesse local é o Atacadão - ano 2000




segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Café Rio Verde: uma história de aromas e tradição


 

Torrefação Café Rio Verde – Rua Costa Gomes – Década de 70


O café, o delicioso e saboroso café. O café é originário das terras altas da Etiópia, em um local chamado Kaffa. Porém, a palavra "café" não é originária de Kaffa, e sim da palavra árabe qahwa, que significa "vinho”. Por esse motivo, o café era conhecido como "vinho da Arábia" quando chegou à Europa no Século XIV.


Uma lenda conta que um pastor chamado Kaldi observou que suas cabras ficavam saltitantes e conseguiam percorrer longas distâncias ao comer as folhas e frutos do cafeeiro. Ele experimentou os frutos e sentiu maior vivacidade. Um monge da região, informado sobre o fato, começou a utilizar uma infusão de frutos para resistir ao sono enquanto orava. Parece que as tribos africanas, que conheciam o café desde a antiguidade moíam seus grãos e faziam uma pasta utilizada para alimentar os animais e aumentar as forças dos guerreiros.

O café chegou ao Brasil no século XVIII, lá pra bandas do Pará, na época era o Estado do Grão-Pará. As sementes que dariam origem a uma das mais importantes culturas do Brasil foram plantadas no solo fértil do Pará, em 1727. Assim, teve início a história das raízes do café no país, uma trajetória que moldaria significativamente o curso da economia e sociedade brasileira nos séculos seguintes.

Sua expansão gradual rumo ao sul culminou na chegada à região do Rio de Janeiro por volta de 1760. No entanto, sua verdadeira ascensão e consolidação como um pilar econômico brasileiro ocorreriam no início do século XIX, quando a produção em escala comercial para exportação ganhou impulso.

O café brasileiro encontrou terreno fértil nos mercados consumidores da Europa e dos Estados Unidos, impulsionando a demanda e, consequentemente, a produção em larga escala. Esse fenômeno foi fundamental para a consolidação do Brasil como um dos principais produtores e exportadores de café do mundo.



Na primeira parte do texto narra a história da nascimento desse maravilhoso fruto na África, sua chegada nas terras do fértil Brasil. Assim, chegamos no Planalto Central, não vou citar plantação na região, mas sim o nascimento de uma marca que entraria para a história em Rio Verde. Lá pelos idos de 1955, o Senhor Jerson Domingos da Silva (é com J, mesmo...), adquiriu um recinto, sendo ali um moinho de pedra, que fazia moagem de grãos, milho entre outros. No ano de 1958, teve início a torrefação de Café, assim, nascia uma marca tradicional na família Rio-verdense, o Café Rio Verde.



Nas tardes o aroma do café torrada invadia as narinas dos gentílicos. Um cheiro agradável e convidativo. Nas tardes o cheiro de café dançava no ar, aroma torrado, invadia as varandas entrando pelas janelas, um convite ao agrado. O café, confidente, guardado nas antigas memórias. Em cada xícara, um ritual sagrado. Nas tardes serenas, o aroma do café moído na hora, dançava no ar, um convite cativante e envolvente, que atraia a gente. O perfume da torrefação, fragrância que envolvia as narinas. Assim, nas tardes, o café se fazia arte, aroma e sabor. Pelos sentidos, um convite atraente, café, poesia que enche a vida de instante.

Como diz uma canção, oxalá o outono em vez de folhas secas, todos numa colheita de vida e fé, semear uma planície com laranja e manga, oxalá que chova café... Pra que na lá roça ninguém sofra tanto, oxalá que chova café no campo, pra que no agreste ouçam esse canto, oxalá que chova café no campo...”


No início da década de 70, nós fomos morar ao lado da torrefação, o pai alugou a casa do Jerson, e ali ficamos por um tempo, nossa casa dava acesso ao depósito onde as sacarias eram estocadas. Brincadeira de menino arteiro, certa vez quase colocamos fogo na sacaria.

A Tia Celinha certa vez foi garota propaganda em um comercial de televisão, falando da tradicional marca do Café Rio Verde, “essa marca faz parte da nossa família, desde 1958...” essa era a fala dela, enquanto coava o delicioso café... isso era a pura verdade, fazia mesmo... nos mercados e armazéns da época, íamos comprar o café torrada e moído na hora, tinha os pacotinhos verde e vermelho de 250 e 500 gramas que levamos para casa ainda quente.

No ano 1986, veio a mudança para o setor industrial, na saída para Itumbiara, assim ela virou uma indústria, deixando de ser a torrefação no centro da cidade. Em 2009, a família encerra as atividades empresarial, a marca continuou... Boas lembranças ficaram dessa tradicional marca 100% de Rio Verde. Essa marca por muitos anos atendeu a comunidade Rio-verdense. Somos gratos pela família do Seu Jerson, por nos proporcionar essa história.







segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

A praça 13 de maio


 

As praças da minha infância guardam memórias preciosas, e entre elas, a Praça 13 de Maio, cujo nome presta homenagem a uma data marcante na história do século XIX. A época que cito são os meados da década 70, a praça era um lugar pequeno não era um grande espaço, um ambiente aconchegante, onde as brincadeiras e as histórias se entretinham de maneira única. Nesse espaço singular, as lembranças se entrelaçam com as transformações que o tempo impôs, moldando a identidade do local.


Ao contrário de muitas praças, a 13 de maio não ostentava balanços tradicionais, e seus bancos não eram esculpidos em madeira, mas firmemente construídos em cimento. Nas lembranças me veem nesse momento, no local que hoje se encontra o prédio residencial Hibisco, era um enorme buraco, enquanto do outro lado, uma descida íngreme proporcionava aventuras para quem se atrevia a deslizar em carrinhos de rolamento, uma experiência cheia de adrenalina.

Na esquina da praça, situava-se o tradicional Bar da Terezinha, ali os meninos pegavam os carrinhos para vender picolé, "olha picolé e juju..." eram as palavras que ecoavam, pelas ruas. Tempos mais tarde, ao lado do bar testemunharia a ascensão da Churrascaria Fogo de Chão, um ponto de encontro, ali estive algumas vezes, não com tanta frequência como eu gostaria de ter vivido.

Na outra esquina, o Transporte Rodoviário Caçula desempenhava um papel fundamental, realizando muitas entregas pelas estradas de terra da época. Na parte de cima da praça localizava a caixa d'água cachopa, embora não pertencesse à minha época, teve suas histórias contadas através das narrativas de meu pai.


Assim, eu, como um contador de histórias, através das minhas lembranças que trago na memória preservo a herança da Praça 13 de Maio, que merece um cuidado especial, a praça e sua a praça é nossa. Aos que estão chegando, aos que chegaram a pouco, saibam que este lugar foi mais do que um simples endereço. Foi um palco de vivências, um ponto de convergência para gerações passadas e presentes. Ao ler estas palavras, que se entrelaçam com as lembranças desse espaço, você conhece não apenas a geografia física, mas a essência do lugar. Que a narrativa desta praça continue viva em cada história contada, preservando a identidade e a alma desse pedaço especial de nossa cidade.

Para aqueles que não viveram esse período da cidade, através desse relato serve como uma janela para o passado, revelando a essência do lugar que agora chamamos de nosso. Que essas lembranças repercutam através das gerações, conectando-nos com as raízes que moldaram a comunidade que hoje nos acolhe. A praça e sua a praça é nossa.







segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Ali havia um prédio...


 

Ali havia um prédio, um prédio havia ali... uma testemunha silenciosa do tempo que passou, quantas histórias pelos seus corredores foram contadas... Sua bela fachada contava um passado repleto de transformações, uma metamorfose que refletia os diferentes capítulos da cidade.


Inicialmente, o prédio se erguia como um hotel, recebendo viajantes e colecionando narrativas de encontros e despedidas. Em determinado capítulo de sua existência, o prédio se tornou a sede da prefeitura, testemunhando o fervor da política local e as decisões que moldaram a cidade. Sobreviveu à mudança para um local de ensino, abrigando o conhecimento e os sonhos da juventude. O edifício abrigou um colégio, onde gerações de estudantes moldaram seus destinos nos bancos escolares.


Contudo, o tempo não foi gentil com sua estrutura. Ele deveria ser tombado pelo patrimônio, porém, ele foi tombado pelas marretas e retroescavadeira... sua história virou entulho, quem conheceu a estrutura lembra com saudades, quem não viu, fica somente a imagem retratada em fotos antigas... Assim, sua história foi reduzida a escombros, uma memória que permanece viva apenas na mente daqueles que um dia andaram por seus espaços e calçadas. Quem teve a oportunidade de conhecer sua arquitetura imponente recorda com saudades as histórias que ali se desenrolaram.


Entre as lembranças que ecoam pelo tempo, destaca-se o ano de 1977. Naquelas escadas, os peemedebistas conduziram o prefeito Iron Nascimento à posse, marcando um capítulo político na história da cidade Nessa campanha, meu pai era correlegionário do candidato derrotado, Byron Araújo, e as lembranças desse período eleitoral ressoam como vestígios de um passado político que moldou a cidade, os embates entre a ARENA e o MDB, entraram para a história.


As recordações, lembranças e memórias desse prédio refletem um dilema mais amplo. Uma cidade que negligencia a preservação de seu passado corre o risco de esquecer a própria história. Há aqueles que argumenta, “quem vive do passado é museu”, que manter edifícios antigos de pé representa um ônus financeiro para o município, sem contribuir para o desenvolvimento urbano. Contudo, é indispensável frisar que a preservação não é apenas sobre estruturas físicas, mas sobre a identidade e a narrativa que conecta gerações. Aqueles que não preservam seu passado correm o risco de não ter uma história para contar, perdendo a riqueza que a memória oferece.


No entanto, a verdade é que preservar prédios antigos vai além de manter estruturas de pé; é uma declaração de compromisso com a narrativa que moldou o presente. Alegar que tal preservação é onerosa para o município é ignorar o valor cultural que esses monumentos representam.

O desenvolvimento urbano, muitas vezes, é visto como sinônimo de demolir o antigo em prol do novo. No entanto, é preciso questionar se esse progresso desenfreado não resulta em uma perda irreparável. Afinal, quem não preserva, não tem história, e uma cidade sem história é uma cidade sem alma, perdida em um presente temporário e desprovido de raízes. Ali havia um prédio, um prédio havia ali...





terça-feira, 2 de janeiro de 2024

"A Praça dos coqueiros"




Na atualidade, a praça é conhecida carinhosamente como "praça dos coqueiros", embora ironicamente, os majestosos exemplares que a enfeitam sejam, na verdade, palmeiras imperiais. No alvorecer da década de 70, estas árvores majestosas estavam apenas em estágio inicial de desenvolvimento. Contudo, hoje, revelam toda a sua grandiosidade, erguendo-se altas e imponentes.

Naquela época, por entre os arbustos que compunham a paisagem, escondia-se um pequeno lago, testemunha silenciosa das transformações que se desenrolavam na praça. Antes mesmo das fotografias antigas, um coreto embelezava o local, acrescentando um toque de charme e nostalgia à atmosfera.



A praça, ao longo do tempo, foi palco de inúmeras histórias e testemunhou o desenrolar de muitos eventos. Ela guarda em suas raízes não apenas o crescimento das imponentes palmeiras imperiais, mas também as memórias de um passado repleto de vivências e emoções.

 



Naquele espaço público, um banco, paciente e discreto, ouviu inúmeras promessas proferidas por lábios cheios de esperança. Assim, a praça torna-se não apenas um espaço público, mas um capítulo vivido por aqueles que tiveram a oportunidade de experimentar a magia que reside entre seus caminhos. Cada árvore, cada banco, e cada recanto conta uma história, e o eco dessas narrativas repercute na atmosfera serena da "praça dos coqueiros", onde o passado se entrelaça com o presente, e as lembranças florescem como as palmeiras imperiais que agora se erguem imponentes, testemunhando a passagem do tempo.